Saúde

Estudo relaciona hanseníase a minorias sociais

Uma das confirmações obtidas pelos cientistas é de que pessoas que se autodeclaram pretas são mais suscetíveis a contrair hanseníase do que as que declaram ser pardas e brancas.

02/11/2019 às 11h15, Por Rachel Pinto

Compartilhe essa notícia

Acorda Cidade

Agência Brasil – Um estudo publicado na revista médica britânica The Lancet comprova que a hanseníase atinge mais as minorias sociais e que programas sociais são capazes de mitigar a doença. Vinculados a quatro instituições, os pesquisadores afirmam que a análise pode ser considerada uma das que mais amplamente relacionam determinantes sociais com a doença.

De origem brasileira e estrangeira, os 12 autores que assinam o estudo são da Universidade Federal da Bahia (UFBA), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da London School of Hygiene and Tropical Medicine. De posse dos dados relativos ao Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), a equipe fez um cruzamento com os registros de hanseníase registrados no Brasil, entre 2007 e 2014. Estes últimos constam da base do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.

O CadÚnico é uma ferramenta que o governo federal utiliza para conceder benefícios sociais e assistenciais a famílias de baixa renda, como o Bolsa Família. Regulamentada em 2007, a base reúne informações sobre as condições de moradia da família, seu nível de escolaridade e a situação de trabalho e renda.

De um total de 33.877.938 indivíduos inscritos no CadÚnico, foram verificados 23.911 casos de hanseníase. Uma das confirmações obtidas pelos cientistas é de que pessoas que se autodeclaram pretas são mais suscetíveis a contrair hanseníase do que as que declaram ser pardas e brancas.

Ser negro pode elevar o risco de alguém ser acometido pela doença em até 40%, o que já provoca preocupação. Do mesmo modo, o resultado referente a crianças e jovens pretos com idade até 15 anos justifica a articulação de medidas específicas: eles têm 92% mais chances de ter hanseníase do que brancos com a mesma faixa etária.

Entre os indígenas, verificou-se a menor incidência da doença. Isso, porém, ressaltam os autores do estudo, pode não condizer com a realidade. A explicação é de que esse grupo populacional se encontra, muitas vezes, isolado e sem tanto acesso ao atendimento de saúde, de maneira que o índice pode estar subnotificado.

Não ter uma fonte de renda também pode ser um elemento que transforma a hanseníase em uma ameaça real. A descoberta é de que pessoas em situação de miséria ou pobreza (que não dispõem de nenhuma renda ou que ganham até cerca de R$ 250 mensais) acabam tendo um risco 40% maior do que aqueles que recebem mais de um salário mínimo. "Além disso, indicadores diretos de privação, incluindo ausência de renda familiar, baixo nível de escolaridade e fatores que refletem condições de vida desfavoráveis, estavam associados a uma incidência de hanseníase até duas vezes maior", disseram os pesquisadores.

O estudo também destaca que a população das regiões Norte e do Centro-Oeste tem, aproximadamente, oito vezes mais chance de contrair hanseníase do que habitantes da Região Sul. Quando a observação fica circunscrita a crianças, conclui-se que têm mais risco aquelas que vivem no Norte, onde a probabilidade de se desenvolver a enfermidade chega a ser 34 vezes maior do que entre crianças de Santa Catarina, do Paraná e Rio Grande do Sul.

Dados gerais e diagnóstico

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 200 mil novos casos de hanseníase são detectados em todo o mundo, a cada ano, sendo que o Brasil, a Índia e Indonésia concentram 80% desse total. Ainda segundo a entidade, o Brasil respondeu por 93% dos 29.101 casos detectados em 2017.

A hanseníase é uma doença crônica e que tem como agente etiológico o bacilo Micobacterium leprae. A infecção por hanseníase pode acometer pessoas de ambos os sexos e de qualquer idade. Conforme ressaltou a relatora especial da Organização das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação contra Pessoas Afetadas pela Hanseníase, Alice Cruz, à Agência Brasil, a doença tem difícil transmissão, já que é necessário um longo período de exposição à bactéria, motivo pelo qual apenas uma pequena parcela da população infectada chega a realmente adoecer.

A doença é transmitida pelas vias áreas superiores (tosse ou espirro), por meio do convívio próximo e prolongado com uma pessoa doente sem tratamento. A doença apresenta longo período de incubação, ou seja, há um intervalo, em média, de 2 a 7 anos, até que sintomas se manifestem. De acordo com o Ministério da Saúde, já houve, porém, casos atípicos, em que esse período foi mais curto – de 7 meses – ou mais longo – de 10 anos. A OMS acrescenta que os sintomas podem demorar até 20 anos para aparecer.

A hanseníase provoca alterações na pele e nos nervos periféricos, podendo ocasionar, em alguns casos, lesões neurais, o que gera níveis de incapacidade física. Os estados do Maranhão e do Pará são os que concentram mais quadros do grau 2 de incapacidade física, quando a análise se restringe a pacientes com até 15 anos de idade, enquanto o Tocantins tem a maior taxa entre a população geral, de todas as faixas etárias.

Compartilhe essa notícia

Categorias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Notícias

A 22ª edição da Força Total da PM acontece hoje na Bahia

Segurança Pública

PM deflagra a 22ª edição da Operação Força Total em todas as cidades da Bahia

No acumulado das edições anteriores, a PM já apreendeu 464 armas de fogo e prendeu 752 pessoas em flagrante.

28/03/2024 às 07h47

Estudantes de Exatas

Representação Feminina

Estudante da Uefs conta os principais desafios na igualdade de gênero em Cursos de Ciências Exatas

Natural do município de Governador Mangabeira, a jovem de 23 anos já idealiza seu futuro acadêmico através do seu curso...

28/03/2024 às 06h37

VLT

Bahia

TJ suspende liminar e licitação do VLT do Subúrbio de Salvador volta a correr normalmente

A paralisação da licitação impede a implementação de um modal viário importante para o desenvolvimento econômico e social da região....

28/03/2024 às 06h34

Salvador 475 anos

Bahia

Salvador 475 anos: a ligação ancestral entre a Barroquinha e o Engenho Velho da Federação

Localizada em uma depressão no centro de três colinas e formada em sua maior parte por terras devolutas, a Barroquinha...

28/03/2024 às 06h20

Pais denunciam obra inacabada na Escola Antônio Carlos Pinto no Papagaio - ft Paulo José - Acorda Cidade

Feira de Santana

Pais reclamam sobre obra inacabada de escola no bairro Papagaio: “Arrumaram de qualquer jeito"

Moradores cobraram uma resposta do poder público municipal, pois as obras no local estão inacabadas e as aulas já retornaram....

27/03/2024 às 22h28

Servidores do Samu não suspenderão as atividades nesta quinta-feira (28); paralisação pode ocorrer na Micareta

Após diálogo com a prefeitura e gestão

Servidores do Samu não suspenderão as atividades nesta quinta-feira (28); paralisação pode ocorrer na Micareta

Deu-se um prazo para que o atendimento à pauta de reivindicação seja definido até o dia 14 de abril.

27/03/2024 às 21h18

image

Rádio acorda cidade