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Agentes da PRF quiseram fazer de Genivaldo de Jesus Santos um George Floyd à sergipana

Na cena do assassinato, um sobrinho dele alertava aos policias aos gritos de que ele era um esquizofrênico.

27/05/2022 às 09h44, Por Acorda Cidade

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Foto: Reprodução

Por Jozaildo Lima, JL Política

A nenhum de nós que transitamos, vivemos e respiramos é possível assistir ao assassinato em plena via pública da cidade de Umbaúba do cidadão Genivaldo de Jesus Santos, 38 anos, por três policiais rodoviários federais lotados em Sergipe sem se horrorizar. Sem se indignar ao máximo.

Porque nada vezes nada justifica aquela morte. Nada justifica, sobretudo, a ação truculenta de três homens públicos contra um cidadão comum, desarmando e clinicamente atestado como portador de esquizofrenia.

Mais ainda: não há como se justificar o condimento nazifascista de sacudir uma pessoa amarrada pelos pés e pelas mãos no porta-malas de uma viatura da PRF, deixar apenas os pés de fora, baixar a tampa sobre as pernas e abrir um gás asfixiante contra ela.

A intenção era mesmo a de matá-lo? Claro: só pode. Ninguém acalma ninguém sob um jato de fumaça – seja lá de que origem for ela – e ainda mais em um local fechado.

Não é sem causa que o Instituto Médico Legal de Sergipe atesta que Genivaldo de Jesus Santos morreu como consequência de uma asfixia mecânica e por insuficiência respiratória aguda. São chocantes, na cena, os jatos de fumaça sobre ele e os seus gritos de desespero. Mais, ainda, os gritos e palavrões dos PRFs momentos antes, durante a abordagem.

Ora, diante de tudo isso só nos resta a perplexidade insanável de saber que os agentes da PRF são pessoas bem concursadas, supostamente bem preparadas, bem pagas (com o meu e o seu dinheiro) e jamais poderiam agir com tamanho despreparo contra a vida de alguém.

Como agentes públicos, eles devem saber que ninguém é criminoso apenas por estar conduzindo um veículo sem a devida documentação – origem da abordagem à vítima.

Como agentes públicos, lhes faltou o mínimo preparo para saber como lidar com uma pessoa com o diagnóstico de esquizofrenia, para quem o mínimo de espanto pode resultar na máxima perturbação, nas mais variadas alucinações e em múltiplos delírios.

E não foi por falta de aviso de que Genivaldo era pessoa assim, esquizofrênica. Na cena do assassinato, um sobrinho dele alertava aos policias aos gritos de que ele era um esquizofrênico. Havia inclusive no bolso da vítima uma cartela da medicação que usava.

De modo que essa ação insana, inconsequente e desmedida dos três membros da PRF nos coloca cara a cara com uma dúvida atroz: afinal, no centro daquela cena dantesca, quem de fato era mesmo o esquizofrênico?

Era o cidadão Genivaldo de Jesus Santos, devidamente diagnosticado portador dessa síndrome, dessa doença, ou os três assassinos que passaram pelos rigores dos psicotestes ao ser chamados para uma carreira pública?

Ao ver as cenas desde o chão, onde é imobilizado com joelhadas no pescoço até o coquetel de fumaça ao qual é submetido Genivaldo de Jesus Santos, parece estar patente que os agentes da PRF queriam gerar em solo sergipano uma espécie de George Floyd, o negro americano que foi assassinado por estrangulamento pelo policial branco Derek Chauvin no dia 25 de maio de 2020.

De Minneapolis, a imagem de Derek Chauvin ajoelhado sobre o pescoço de Floyd durante uma abordagem por ele supostamente usar uma nota falsificada de US$ 20 em um supermercado correu mundo e chocou meia humanidade. Mas parece que não serviu de exemplo.

O caso George Floyd, infelizmente, veio renascer na simplória Umbaúba sergipana e contra a vida do pacato e anônimo cidadão Genivaldo de Jesus Santos. Óbvio: ele não merecia aquilo. A esposa e a filhinha dele não mereciam aquilo.

Sergipe certamente não gostaria de ir parar no noticiário do mundo a partir dessa máxima mácula. A PRF, também por óbvio, não precisava agir tão atabalhoadamente desumana assim.

Portanto, não é possível que tanta iniquidade não nos sacuda e não nos tire do chão das nossas indiferenças diárias. É preciso, com urgência, reeducar a polícia e os policiais para abordar pessoas pensando em preservar a vida delas e não em oferecer a morte como uma opção compulsória.

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