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Das coisas que aprendi nos discos: As Quatro Estações - Legião Urbana, 1989

Está no ar o segundo episódio da série de resenhas sobre música.

17/10/2020 às 06h46, Por Andrea Trindade

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Por: Carlos H. Kruschewsky*

"Se o mundo é mesmo
Parecido com o que vejo
Prefiro acreditar
No mundo do meu jeito"

.
Não sei você, mas eu sou de um tempo em que era obrigação moral saber cantar Faroeste Caboclo do início ao fim e se comover com a saga de João de Santo Cristo. Legião Urbana fundou meus alicerces na música e moldou meu caráter juvenil. Embora Faroeste Caboclo faça parte do terceiro disco da banda, é ao quarto que dedico esta resenha.

AS QUATRO ESTAÇÕES foi o disco mais vendido da Legião: quase 2 milhões de cópias. É também um álbum de recomeço. A banda deixava pra trás suas origens inspiradas no Punk Rock britânico e abraçava uma sonoridade mais voltada pro Folk americano; deixava de parecer Joy Division para lembrar mais Bob Dylan. Este disco também marcava a separação da Legião com seu Baixista Renato Rocha, que fez parte do grupo nos 3 anteriores.

A sonoridade é mais tranquila, levadas simples ao som de violões ficaram mais frequentes. Talvez, por isso, as pessoas achem que este é o disco mais "Romântico" da banda. É o mais conhecido, o mais memorável, mas também o mais sofrido. Renato Russo expurgou tantos traumas nas canções, que ao tempo em que criou obras lindíssimas e eternas, trouxe um sentimento incômodo e angustiante à quem escuta.

Neste disco, o Renato fala de seu descontentamento social em Há Tempos, Eu Era Um Lobisomem Juvenil e em 1965 (Duas Tribos). Fala também de angústia, isolamento e desilusões amorosas em Maurício e Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar. Fala abertamente de sua sexualidade, em Meninos e Meninas, e até de Suicídio, em Pais e Filhos (esta que é a música mais importante da Banda de Rock mais importante do Brasil).

E enquanto o Renato Russo ressignificava seu sofrimento ao longo de cada faixa deste álbum, sobrava para nós, Legionários, refletirmos sobre nosso próprio lugar no mundo. Afinal, às vezes, é como ele mesmo disse em 1965 (Duas tribos): "É o bem contra o mal. E você, de que lado está?"
.
MELHORES FAIXAS:

•Pais e Filhos
•1965 (Duas Tribos)
•Sete Cidades 

*Carlos H. Kruschewsky é psicólogo, psicanalista, presidente do Dragornia Moto Club, BeerSommelier, Homebrewer, sócio da Dragornia Cervejaria e Colecionador de Discos. Instagram: @sr.ck @dragornia

Leia também:

Das coisas que aprendi nos discos: Alucinação – Belchior, 1976

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