Saúde
Contaminação por variantes em Feira pode estar maior do que a descrita, afirma infectologista
De acordo com Melissa Falcão já foram confirmadas em Feira de Santana as presenças de variantes do coronavírus.
11/05/2021 às 08h09, Por Andrea Trindade
Laiane Cruz
A disseminação de variantes do coronavírus (covid-19) em Feira de Santana, pode estar muito maior do que foi detectado até o momento, Além disso, pacientes cada vez mais jovens continuam sendo internados em estado grave, alguns com tratamento prolongado.
De acordo com a médica infectologista Melissa Falcão, coordenadora do Comitê Municipal de Enfrentamento à doença, apenas quando há um paciente muito grave ou morre está sendo feita a genotipagem e análise do vírus.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
“Não tenho esse quantitativo certo, mas sempre que o paciente vai a óbito, a gente pede pra fazer essa genotipagem, sempre que tem um quadro grave, que não é esperado, por exemplo, em uma pessoa jovem, que não tem nenhuma outra doença associada com um quadro muito grave e precoce, já no início dos sintomas. Esse paciente a gente sinaliza para o Laboratório Central do estado (Lacen), para que faça a genotipagem e análise desse tipo do vírus, para saber se é uma variante ou não”, explicou.
Variantes detectadas
De acordo com Melissa Falcão já foram confirmadas em Feira de Santana as presenças das variantes P.1 de Manaus, a variante africana da Nigéria e variante brasileira B.133, que, segundo ela, apesar de não ser relacionada nos estudos e na mídia como uma variante grave, percebeu-se que as pessoas que tiveram essa variante, identificada na cidade, tiveram quadros graves e com internamento prolongado.
“Pacientes mais jovens estão sendo internados, o que tem o fator da variante e também tem o fator da proteção da vacina nos idosos, que já estão praticamente todos vacinados acima de 60 anos. As variantes têm um potencial maior de causar infecção, então se transmitem com facilidade e têm uma carga viral maior. Isso foi percebido na variante de Manaus, que tem dez vezes mais vírus do que a cepa inicial do coronavírus, ela se dissemina com muito mais facilidade e, por conta disso, acaba também podendo causar um quadro mais grave”, esclareceu a médica.
Apesar da confirmação de novas variantes em Feira, a infectologista destaca que a predominância na cidade é da cepa habitual.
“Mas quando uma nova cepa como essa de Manaus chega na cidade e é considerada comunitária, deve estar circulando muito mais do que detectamos nesse momento. Com o passar do tempo ela acaba ficando predominante nas cidades onde entra.”
Cada variante tem uma diferença em relação ao vírus original, que deu origem à epidemia. E ela tem modificações. As principais mudanças da variante P.1, que está mais difundida no Brasil, é que ela tem uma capacidade maior de se ligar ao corpo, que tem mais dificuldade de conseguir combater esse vírus. “Fazendo uma analogia, é como se ela tivesse uma chave mestre que se liga a qualquer receptor que se encontre na pessoa.O tratamento é igual, independente de qual cepa que tenha sido detectada. A questão é que, às vezes, as pessoas com variantes acabam tendo quadro com maior gravidade”, reforçou Melissa Falcão.
Ela salientou ainda que desde dezembro Feira tem apresentado um aumento do número significativo de internações. Para a especialista, o vírus é extremamente traiçoeiro, porque ele acha uma maneira de reviver e se renovar, causando reinfecção e infectando pessoas vacinas também, mas se espera que seja mais leve.
“Então é importante que mesmo quem já está vacinado com as duas doses, com mais de duas semanas, continue se precavendo, usando máscara, evitando sair desnecessariamente para que não se contamine. Ainda não temos uma resposta 100% dessas vacinas que foram criadas para a cepa inicial com as variantes. Têm alguns estudos que mostram que essas três vacinas que estão disponíveis aqui no Brasil, que são a Pfizer, Coronavac e Oxford, têm uma boa resposta para a variante P.1 de Manaus, mas que não teria uma boa resposta para a cepa do Reino Unido, que também está em circulação na Bahia. Então isso aumenta as chances de uma recontaminação.”
Conforme a infectologista do município, só vai haver uma redução significativa do número de casos na cidade, quando houver a vacinação em massa da população, que tem que estar pelo menos 70% protegida, pra que se possa perceber esse efeito em grande escala.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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