Turismo

Três motivos para visitar o Porto, a grande atração turística de Portugal dos anos 2010

O preço, a presença brasileira e os roteiros alternativos chamam a atenção dos turistas do país.

06/08/2019 às 08h35, Por Maylla Nunes

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A calmaria e as vielas de pedra de Porto, a segunda maior cidade de Portugal (313 km de Lisboa), fazem com que ela se torne um dos principais pontos turísticos da Europa. Entre os motivos para o crescimento dos turistas estão as vantagens que as companhias oferecem na hora da compra de passagens aéreas para outros destinos do continente e um sofisticado direcionamento de marketing do governo.

A TAP Portugal adotou uma estratégia agressiva há alguns anos de vender passagens para turistas sul-americanos em direção às grandes metrópoles da Europa, como Londres e Paris, passando algumas horas ou até um dia inteiro em Lisboa ou em Porto — uma espécie de escala obrigatória e, claro, agradável.

A “Invicta”, como Porto é conhecida no país, é também ponto de brasileiros por motivos que vão desde o encanto do cantor e compositor Caetano Veloso por ela (ele já admitiu várias vezes que é sua cidade preferida em Portugal) como pela universidade que recebe muitos estudantes do Brasil todos os anos. Depois dos Estados Unidos, a Europa Ocidental – França, Espanha, Reino Unido, Itália e Portugal – ainda permanece como a segunda região preferida por eles, em termos geográficos (31%), de acordo com a ONU.

Sem contar que as principais atrações turísticas da cidade podem ser vistas em um dia ou dois, no máximo. 

Margarida Castro, uma nativa do Porto, fundou há quase meia década a agência The Worst Tours, em que guias levam turistas e locais à fábricas abandonadas, velhas linhas de trem, terrenos vazios e ruas depreciadas. O ponto final do passeio é um shopping no centro que faliu na metade dos anos 1990, e que agora oferece cafés baratos e estúdios para bandas locais. Batizado de "anti tour", ele foi uma resposta ao turismo mainstream na cidade.

Margarida argumentou ao jornal Público que os passeios não são apenas para os visitantes de fora, mas estimulam a criatividade por meio de uma tradição grega antiga: provocar uma troca de ideias e experiências da vida urbana. "Com nossos salários, nós não viajamos muito. Então, caminhar pela cidade e debater com alguém de Varsóvia ou de Barcelona sobre ela pode me fazer ter ideias diferentes", disse. 

"Nós estávamos precisando encontrar um jeito de colocar para fora nossa energia e nossas frustrações, então nós criamos uma caminhada para espalhar o debate político", completou.

A ideia já tem concorrentes em outras metrópoles europeias: em Viena, uma empresa oferece roteiros chamados de "Ugly Vienna Tour" ("Passeio pela cidade feia"), "Corruption Tour" ("Passeio da corrupção"), "Midnight Tour" ("Passeio da meia-noite") ou "Smells Like Vienna Spirit Tour", em que os turistas exploram os cheiros da cidade. Em Paris e em Londres há projetos semelhantes.

Os preços também atraem os brasileiros para a cidade: um almoço completo, incluindo prato principal, sopa, bebida e café custa em média €12 (R$ 51,6, na cotação de agosto) no Porto. Em Paris, o mesmo combo não custa menos que €25 (R$ 107). Já o roteiro das pontes do Rio Douro custa os mesmos €12 por pessoa, por exemplo – mais barato do que o ingresso para um dia de visita ao Louvre, também na capital francesa, que vale €17 (R$ 73). 

Em épocas específicas do ano os bilhetes de transportes públicos caem para a metade dos preços da alta temporada, barateando ainda mais os custos da viagem.

Em terceiro lugar, os brasileiros se sentem duplamente em casa no Porto. Depois dos Estados Unidos, Portugal é o principal destino de jovens que saem do Brasil em busca de emprego ou de uma universidade no exterior. Os números de pedidos de vistos ou cidadania aumentaram significativamente nos últimos dez anos: só no consulado português de São Paulo foram 50 mil tentativas desde 2016 e, nos últimos dois anos, dobrou o volume de vistos dados a estudantes, empresários ou aposentados que querem viver em Portugal. 

A Agência Brasil ouviu a professora Ana Carolina Viana, formada em Letras pela Universidade de Brasília (UnB) e que viajou para Portugal no ano passado. "Mesmo trabalhando muito, no final do mês só sobrava para pagar as contas e eu não conseguia juntar dinheiro e fazer planos”, contou. "Aqui consigo morar numa casa pequena, mas que tem tudo o que eu preciso. Posso colocar meu filho em uma escola pública, que aqui é muito boa. Não preciso pagar um plano de saúde. E, com isso, posso viajar e fazer cursos", completou.

O professor e diretor de estudos da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), em Lisboa, Gonçalo Saraiva Matias, acredita que Portugal deve ver a chegada em massa de brasileiros à nação positivamente. Para ele, além de pessoas qualificadas que vêm ao país europeu para recomeçar suas vidas, os migrantes do Brasil também ajudam a desacelerar as taxas de declínio demográfico que começaram em 2009, quando tanto cidadãos portugueses quanto migrantes do Leste Europeu abandonaram Portugal em um contexto de crise econômica.

"A única forma de combater esses saldos demográficos negativos é através de migrações. A natalidade é muito importante – e devemos desenvolver políticas nesse sentido -, o problema é que as políticas públicas só têm efeito em uma geração. E nós não temos esse tempo", disse ele em entrevista ao jornal português Público.

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras do país europeu concedeu mais de 4 mil autorizações de residência para imigrantes do Brasil. De acordo com o órgão, hoje 85,2 mil brasileiros vivem em Portugal – a maior comunidade estrangeira na nação.

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