Feira de Santana

Coronel deixa o comando do CPRL e avalia dinâmica do crime em Feira de Santana: 'A cada ano que passa, temos uma novidade'

Para o coronel Luziel Andrade, esse momento é de alegria por ter alcançado um grande objetivo enquanto oficial da Polícia Militar.

29/01/2021 às 11h16, Por Gabriel Gonçalves

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Gabriel Gonçalves

Após três anos comandando o Comando de Policiamento Regional Leste (CPRL), o coronel Luziel Andrade deixa o cargo e passará a integrar a reserva da Polícia Militar. A exoneração foi publicada no último dia 27 e o novo comandante que foi nomeado pelo governador Rui Costa, é o coronel Nilton Paixão Silva Santos. Luziel concedeu uma entrevista ao Acorda Cidade na manhã desta sexta-feira (29) e fez uma avaliação sobre o trabalho que realizou em Feira de Santana. Ele listou as principais dificuldades e a questão da criminalidade na cidade que segundo ele, perpassa por novas dinâmicas. O comandante, relatou que entrega o CPRL com a sensação de dever cumprido realizando o maior sonho de todo oficial, ocupando o posto de coronel.

"O crime em Feira de Santana é muito dinâmico e a cada ano que passa, temos uma novidade. Quando eu cheguei aqui, já sabia da existência de crimes e furtos de veículos e pudemos observar que antigamente os furtos aconteciam fora, e os veículos eram trazidos para Feira, agora é de Feira para fora, então com essa dinâmica que sempre muda, precisamos também acompanhar cada passo. A quantidade de drogas que foram apreendidas nesse período é muito grande e Feira é o portal para a capital. Tivemos uma grande dificuldade de implantar o sistema aqui, que foi colocado em Salvador sobre o reconhecimento facial, só tivemos esse apoio na Micareta, inclusive mostramos o que tinha que ser feito durante essa festa. Durante a minha gestão, tivemos duas micaretas que o índice de criminalidade foi quase zero, além do apoio das câmeras de monitoramento e a passarela elevada, o que somou de forma muito positiva", destacou.

Com muitas entradas e saídas, Feira de Santana se torna rota de acesso para inúmeros municípios. De acordo com o coronel, não é possível ter apenas uma única estratégia para reduzir o índice de criminalidade na cidade.

"É difícil a gente jogar somente com uma vertente, com tantas tangentes. Ataca uma coisa, mas não ataca outra, melhora um lado, piora o outro. Lembro que fizemos aqui em Feira de Santana um estudo na segurança das escolas, apresentamos isso para o município, mas não houve uma evolução. Porém, a semente está aí, basta alguém olhar, melhorar nesse trabalho e colocar em prática. Na minha concepção, resolvendo os problemas dentro das escolas, evita os conflitos envolvendo os crimes, porque hoje a criminalidade já está chegando até as creches. As vezes as crianças estão brincando, uma cita o nome de uma facção, a outra criança fala outra e gera a briga, então esse 'remédio' precisa ser dado ainda na educação. É importante frisar que são problemas que acontecem não só em Feira de Santana, o povo tem mania de dizer que aconteceu aqui, mas quando vai ver já aconteceu também em outros locais, porque existem cidades muito mais violentas do que Feira de Santana", explicou.

Ainda segundo o coronel, após o início da pandemia, a Polícia Militar imaginou que o índice de criminalidade teria uma redução, quando na verdade os números só fizeram aumentar.

"Aqui na cidade conseguimos uma redução no número de crimes no ano de 2018. Já em 2019, esse número voltou a crescer, foi um ano violento porque houve uma conjuntura do crime com consequências, justamente na tentativa de domínio de facções e não conseguiram essa luta e por isso permanecem até hoje. A pandemia teve início em março do ano passado e lógico, pensamos que teria uma queda do índice de violência, com momentos de mais tranquilidade, mas não foi isso que aconteceu. Vimos aumentar o número de feminicídios, aumentou o número de homicídios e paralelo a isso, detentos foram liberados e há várias discussões que devem ser prolongadas sobre o que realmente deve ser feito", disse.

Durante a gestão como comandante do CPRL, o coronel Luziel Andrade explicou que pensou em implantar um projeto em Feira de Santana em parceria com os conselhos comunitários, como forma de aproximar a comunidade com a segurança pública.

"Desde que vim comandar aqui em Feira de Santana, sempre tive em mente um projeto básico que seria a distribuição dos pelotões das companhias junto com as comunidades. Essa ideia foi a partir de um trabalho desenvolvido com o major Leite, hoje na reserva, no qual ele realizou um trabalho muito bonito com crianças em situações de rua e famílias carentes. Eu sempre entendi que o caminho era a interlocução entre a comunidade e a segurança pública, dando a oportunidade dessas crianças terem um futuro melhor, fugindo da realidade da criminalidade. Tivemos recentemente a morte de um policial militar do estado de Pernambuco e depois tivemos a notícia sobre o toque de recolher no bairro da Queimadinha, mas estamos com tropas especializadas no local e não queremos aceitar esse tipo se situação, a realidade deve ser encarada por todos. É um grupo do mal que quer dominar, mas não vai, porque o grupo do bem é muito maior, então os conselhos comunitários teriam esse papel da interlocução com a segurança pública, como forma de diminuir o índice da criminalidade", relatou.

Critérios para aposentaria de coronel

De acordo com o coronel Luziel Andrade, recentemente a idade máxima para aposentadoria do cargo aumentou para 67 anos. Como o comandante do CPRL não possui a idade alcançada permitida, o coronel foi exonerado pelo tempo de serviço assumindo o posto.

"Nós tínhamos um critério de 60 anos de idade, mas recentemente aumentou para 67, porém temos outro limitador que é de 6 anos no posto de coronel. Como eu fui promovido em 2015, estou completando agora no início de fevereiro os seis anos. Possa ser que essa lei seja modificada, eu que tenho 59 anos, tem muitos oficiais que já estão se aposentando muito mais novos, porque foram promovidos há bastante tempo, mas estes são os critérios para todos os oficiais que estão na ativa", explicou.

Para o coronel Luziel Andrade, esse momento é de alegria por ter alcançado um grande objetivo enquanto oficial da Polícia Militar.

"Graças a Deus, eu posso dizer que estou saindo realizado, porque o sonho de todo oficial que entra na academia de Polícia Militar é chegar ao posto de coronel e tive essa honra, tive essa felicidade e tive a satisfação de comandar duas unidades que eu pleiteava. Uma onde eu passei quase minha vida profissional ao longo da Polícia Militar que foi em Santo Antônio de Jesus e depois aqui na região leste. Estou saindo sem chegar a idade de 70 anos, que assim a lei também determina, próximo dia 10 de fevereiro completo os seis anos e me sinto bastante realizado. Eu acho que fiz parte de um momento muito bom da Polícia Militar e pude amadurecer muito, aprender nesses seis anos de coronel, de modo que estou bastante tranquilo", finalizou.

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