Câncer de Mama

Mastologista reforça importância da mamografia no rastreamento do câncer de mama

O exame é fundamental na prevenção ao câncer de mama e novos equipamentos já facilitam a realização dele.

27/07/2021 às 17h43, Por Gabriel Gonçalves

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Laiane Cruz

Quatro em cada 10 mulheres de 50 a 69 anos, faixa etária recomendada pelo Ministério da Saúde para a mamografia, não fizeram o exame. Os dados são da última Pesquisa Nacional em Saúde realizada pelo IBGE, que concluiu que muitas dessas mulheres deixam de realizar o exame por medo da dor. O caso é que este exame é fundamental na prevenção ao câncer de mama e novos equipamentos já facilitam a realização dele.

Em entrevista ao Acorda Cidade, a médica mastologista do GBO (Grupo Baiano de Oncologia), Jéssica Portela, esclareceu dúvidas e mitos sobre o exame.

Acorda Cidade: Por que algumas mulheres têm receio ainda em fazer o exame de mamografia?

Jéssica Portela: Infelizmente, hoje em dia a mulher ainda tem esse medo associado primeiro à dor que muitos falam. Durante o exame é necessário uma compressão pra poder fazer umas imagens adequadas. Infelizmente algumas têm um pouco de receio devido à sensibilidade da mama. Outras também se queixam muito em relação à radiação da mamografia, têm medo de que fazendo mamografia todo ano vai aumentar o risco de ter câncer ou de alguma outra doença associada à radiação, mas hoje em dia a gente sabe que essa radiação é segura. Então não tem nenhuma contraindicação e é seguro sim fazer a mamografia anualmente, a partir dos 40 anos, pela Sociedade Brasileira de Mastologia, e o Ministério da saúde, eles orientam a partir dos 50 anos.

Acorda Cidade: É necessário a compressão na mama para se ter um exame perfeito?

Jéssica Portela: A mamografia é feita a partir do aparelho do mamógrafo, em que ele emite Raio X e pode ultrapassar a mama e formar a imagem na placa. A espessura da mama não pode estar muito grande, porque isso vai atrapalhar a formação das imagens. Então a compressão vai diminuir a espessura da mama para melhorar a qualidade dos exames. Hoje em dia, no entanto, alguns aparelhos, não necessitam dessa compressão tão grande por causa mesmo da tecnologia desses equipamentos e essa compressão é mais rápida do que os aparelhos antigos. Então tendem a ter menos desconforto do que em outros aparelhos.

Acorda Cidade: O GBO tem um equipamento pra mamografia que ajusta a mama do paciente e tem um exame mais confortável. Esse equipamento é mais novo?

Jéssica Portela: Esses equipamentos mais novos não têm a necessidade dessa compressão tão grande, então acaba deixando o exame mais confortável, fazendo com que as pacientes não tenham medo de realizar os exames e têm se referido, sim, à melhora do desconforto ultimamente. Isso encoraja a mulher a manter seus exames em dia. Com exames mais confortáveis, sem dúvida, vai ter o aumento do número de pacientes procurando as clínicas pra poder fazer a realização do rastreio do câncer de mama.

Acorda Cidade: A senhora tem dados em relação ao câncer de mama no Brasil?

Jéssica Portela: Infelizmente o câncer de mama no Brasil vem aumentando. Até recentemente, a OMS informou que a doença ultrapassou o câncer de pulmão e hoje em dia é o câncer com maior incidência no mundo. E isso se deve muito, primeiramente, que as pacientes têm vivido mais, então a gente sabe que a expectativa de vida da mulher vem aumentando. Quanto mais idosa maior a chance de ter câncer de mama. Outro fator que vem aumentando é devido aos hábitos de vida, infelizmente na correria do dia a dia, a gente está se alimentando cada vez menos, realizando menos atividade física, mulheres estão engravidando mais tarde, então acaba que isso também é um fator de risco para o câncer de mama. Uma série de fatores está levando a um aumento do câncer de mama, e isso vem preocupando a gente, já que infelizmente, principalmente durante essa pandemia houve uma diminuição da procura dessas pacientes para realização dos exames de rastreio. Então, se o câncer veio aumentando, o ideal é que a gente consiga diagnosticar ele logo no início, através desses exames de rastreio para assim essas pacientes terem um melhor diagnóstico, um tratamento mais tranquilo, e aumento a taxa de cura delas.

Acorda Cidade: É possível evitar o câncer de mama?

Jéssica Portela: Existem fatores que a gente fala que são, exatamente, de risco, e que a gente consegue evitar ou diminuir esses fatores. Zerar não consegue, mas diminuir, em relação à atividade física, evitar a ingestão de bebidas alcóolicas, a gente sabe que a amamentação é um fator de proteção, então quanto mais você amamentar, mais você vai reduzir seu risco de câncer de mama. Obesidade também é um fator que aumenta o risco de ter câncer de mama. Então a partir do momento que a gente consegue diminuir esses fatores, a gente acaba diminuindo nosso risco, mas claro, não tem como eu lhe dizer que a gente vai zerar, porque tem outros fatores também que são fatores que a gente não consegue modificar, como a história familiar. Às vezes, tem pacientes com hábitos saudáveis, mas já têm uma história familiar mais forte, ou então mulheres que por algum motivo não engravidaram ou tiveram uma menstruação mais cedo – isso também pode influenciar. Esses fatores, infelizmente, a gente não consegue mexer, mas o que a gente consegue, a gente deve sim focar neles, pra diminuir o nosso risco.

Acorda Cidade: O tratamento do câncer hoje evoluiu muito na parte não só de medicamentos como equipamentos também, não é?

Jéssica Portela: Exatamente. O câncer de mama, o tratamento hoje, a gente fala que é multidisciplinar. Então assim, tem em relação às cirurgias, hoje em dia a gente, cada vez mais, faz cirurgias menos agressivas, como era antigamente, então a gente consegue fazer cirurgias conservadoras, ou seja, tirar um nódulo, com segurança, sem precisar tirar toda a mama. Em relação à quimioterapia, hoje em dia a gente já consegue indicar melhor as substâncias pra cada tipo de câncer. Tem pacientes que, às vezes, o estágio é tão inicial que não precisa fazer quimioterapia. Cada dia a ciência descobre novos medicamentos mais seguros e mais adequados para o tratamento do câncer de mama, e até mesmo em relação à radioterapia, aqui no Unacon a gente tem um aparelho que consegue fazer o tratamento de radioterapia mais adequado tendo menos sequelas durante o tratamento. Então claro que hoje em dia o câncer de mama, assim como outros, as pacientes têm muito medo, não é uma doença fácil de ter um diagnóstico, mas o tratamento, cada dia mais está menos agressivo, trazendo melhor qualidade de vida pra essas pacientes e claro que também tratando o câncer com segurança.

Acorda Cidade: O tempo de exame continua sendo anual a recomendação?

Jéssica Portela: A Sociedade Brasileira de Mastologia, de Radiologia e também a de Ginecologia e Obstetrícia indicam o rastreio a partir dos 40 anos até os 74 anos de idade, anualmente. E a partir dos 74, a gente faz a avaliação individualmente de cada paciente pra ver o benefício ou não de manter esse rastreio com mamografia. No entanto, tem alguns casos de pacientes que a gente considera de alto risco, que devem fazer o exame de mamografia às vezes até mesmo antes dos 40. Em alguns casos já é indicado mamografia a partir dos 30 anos, mas isso acontece em alguns casos específicos. Por isso que eu sempre digo que é importante uma avaliação com mastologista pra gente poder fazer a avaliação individual de cada paciente, saber dos seus riscos e fazer um rastreio mais adequado pra esse paciente. Mas atualmente é indicada a mamografia anualmente a partir dos 40 anos. O Ministério da Saúde e o INCA também orientam a partir dos 50 anos. Os artigos mais recentes, porque assim, querendo ou não o Ministério da Saúde eles vão muito avaliar a parte do rastreio mais populacional, vendo o benefício em relação aos custos do Ministério da Saúde pra poder fazer ou não essa mamografia a partir dos 40 anos. Então acaba que eles, no protocolo deles, são a partir dos 50 anos, mas atualmente pela Sociedade de Mastologia, pelos artigos mais recentes, a gente já começa a fazer a partir dos 40 anos, pois essas pacientes têm maior benefício. Ainda mais que hoje em dia, infelizmente, a gente tá vendo cada vez mais diagnósticos de câncer de mama em pacientes mais novas, pacientes abaixo de 40 anos, então isso acaba chamando mais nossa atenção.

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