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Das coisas que aprendi nos discos: Especial O Clube dos 27 - Jim Morrison, 1943/1971

Todos os textos da série “Das coisas que aprendi nos discos” são encontrados na editoria Artigos e Crônicas.

30/01/2021 às 10h12, Por Laiane Cruz

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Por Carlos H. Kruschewsky*

 

LP: Strange Days – The Doors

“People are strange, when you’re a strange

Faces look ugly, when you’re alone

Women seem wicked, when you’re unwanted

Streets are uneven, When you’re down”

People Are Strange – The Doors

James “Jim” Douglas Morrison, nascido em Melbourne (nos Estados Unidos da América) no dia 8 de dezembro de 1943. Há de se ter algum cuidado ao falar do Morrison, afinal Jim é tão famoso quanto sua banda, o The Doors, e acumula fãs fiéis até hoje, 50 anos depois da sua morte. É engraçado pensar nisso, o próprio Jim pensava em si mesmo como uma pessoa indesejada. Eu posso acrescentar 2 outros adjetivos. Brilhante e estranho. Aos 6 anos Jim escrevia poesias de alguma complexidade, mas ao passo que carregava esta sensibilidade, também carregava em si um desejo constante pela selvageria. Por diversas vezes Jim foi preso, a primeira delas ainda no início da adolescência por roubar o cacetete e o cap de um policial.

Jim era filho de funcionários da Marinha Americana. Ambos eram muito conservadores e rigorosos. Fizeram tudo que foi possível para que Jim tivesse um comportamento exemplar (seja lá o que for isso), ele foi até escoteiro, mas acabou assumindo características completamente antagônicas aos seus pais. Jim costumava dizer que um dos eventos mais marcantes de sua história havia acontecido numa viagem de carro com seu pai e seu avô, por uma estrada que cortava o deserto. Dizia que aquela foi a primeira vez que ele havia tido contato com a morte. Um caminhão carregado de Índios havia se chocado com uma viatura, e ele viu todos aqueles corpos espalhados na estrada em meio a uma “tinta vermelha estranha” Morrison dizia que não entendia a gravidade daquela situação, mas entendia que era alguma coisa grave, pois percebia a vibração das pessoas, como se as almas daqueles índios mortos viessem saltitando para dentro dele. A primeira vez que teve medo. Ele tinha apenas 4 anos. Seus pais nunca confirmaram esta história, mas Jim sempre dizia que eles estavam chocados demais com o acontecimento para se recordarem como ele.

Apesar de seu comportamento transgressor, Jim lia muito. Sua obra inteira era influenciada por filósofos e poetas como o alemão Friedrich Nietzsche e o francês Arthur Rimbaud, principalmente quando escrevia sobre moralidade e dualidades em poesias e canções. Formou-se em Cinema na Universidade da Califórnia em Los Angeles, e foi no meio disso tudo, devorando livros, perambulando pelas ruas e dormindo em todo tipo de lugar, entre bebedeiras e confusões conheceu Ray Manzarek. Era sempre um grande perigo andar com Jim Morrison, afinal de contar todos concordavam que as coisas que o rapaz escrevia e dizia eram incríveis, mas a devastação que Jim trazia, muitas vezes não valia o custo da amizade. Ainda assim, Ray, junto com Robby Krieger e John Densmore (conhecidos de Ray das aulas de meditação), decidiram fundar uma banda de Rock em 1965. O nome veio do livro de Aldous Huxley, as portas da percepção (The Doors of Perception, o nome do livro fazia referência a um poema do autor William Black que dizia: Se as portas da percepção estiverem limpas, todas as coisas se apresentarão ao homem como são. Infinitas.). O The Doors era uma banda incrível e tinha um som tão singular que costumavam dizer que era impossível de ser copiada. Funcionava com esses 4 caras, simplesmente por que eram essas 4 pessoas pensando juntas. As performances de Jim no palco eram igualmente icônicas, e mais de uma vez ele foi preso e impedido de continuar o show. Algumas histórias eram contadas como o Casamento de Jim Morrison num ritual de magia da cultura celta; ou quando Jim mostrou os genitais num show em Miami, o que lhe rendeu processos diversos. Mas foi quando Jim conheceu Pamela Courson que as coisas ficaram realmente bizarras.

Sabe quando duas pessoas se encontram, e já se sabe que elas juntas, tem o potencial de acabar com o mundo? O Rock tem uma série de casais como esse. Sid e Nancy, Kurt e Courtney, Lennon e Yoko (esse último na verdade queriam até salvar o mundo, mas acabou com o Beatles, então vou pôr na conta do “fim do mundo”). Assim era Jim e Pamela. Juntos eles entraram cada vez mais fundo num universo regado a álcool, drogas, orgias, violências e traições. Ter Jim Morrison por perto era sinal de confusão na certa, Pamela sabia disso, e diferente do resto, que tentavam manter uma distância segura, Pamela e Jim mergulhavam cada vez mais fundo no turbilhão. No dia 03 de julho de 1971, Pamela encontrou Jim morto na banheira de seu apartamento em Paris. Morto aos 27 anos de idade. O corpo nunca passou por uma autópsia, então até hoje não se sabe a causa da morte. Especula-se que Jim tenha morrido por conta de uma Overdose de Heroína (assim como Janis Joplin). Pamela, herdou toda a fortuna de Morrison, mas após a morte de seu amado, entrou numa depressão tão grande e foi encontrada morta 4 anos depois no sofá do mesmo apartamento vítima de uma overdose de Heroína.

É tão curioso como certos estigmas perduram ao longo do tempo. Jim Morrison foi enterrado no cemitério Pére-Lachaise em Paris. Lugar onde se aglomeram fãs do cantor e do The Doors até hoje. O Lugar é palco de confusões e arruaças. Os familiares dos mortos que estão enterrados nas proximidades do túmulo de Morrison brigam na justiça até hoje para que o corpo do músico seja removido de lá.

O LP que escolhi é o segundo disco do The Doors, escolhi este álbum porque é nele que estão clássicos imortalizados. Sobretudo o Título, Strange Days (Dias Estranhos) e a Vibe deste disco são tão simbólicos que a faixa People are Strange (ficou rodando em looping infinito enquanto escrevia esta coluna).

Melhores faixas:

• Strange Days

• Love me two times

• People are Strange

*Carlos H. Kruschewsky é psicólogo, psicanalista, presidente do Dragornia Moto Club, BeerSommelier, Homebrewer, sócio da Dragornia Cervejaria e Colecionador de Discos. Instagram: @sr.ck @dragornia

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