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Bahia comemora canonização de Irmã Dulce e religiosos afirmam a importância do legado deixado por ela

Irmã Dulce faleceu em 1992 e em 2010, 18 anos depois quando nós fizemos a exumação do corpo encontramos o corpo dela em estado de mumificação.

16/05/2019 às 13h16, Por Rachel Pinto

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Rachel Pinto

O Brasil e especialmente a Bahia está comemorando a canonização da beata irmã Dulce. Ela nasceu na Bahia e será a primeira mulher nascida no Brasil a ser canonizada. Dois milagres atribuídos a ela foram reconhecidos pelo vaticano e a cada dia surgem mais testemunhos de fé sobre o “Anjo bom da Bahia”, como Irmã Dulce também era conhecida.

Os dois milagres são respectivamente sobre uma mulher no estado de Sergipe que teve 18 horas de hemorragia pós-parto, passou por três cirurgias e o sangramento não parava. Após pedir a intercessão da beata, a hemorragia cessou e a mulher se recuperou. O outro milagre que foi reconhecido em decreto foi de uma pessoa que voltou a enxergar depois de enfrentar uma grave doença nos olhos. Essa pessoa dormiu cega e acordou enxergando.

A informação de que Irmã Dulce será proclamada santa foi divulgada na última terça-feira (14), pelo Vaticano e a notícia foi motivo de alegria para muitas pessoas. Desde religiosos, fieis, comunidade baiana e também todos os integrantes das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), instituição filantrópica que foi fundada pela beata em Salvador no ano de 1959 e atualmente abriga um dos maiores complexos de saúde 100% SUS do país. Atende a idosos, pessoas com deficiência e com deformidades craniofaciais, pacientes sociais, pessoas em situação de rua, usuários de substâncias psicoativas e crianças e adolescentes em situação de risco social.

O arcebispo de Jequié, Dom Rui Lopes foi uma das pessoas que participou da equipe responsável pela exumação do corpo de Irmã Dulce, Em entrevista ao Acorda Cidade ele contou como foi vivenciar esse momento e deu detalhes sobre a vida da beata e o seu trabalho em prol do amor ao próximo, da prática do bem e da solidariedade.

Dom Rui frisou que a Bahia vive um momento de muita a alegria com a canonização da beata e com os testemunhos de todas as coisas boas que aconteceram e foram atribuídas a ela.
Segundo ele, o fato surpreendente é que quando foi feita a exumação, o corpo de irmã Dulce estava muito preservado, suas vestes estavam intactas e a medalha da Imaculada Mãe de Deus usada por ela não tinha nenhum sinal de ferrugem ou desgaste do tempo.

“Irmã Dulce faleceu em 1992 e em 2010, 18 anos depois quando nós fizemos a exumação do corpo encontramos o corpo dela em estado de mumificação. O interessante é que naquela época ainda era possível observar aquele procedimento cirúrgico denominado traqueostomia, que ela fez quando ficou muito tempo na UTI com alimentação via parenteral. No seu pescoço ainda era possível observar ali as marcas da traqueostomia cirúrgica e foi um fato que realmente nos impressionou, muito embora a igreja seja prudente.

Um fato singelo, muito bonito e profundo aconteceu é que havia naquela época uma senhora que trabalhava nas Obras Sociais Irmã Dulce chamada Iraci e dona Iraci se parecia em tudo com Irmã Dulce. A fisionomia, o corpo franzino e o amor ao próximo. Quando ela viu o corpo de irmã Dulce mumificado, aquela cor morena, quase negra, então ela virou-se para mim e disse: ‘Frei ela está da cor das pessoas que ela amava e acolhia’. Eu achei aquele depoimento tão bonito que imediatamente eu pedi a secretária que registrasse em ata que irmã Dulce, realmente o seu corpo estava da mesma cor de tantas pessoas pobres que ela amava e acolhia”, relatou.

Para Dom Rui, o maior milagre de Irmã Dulce é o hospital e as obras sociais fundadas por ela que já atenderam e atendem muitas pessoas necessitadas. Ele salientou que a beata era tão pequena em estatura, tão simples em conhecimentos intelectuais, mas possuía uma alma gigante, capaz de sinalizar o amor de Deus e todo o significado que o bem e do amor.

“O amor nuca morre e o bem prevalece. Por mais simples, por mais frágil que seja alguém. Se essa pessoa tem fé e ama sinceramente de coração a Deus e ao seu próximo, muitos milagres, muitas coisas boas acontecem, é o grande sinal de Deus”, acrescentou.

Dom Rui explicou como procedeu a exumação do corpo da beata e os protocolos seguidos pela igreja que inclusive envolveram juramento e o seguimento das normas canônicas da igreja.

“O corpo inicialmente foi sepultado na Basílica da Conceição da Praia. Cerca de cinco anos depois, esse corpo foi transladado para a capela do Hospital Santo Antônio e então naquele dia 27 de maio de 2010 eu tinha uma nomeação cardeal Dom Geraldo Magela para ser seu delegado. Conduzir esse processo e então fiz um juramento de fidelidade a ele e a igreja, dizendo que conduziria todo esse processo de exumação canônica do corpo de Irmã Dulce conforme as normas canônicas da igreja e em seguida eu fiz uma celebração em uma capela para receber também essa promessa de fidelidade do médico legista que faria a autópsia do corpo, do pedreiro e também da secretária que lavraria a ata da exumação. No dia 27 a noite nos fizemos um rito de oração , adoramos o santíssimo sacramento, depois incensamos o túmulo e então eu autorizei ao pedreiro que quebrasse o túmulo, que violasse o selo que estava no caixão com o brasão de Dom Geraldo Magela. Em seguida autorizei ao médico legista que começasse então a perícia no corpo que iniciasse a pré-autopsia”, relembrou.

A proclamação a santa de Irmã Dulce na opinião de Dom Rui, representa a fé extrema a Deus e ao próximo. Ele pontuou que essa fé pode acontecer em todo lugar e há muitas pessoas que agem como instrumentos de Deus na Terra. Irmã Dulce foi uma delas e de forma canônica e em nome de toda a igreja católica esse reconhecimento foi feito. Para ele, a beta foi um grande exemplo a ser seguido e todas as pessoas podem dar o seu testemunho a partir do momento que seguem a Deus e têm amor ao próximo.

A sobrinha de Irmã Dulce, presidente das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). Maria Rita Pontes, que tem o mesmo nome de batismo da tia, contou ao Acorda Cidade que a instituição recebeu com muita alegria a notícia da canonização e isso reforça ainda mais o legado deixado pela beata. Mostra que ela está cada vez mais viva assim como a lição que ela deixou de amar e servir ao próximo continua muito firme.

“Para nós baianos, principalmente ela já era santa. Santa em vida pelo trabalho que deixou, pelo seu exemplo, pela sua obra que continua cada vez mais viva e como ela dizia, ‘esta obra não é minha, é de Deus e tudo que é de deus permanece para sempre’. Eu acho que a sua canonização é muito importante para a continuidade desse trabalho e para o crescimento. Vai dar muita visibilidade. Tenho certeza de que mais pessoas conhecendo de perto o legado que ela deixou a gente consiga o maior número de ajuda, de doações para manter muito consolidada a sua obra hoje e no futuro”, concluiu.

Saúde frágil que não impedia de trabalhar em prol dos mais necessitados

A saúde frágil e o fato de ser acometida por um enfisema pulmonar nunca foram motivos que impediam Irmã Dulce a ajudar os que mais precisavam. A religiosa começou a praticar a caridade aos 13 anos, entrou para o convento com 19 anos de viveu 77 anos a trajetória do amor ao próximo. Irmã Dulce tinha 70% da capacidade respiratória comprometida e chegou a pesar 38 quilos.

Foto: Divulgação

Aos 13 anos, acolhia mendigos e doentes em sua casa. Nessa época, sua residência ficou conhecida como ‘A Portaria de São Francisco’, devido ao número de pessoas carentes que chegavam ao local. Irmã Dulce chegou a invadir cinco casas na região da Ilha dos Ratos em Salvador para abrigar os doentes que recolhia nas ruas. Foi expulsa do lugar e por dez anos peregrinou com os doentes, levando-os para vários. Chegou inclusive a ocupar um galinheiro ao lado do convento, com autorização da sua superiora, para abrigar os primeiros 70 doentes. Hoje, no local, está o Hospital Santo Antônio, o maior da Bahia.

Irmã Dulce também cumpriu uma promessa em prol da saúde de sua irmã Dulcinha e por 30 anos dormiu sentada em uma cadeira de madeira.

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