Economia

Por que os millennials não conseguem cortar os laços financeiros com os pais

Geração que teve acesso à Internet e revolucionou as comunicações do mundo ainda depende muito do dinheiro da família

15/07/2019 às 11h29, Por Maylla Nunes

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É um mistério financeiro para quem tem trinta anos: como é possível estar em um emprego estável e sem filhos custear a vida em uma grande cidade, como São Paulo ou Rio de Janeiro, sozinho? Para muitos, a solução é a ajuda financeira dos pais — uma questão já quase natural para a geração millennial (nascidos entre 1981 e 1996).

O dilema desses jovens é global, ou ao menos abarca todo o Ocidente: nos Estados Unidos, a situação é a mesma, já que os salários estão estancados e os custos de bens primários, como cuidados médicos e familiares, dispararam. Uma pesquisa feita por uma consultoria de economia recentemente mostrou que, para os estadunidenses de menos de 40 anos, o século XXI foi uma "grande recessão".

Mais da metade dos estadunidenses entre 21 e 37 anos receberam algum tipo de ajuda financeira e um pai, tutor ou familiar desde que cumpriram 21 anos, segundo a consultoria Country Financial. Entre essas ajudas, estão o pagamento de contas telefônicas, de combustível, de aluguel ou do custo com serviços médicos.

No entanto, nem só de ajuda financeira essa geração depende: a Country Financial mostrou que a ajuda dos pais inclui os "serviços não remunerados", como o cuidado com os netos para que os filhos trabalhem — 18% dos entrevistados pela consultoria afirmaram que não poderiam manter suas vidas diárias sem essa ajuda. Outro estudo nos EUA, feito pela TD Ameritrade, mostrou que a metade dos millennials que têm filhos sofrem uma ansiedade generalizada de não ganhar o suficiente para se manter.

Para especialistas, os jovens dessa geração têm a percepção, pelo menos os de classe média, de que suas vidas são muito distintas das que seus pais tiveram quando tinham a mesma idade. O que é especialmente diferente hoje sobre em relação ao passado recente é que em uma economia com mudanças mais extremas e investimentos estancados, a riqueza familiar é um fator muito mais determinante da ascensão socioeconômica, disse o economista Chuck Collins ao jornal Boston Globe.

Segundo ele, os jovens de trinta anos de grandes cidades do Ocidente que não têm ajuda financeira dos pais enfrentam as desvantagens mais profundas. "Esses lutam para pagar suas dívidas estudantis, seus recursos são parcos por causa dessas dívidas e, com certa frequência, ainda têm filhos ou precisam ajudar a família". O professor Ruy Braga, da Universidade de São Paulo, cunhou o termo "precariado" para falar sobre jovens com diploma universitário e sem acesso ao mercado de trabalho que esperavam quando começaram a estudar — muitos deles ainda sonhando com os poucos concursos abertos para entrar no servidorismo público.

Os especialistas, porém, afirmam que é difícil mensurar a quantidade de pessoas nessa situação. Para eles, a falta de dados acaba gerando uma ideia distorcida do que se requer para o êxito profissional e de que é possível algum sucesso financeiro quando se começa do zero. Simon Isaacs, fundador do site Fatherly, que reúne pais que ajudam a família — e especialmente os filhos — disse ao Boston Globe que ele passou pela mesma situação: "A ajuda dos meus familiares foi fundamental para que eu e minha esposa pudéssemos comprar uma casa e viver com nossos filhos".

"Os millennials precisam abandonar a narrativa de que conseguiram as coisas por si próprios, porque isso esconde de muitas maneiras em que foram privilegiados pela sua raça e pela ajuda dos pais", completou.

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