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IBGE: entre 2019 e 2020, setor cultural baiano perdeu 17,6% dos empregos e foi mais afetado do que a média do mercado de trabalho

Porto Seguro está entre os 10 municípios brasileiros com maior atratividade cultural; Bahia tem 26 cidades com atratividade cultural acima do esperado.

08/12/2021 às 10h33, Por Andrea Trindade

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Entre 2019 e 2020, o mercado de trabalho na Bahia viu o número de pessoas ocupadas ter uma queda recorde e chegar a seu menor patamar desde 2014. Nas atividades ligadas à cultura não foi diferente, mas a perda de trabalho foi ainda intensa nesse setor.

No ano passado, havia 218 mil pessoas ocupadas no setor cultural baiano. Esse grupo encolheu 17,6% (menos 47 mil trabalhadores) frente a 2019, quando 265 mil pessoas estavam ocupadas em atividades ligadas à cultura, no estado.

Considerando-se toda a população ocupada na Bahia, houve recuo de 14,1% entre 2019 e 2020, com o total de trabalhadores no estado passando de 5,9 milhões para 5,1 milhões (menos 839 mil pessoas em um ano).

A combinação desses dois movimentos fez a participação da cultura na geração de trabalho na Bahia ter uma discreta redução, de 4,4% para 4,3% do total de ocupados, entre 2019 e 2020. As informações são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE.

Ocupação no setor cultural é mais feminina e escolarizada, mas tem grau de informalidade mais alto e rendimento mais baixo que a média

Entre as pessoas ocupadas no setor cultural, na Bahia, em 2020, a maior parte eram mulheres (57,6%); pessoas pretas ou pardas (80,1%); de 30 a 49 anos de idade (52,1%); com ensino médio completo ou superior incompleto (60,4%); e que estavam na informalidade (60,7%).

Na comparação com o total de ocupados no estado, o perfil dos trabalhadores da cultura se distinguia por ser bem mais feminino – elas eram 57,6% na cultura, frente a 41,5% do total de pessoas ocupadas – e escolarizado: 79,8% dos trabalhadores da cultura tinham ao menos o ensino médio completo, frente a 59,1% dos ocupados em geral. Era, porém, mais marcado pela informalidade do que a média: 60,7% dos que trabalhavam na cultura eram informais, frente a 51,2% no total de ocupados.

A alta informalidade certamente contribuía para que os trabalhadores do setor cultural tivessem um rendimento médio mensal mais baixo do que o total de ocupados no estado: R$ 1.246 frente a R$ 1.782 (-30,1%).

E, apesar de serem minoria entre os trabalhadores do setor cultural baiano, os homens ganhavam, em média 41,7% a mais que as mulheres: R$ 1.499 frente a R$ 1.058. A desigualdade salarial por sexo era bem mais expressiva nas atividades da cultura do que entre os trabalhadores em geral: no total de ocupados no estado, os homens ganhavam 28,2% a mais que as mulheres (R$ 1.957 frente a R$ 1.526).

A diferença do rendimento por cor ou raça quase não existia entre os trabalhadores da área cultural na Bahia. Nesse setor, brancos ganhavam em média R$ 1.237, e pretos ou pardos, R$ 1.230. Considerando o total de ocupados, os pretos ou pardos ganhavam, em média, 42,2% menos do que os brancos (R$ 1.567 frente a R$ 2.710).

O rendimento médio dos trabalhadores da cultura na Bahia (R$ 1.246) era, em 2020, o quarto mais baixo do país, superando apenas os registrados em Alagoas (R$ 1.087), Piauí (R$ 1.135) e Maranhão (R$ 1.243). Os maiores rendimentos estavam em São Paulo (R$ 3.420), Distrito Federal (R$ 3.398) e Rio de Janeiro (R$ 3.037).

 

 

Em 2020, impulsionado pela Lei Aldir Blanc, investimento estadual em cultura cresceu 52,4% na BA, foi o maior em 10 anos e o 2º mais alto do país

No ano de 2020, mesmo com a pandemia de COVID-19, que afetou bastante o setor cultural, os investimentos públicos estaduais em cultura, na Bahia, cresceram 52,4% em relação a 2019, chegando a R$ 250,5 milhões, frente ao valor de R$ 164,4 milhões no ano anterior (mais R$ 86,1 milhões).

Esse aumento no investimento estadual se deu, em grande medida, graças ao advento da Lei nº 14.017, mais conhecida como Lei Aldir Blanc, que previa auxílio emergencial ao setor cultural, determinando o repasse de R$ 3 bilhões aos estados e municípios. Todas as 27 unidades da Federação apresentaram aumento no investimento estadual em cultura na passagem de 2019 para 2020.

O valor investido pelo governo estadual baiano no setor no ano passado (R$ 250,2 milhões) também foi o maior desde o início da série histórica dessa informação, em 2009, depois de ter chegado ao menor patamar em 2019.

O crescimento absoluto no investimento estadual em cultura, na Bahia, entre 2019 e 2020 (+R$ 86,1 milhões) foi o quinto maior do país no período, atrás de São Paulo (+R$ 216,9 milhões), Minas Gerais (+R$ 115,4 milhões), Goiás (+R$ 88,5 milhões) e Rio de Janeiro (+R$ 86,2 milhões).

Com esse aumento, a Bahia voltou a ser, em 2020, a segunda unidade da Federação cujo governo estadual mais investia em cultura no país, ultrapassando o Distrito Federal (R$ 179,1 milhões), e ficando atrás apenas de São Paulo (R$ 999,2 milhões).

O investimento estadual da Bahia em cultura representou, em 2020, 7,0% do total despendido pelos governos estaduais em todo o país (R$ 3,6 bilhões).

Os dados são da Secretaria do Tesouro Nacional, do Ministério da Economia.

Por outro lado, a Bahia registrou o maior recuo absoluto do país nos investimentos municipais em cultura, entre 2019 e 2020. O valor investido pelos municípios baianos no setor cultural caiu quase pela metade, de R$ 429,4 milhões para R$ 227,4 milhões, em uma redução absoluta de menos R$ 202,0 milhões em um ano (-47,1%).

A queda percentual (-47,1%) foi a segunda maior do país, inferior apenas à registrada no Amapá (-77,2%). Dos 26 estados, apenas 6 registraram crescimento no investimento municipal em cultura, de 2019 para 2020.

Em apenas um ano, a Bahia caiu da 3ª para a 8ª posição no ranking de maiores investimentos municipais em cultura. São Paulo liderava, com R$ 1,6 bilhão, seguido de Minas Gerais (R$ 569,7 milhões) e Rio de Janeiro (R$ 334,2 milhões).

Entre 2019 e 2020, o número de projetos culturais baianos aprovados no programa nacional de incentivo à cultura teve um leve crescimento frente ao ano anterior, de 25 para 29. Porém, ainda foi menos da metade do verificado em 2011, ano em que o estado teve 68 projetos aprovados, maior número de sua série histórica, segundo informações do Ministério da Cultura.

No ano passado, o valor captado pelos projetos baianos foi da ordem de R$ 8,5 milhões, 41,2% acima de 2019 (R$ 6,0 milhões), mas 59,2% menor do que em 2010, ano do maior valor captado no estado (R$ 20,9 milhões).

Entre 2009 e 2019, número de unidades locais de empresas do setor cultural caiu 12,4% na Bahia, de 14.447 para 12.662

Mesmo antes da pandemia, o setor empresarial ligado à cultura já vinha encolhendo na Bahia, assim como na maior parte dos estados.

De acordo com o Cadastro Central de Empresas (CEMPRE), do IBGE, em 2019, a Bahia contava com 12.662 unidades locais de empresas ligadas ao setor cultural, sendo o 7º estado no ranking nacional. Frente a 2009, quando esse número chegava a 14.447 unidades locais, houve uma queda de 12,4%, o que representou menos 1.785 empresas culturais atuando no estado, em dez anos.

A Bahia foi o quinto estado que mais perdeu empresas do setor cultura no período, à frente de São Paulo (-17.257), Minas Gerais (-5.030), Rio Grande do Sul (-4.197) e Rio de Janeiro (-2.444).

No Brasil como um todo, também houve queda do número de unidades locais de empresas do setor cultural, de 397.894 em 2009 para 365.817 em 2019 (menos 32.077 unidades locais, ou -8,1% em dez anos).

O setor empresarial ligado à cultura cresceu em 10 das 27 unidades da Federação, entre 2009 e 2019, com os maiores aumentos absolutos registrados em Piauí (+346), Espírito Santo (+240) e Alagoas (+196).

Porto Seguro está entre os 10 municípios brasileiros com maior atratividade cultural; Bahia tem 26 cidades com atratividade cultural acima do esperado

Em 2018, Porto Seguro, no Sul da Bahia, era o 8o município brasileiro com maior atratividade específica para questões culturais.

Municípios com alta atratividade específica para atividades culturais têm nessas atividades a principal ou uma das principais motivações para atrair deslocamentos de moradores de outros lugares, sendo a cultura parte importante do papel desses municípios no conjunto da rede urbana.

Os dados são da pesquisa sobre Regiões de Influência das Cidades (REGIC), do IBGE, que, em 2018, investigou para onde a população de cada município brasileiro se dirigia em busca de “shows, festas, festivais, cinemas, teatros, museus e outras atividades culturais”.

Em Porto Seguro, a atração de população residente em outros municípios para atividades culturais só era inferior à atração para uso do aeroporto. As demais motivações para deslocamento até o município não chegavam à metade da atração que as atividades culturais apresentavam em 2018. Moradores de 22 municípios baianos e de 13 cidades de outros estados (principalmente mineiras) mencionaram Porto Seguro como destino para atividades culturais.

Os municípios com a maior atratividade específica para questões culturais, naquele ano, eram Balneário Camboriú/SC, Crato/CE e Parintins/AM.

Além disso, a REGIC também tratou sobre municípios com atratividade para cultura maior do que a esperada. Essas cidades fogem à regra de que quanto maior o número de pessoas ocupadas em atividades econômicas ligadas à cultura, maior a atração de população de outros municípios que se deslocam buscando atividades culturais.

A Bahia possuía 26 municípios com atratividade para a cultura maior que a esperada, sendo o terceiro estado com mais cidades nesse ranking, atrás de Minas Gerais (37) e São Paulo (36). E Salvador é a terceira cidade do país com a atratividade para cultura maior do que a esperada, abaixo apenas de Belém/PA e Porto Alegre/RS.

O estado ainda tem outros três municípios entre os 50 maiores do país nesse indicador: Vitória da Conquista (16º), Feira de Santana (32º) e Ilhéus (47º).

Confira a seguir a tabela com os municípios baianos com atratividade cultural acima da esperada:

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