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Conheça a história do vendedor de licuris, uma das figuras populares mais conhecidas de Feira de Santana

Os colares de licuris são chamados também de rosários de licuris, têm a representação de um rosário, um terço e uma prática religiosa católica muito antiga.

24/07/2019 às 14h07, Por Rachel Pinto

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Rachel Pinto

Ainda revivendo a brincadeira: “Diz que é de Feira mas,…” e o texto da professora Alana Freitas da Universidade Estadual de Feira de Santana, um dos assuntos mais comentados e que apresentaram as características da cidade, foi justamente sobre as figuras populares de Feira de Santana. Pessoas comuns que aqui vivem, imprimem suas marcas e suas histórias. “Diz que é de Feira, mas nunca comeu licuri do vendedor de licuris”, foi sem dúvida uma das frases mais marcantes da brincadeira e que mexeu muito com as memórias dos feirenses.

Quem nunca comeu o colar de licuri, já viu por aí e até mesmo ficou curioso para saber quem é o tal senhorzinho que vende licuris há décadas na cidade? Ele faz parte da infância e do imaginário de tantas pessoas, que já se tornou aquela figura popular que basta vê-lo que já é possível acender lembranças e até mesmo um carinho especial sobre o que ele representa para a cultura e história da cidade.

O senhor magro, com a fisionomia fechada, que caminha de uma ponta a outra da cidade, carregando as suas dezenas de colares de licuris e que inclusive muitas pessoas tem receio em aproximar-se para conversar algo mais do que detalhes de uma compra e venda de licuris é o Seu Jorge Barbosa de Oliveira, de 62 anos, natural da Paraíba, que há 36 anos mora em Feira de Santana e ficou conhecido como Jorge do Licuri.

O jeito fechado na verdade é para esconder a sua timidez, mas quando é conquistada a confiança ele mostra toda a sua educação, doçura, suavidade e gentileza. Jorge do Lucuri é daquelas pessoas que vale uma tarde inteira de boa prosa sobre a cidade, a vida e também sobre a fé.

Os licuris

Seu Jorge, praticamente desde que chegou a Feira de Santana que começou a vender licuris. Ele saiu da Paraíba ainda criança. Morou no Ceará por alguns anos, depois foi morar em Petrolina e em 1983 veio para Feira de Santana. Ele já trabalhou consertando equipamentos eletrônicos, em fábrica de metais e foi vendedor de lanches até chegar ao comércio de licuris. Ele conta que um dia estava vendendo pasteis no Centro de Abastecimento, quando viu um senhor vendendo os licuris. Percebeu que muitas pessoas compravam e decidiu então investir no novo produto.

Foto: Gabriel Gonçalves/Acorda Cidade

“Peguei todo o dinheiro que eu tinha no bolso e comprei seis centos de licuri. Comecei a vender os colares e desde então não parei mais. Viajo para Itatim para comprar os licuris e também para a região de Riachão do Jacuípe. Alguns colares já vem prontos e outros eu mesmo faço em casa. Quebro os licuris e vou fazendo os colares aos poucos.Os maiores custam R$10 e os menores R$5”, disse ao Acorda Cidade.

Seu Jorge relata que os colares de licuris são chamados também de rosários de licuris, têm a representação de um rosário, um terço e uma prática religiosa católica muito antiga. O fato de levar o colar no pescoço remete a proteção do rosário e para ele, os colares de licuri carregam além da história, também um pouco da fé e da esperança do povo nordestino.

O licuri é uma palmeira nativa da região da caatinga e o seu coquinho comestível é muito apreciado pelo povo sertanejo. É utilizado no preparo de doces, óleos , cosméticos e bebidas. Seu Jorge do Licuri afirma que vende muitos colares de licuris para crianças, restaurantes e também para turistas.

“O licuri é usado no preparo de peixes, arroz, licores, cuscuz, cozido de caças e também é colocado na cachaça . Feira de Santana é meu ponto certo. Mas, eu sempre vendo em Salvador. Já viajei também para vender no Rio de Janeiro e Brasília. Várias pessoas de outras cidades e até de outros países fazem encomendas dos colares. Me ligam e encomendam a quantidade desejada”, frisou.

Frutos do licuri

O licuri tem muito significado na vida de Seu Jorge. Além de ser seu principal produto de trabalho, seu companheiro diário nas andanças por Feira de Santana, foi o que lhe ajudou a criar seis filhos e a conquistar a casa própria. Ele trabalha todos os dias da semana e diz que o único dia de descanso que tira no ano é a Sexta-Feira Santa.

Foto: Gabriel Gonçalves/Acorda Cidade

“Saio todos os dias por volta das 9h da manhã e fico em vários pontos da cidade. Perto Amélio Amorim, na Getúlio Vargas e no contorno da Santa Mônica. Antes eu vendia a noite, mas ficou perigoso e eu deixei. Antes eu tinha medo de faltar leite para as crianças, mas depois que eles cresceram e começaram a trabalhar também eu deixei. Antes minha renda familiar era toda do licuri e agora que minha esposa se aposentou ela me dá uma força. Graças a Deus foi com o licuri que eu consegui organizar minha vida. Meus filhos acham que eu sou insistente em continuar vendendo, mas eu não viso muito dinheiro, viso um trabalho que seja admirado por outras pessoas, que precisa ser representado. O rosário do coquinho é uma tradição de muitos anos e ninguém quer mais fazer porque é trabalhoso. Mas, eu continuo. Não tem concorrência. A única coisa que me assusta é ter inimigos. Não quero ser inimigo de ninguém. A inimizade gera ambição e para mim isso não existe”, comentou em entrvista ao Acorda Cidade.

Figura Popular

O que deixa Seu Jorge feliz é poder estar perto da família, vender licuri e ser reconhecido pela comunidade enquanto um símbolo da cultura popular. Ele acrescenta que sente muita alegria quando é abordado para dar uma entrevista, tirar uma foto ou simplesmente bater um papo sobre a sua vida.

Embora pareça ser fechado, ele é muito simpático e carinhoso com todos. Muito querido entre os outros vendedores ambulantes, Seu Jorge declara que sente muita gratidão por Feira de Santana e pelo povo da cidade que o acolheu ao longo de mais de três décadas.

“Sou apaixonado por essa cidade e pelo que faço. Eu vou até o fim da vida trabalhando e fico muito grato por todos que estiveram comigo até hoje. Minha família, clientes e amigos. Sou feliz e desejo essa felicidade para todos”, salienta.

Homem de fé

Jorge do Licuri traduz muito bem a essência do povo sertanejo com sua simplicidade, seu jeito forte de ser e a esperança de dias melhores. Homem de muita fé, ele ressalta a importância que Deus tem em tudo que há sobre a terra. Sua história simples e despretensiosa traz reflexões lúdicas sobre cultura, valores e o propósito de vida de cada um. Os coquinhos de licuri são como círculos que representam a vida de tantas outras pessoas anônimas que se cruzam através de sonhos, tristezas e alegrias.

Ele finaliza a entrevista ao Acorda Cidade enfatizando: “Não existe impossível para Deus. A palavra dele é muito maior, a mão dele é muito maior. Se a pessoa tem fé sabe que não há impossível. Basta então acreditar".

Foto: Gabriel Gonçalves/Acorda Cidade

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