Setembro Amarelo

Programa Acorda Cidade debate doenças emocionais e ações de valorização da vida

A psicóloga e psicanalista Lucília Navarro, a psiquiatra Camille Batista e a jornalista Cristiane Castro participaram de um bate-papo onde destacaram a importância da falar sobre esse tema, que ainda é tabu.

15/09/2020 às 16h56, Por Maylla Nunes

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Acorda Cidade

Estamos no Setembro Amarelo, mês em que desde 2014 a Associação Brasileira de Psiquiatria (APB) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) organizam ações de prevenção ao suicídio. Este ano, temos o agravante de um período atípico, que é a pandemia do coronavírus, e que tem afetado ainda mais a saúde mental e emocional das pessoas.

Com o objetivo de somar força as ações de valorização da vida, o Acorda Cidade ouviu três convidadas para discutir este assunto, a fim de mostrar os caminhos para evitar as doenças emocionais e, para os que já estão acometidos por elas, ressaltar a importância de buscar ajuda de pessoas próximas e, especialmente, profissionais.

A psicóloga e psicanalista Lucília Navarro, a psiquiatra Camille Batista e a jornalista Cristiane Castro, que viveu um episódio de tentativa de suicídio na última virada de ano, participaram de um bate-papo onde destacaram a importância da falar sobre esse tema, que ainda é tabu.

Ouça a entrevista completa aqui

Psicológa Lucília Navarro

De acordo com Lucília Navarro, apesar de ser um assunto extremamente difícil, é importante falar, pois assim se pratica a possibilidade de poder avaliar novas perspectivas em termos de tratamento, cuidado e prevenção. “É um problema que atinge pessoas de todas as idades, todos os níveis e classes sociais e geralmente está associado a depressão”, afirmou. “É uma causa de morte prevenível, está relacionada ao adoecimento metal e muita gente não sabe disso. É uma situação muito importante de ser discutida”, completou a psiquiatra Camille Batista.

Jornalista Cristiane Castro

A jornalista Cristiane Castro também destaca a importância de falar sobre assunto. Ela diz que o silêncio a adoeceu e os acúmulos a fizeram pensar em desistir de viver. “No final do ano de 2019 eu tive uma carga emocional muito grande e que eu não conseguir lidar e achava que a única forma de me ver livre das dores era tirando minha própria vida. Mas hoje estou me tratando, me curando e acho que encontrei o propósito de poder ajudar outras pessoas que passam por isso.”

Sinais de adoecimento metal

A psiquiatra Camille Batista informa que os sinais de adoecimento metal podem aparecer de forma gradual. “A pessoa pode começar a apresentar alterações de humor, tristeza, que podem ser flutuantes, não precisa ser constante. Associado a isso pode ocorrer alteração de sono, insônia ou muito sono, diferente do padrão que a pessoa tinha, alterações no apetite, pouco ou muito apetite, também diferente do padrão. Alterações cognitivas como dificuldade de se concentrar, de realizar as atividades no trabalho, alterações de memória e também perda de prazer nas coisas. Se você tem um familiar ou está sentindo alguns desses sintomas de forma persistente por mais de duas semanas isso já tem que ser avaliado”, destacou.

Preconceito e julgamentos

Psiquiatra Camille Batista

A psiquiatra Camille Batista destaca que as pessoas que enfrentam uma doença mental ainda sofrem com os estigmas e julgamentos da sociedade. Ela afirma que esses julgamentos só potencializa o sofrimento de quem já está adoecido.

A jornalista Cristiane Castro é exemplo. Ela relata que sofreu e ainda hoje sofre muito com os julgamentos. Ela lembra que o termo empatia está na moda, mas que infelizmente, de fato, nem sempre acontece. “Sofro muito com os julgamentos. As pessoas acham que eu vivo bem e que não estou doente. Mas quem sabe sou eu que sinto. Minha família é minha principal rede de apoio e parece que só ela entende o que passei. Tenho amizades de 20 anos, mas que não compreendem. As pessoas se esforçam, mas sinto que existe esse preconceito na sociedade e por isso as pessoas não falam”, afirmou.

A psicóloga Liucília Navarro destaca ainda que a depressão não é falta de força de vontade. Ela fala sobre a necessidade de apoio emocional e explica a diferença entre o ouvir e o escutar. “Não é uma condição psíquica onde a pessoa diz ‘você é capaz de realizar, levante da cama’. As pessoas não conseguem fazer uma escuta desse sofrimento. Existe uma diferença entre o ouvir e escutar. As pessoas estão acostumadas a ouvir, mas o escutar envolve uma atenção diferenciada, não só dentro do espaço profissional, mas nas relações interpessoais. As pessoas deixaram de olhar para o outro a partir de uma demanda de escuta e infelizmente fica mais difícil se fazer um suporte para uma patologia que não cai do céu, ela vem sendo construída ao longo da vida”, afirmou.

A psiquiatra Camille lembra ainda que historicamente as pessoas são ensinadas a proteger seus sentimentos, então muitas vezes não elas não têm espaço e nem se sentem a vontade para dizer o que sentem. “Então elas colocam um sorriso no roso e todo mundo acha que está tudo bem, mas no fundo ela não está se sentindo bem. De repente a gente precisa criar a oportunidade de perguntar se está tudo bem e se colocar a disposição para ouvir o outro”, destaca.
 

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