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Por que vale a pena passar um dia no Museu da República, no Rio de Janeiro

Apesar do começo do inverno, as vendas de passagens aéreas para o Rio de Janeiro tendem a aumentar a partir do mês de maio para viagens em julho, período de férias escolares em todo o país.

17/05/2019 às 11h29, Por Maylla Nunes

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A cidade, que já costuma receber turistas estrangeiros em todos os meses do ano, se prepara para atender a demanda interna com festivais, eventos e programas especiais, enquanto o setor de serviços — empresas de aluguel de carros no Rio de Janeiro dizem que é a melhor época do ano — se organiza para dar conta das exigências.

Muitos dos pontos turísticos cariocas já são bastante conhecidos, como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar, o Corcovado e as praias de Copacabana e Ipanema. Entretanto, há outros lugares que valem a pena visitar e que não são tão conhecidos, como é o caso do Museu da República, no Catete, região central da cidade. Localizado no Palácio do Catete, a antiga residência do Barão de Nova Friburgo, Antônio Clemente Pinto, e sede do governo brasileiro entre 1896 e 1960, é hoje um dos principais arquivos da história do país, tanto em objetos como em importância histórica.

Voltado para o período republicano do Brasil, o prédio possui presentes recebidos pelos ex-presidentes, fotos, telas, móveis, atas de reuniões, esculturas, objetos pessoais e roupas, além das salas dos ministros, do gabinete presidencial, das salas de encontros e dos aposentos pessoais. 

O próprio palácio, porém, é parte da coleção do museu: construído entre 1858 e 1867, era um símbolo do poder econômico da elite cafeicultora escravocrata do Brasil do século XIX e um marco arquitetônico da capital imperial. Foi projetado pelo arquiteto Gustav Waehneldt e decorado com telas de pintores como Emil Bauch, Gastão Tassini e Mario Bragaldi.

Recentemente, o palácio voltou aos jornais por motivos políticos: o museu recebeu do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) a tela Rio de Janeiro – Baía de Guanabara, pintada por Luís Ribeiro em 1899, em que ele representa uma cena marítima nas docas do Rio. A obra foi apreendida na alfândega do Porto de Santos, em São Paulo, pela Polícia Federal, em uma investigação sobre contrabando de obras de arte.

Entre reuniões políticas, declarações de guerra, um suicídio e diversas manifestações sociais, o palácio ainda recebeu reis, papas, músicos, poetas, escritores, intelectuais e celebridades enquanto funcionou como sede do governo brasileiro. Com tanta coisa para ver e saber, elaboramos um guia do que privilegiar durante uma visita ao Museu da República:

O hall de entrada

Entrando no museu pelo portão de ferro fundido em Ilsenburg am Harz, na Alemanha, em 1864, e passando pelo balcão onde se compra o ingresso para o museu, os visitantes chegam ao hall do palácio, onde há esculturas, luminárias e as Armas da República dispostas no teto — onde é possível ver a composição Baco e Ariadne. Como era um salão de recepção social dos presidentes brasileiros, as paredes são todas ornadas com pinturas e mobiliário produzidos exclusivamente para o prédio e, mesmo a chegada dos setores burocráticos, anos depois, manteve o requinte do hall como salão de reuniões.

No hall da escada, em direção ao segundo andar, é possível ver cenas mitológicas que copiam os afrescos pintados pelo pintor renascentista italiano Rafael (1483-1520) no Palácio Villa Farnesina, em Roma, na Itália. A decoração acaba com uma cópia em metal da escultura Afrodite de Cápua, do grego Lisipo, cuja original está em exibição no Museu Nacional de Nápoles, também na Itália.

A principal obra do primeiro andar, no entanto, fica quase nos limites do jardim: a tela A Pátria, pintada por Pedro Bruno em 1919. Pintado pelo aluno da Escola Nacional de Belas Artes do Rio, o quadro é um dos mais famosos da produção artística brasileira por retratar uma cena fundamental da história do país: a costura da primeira bandeira da República. Nele, crianças bordam o tecido enquanto ao fundo um velho sombrio observa os trabalhos — é uma analogia ao passado que pretendia-se superar. 

“O esplendor e o fausto da época do império cedem espaço à simplicidade do ambiente da casa popular brasileira. A esteira de palha onde repousa o bebê e as damas (filhas de Benjamin Constant) sentadas no chão, expressam o ideal de uma nação que se constrói sobre bases mais sólidas e realistas”, diz o catálogo do museu sobre a tela.

Piso nobre

O segundo andar do palácio foi dividido na época do barão de Nova Friburgo de modo semelhante ao Palácio de Versalhes, nos subúrbios de Paris, onde o rei Luís XIV migrou com sua corte no século XVII: cada salão tem uma temática que retrata um uso específico na época do Império. Um deles é o "Salão Francês", em estilo luisístico, que recebeu decoração art-nouveau em cor azul (por isso é chamado de Salão Azul) durante a República.

O Salão de Baile era o espaço em que a corte carioca organizava algumas das principais festas do período, e não à toa é a mais opulenta, com cenas mitológicas associadas à música e às artes nas paredes e semicírculos com imagens de Apolo, deus grego da música e da poesia, nos cantos altos. 

Em 1938, o então presidente Getúlio Vargas ordenou que o pintor brasileiro Armando Vianna fizesse o afresco do teto. Já o Salão Veneziano (Salão Amarelo), nome dado pela riqueza do mobiliário, foi onde aconteceu o famoso sarau em que Nair de Teffé, esposa do presidente Hermes da Fonseca, usou músicas da maestrina Chiquinha Gonzaga para apresentar o ritmo "corta-jaca" — um escândalo moral na época.

Há ainda o Salão Pompeano, decorado com cenas das escavações da cidade romana de Pompéia, o Salão Mourisco (o nome remete à decoração árabe), em que apenas homens frequentavam para jogar ou fumar, e o Salão de Banquetes, cuja função dada no batismo é representada nas paredes e nos tetos com pinturas de frutos, naturezas mortas e uma cópia de Diana, a Caçadora, do pintor italiano Domenichino.

O piso nobre, como era chamado desde a época imperial, também abriga a Capela, cujo teto possui duas cópias das obras clássicas da Renascença e do período barroco: A Transfiguração (1520), do italiano Raphael Sanzio, e Imaculada Conceição (1660), do espanhol Bartolomé Murillo. Foi ali que o presidente Rodrigues Alves casou sua filha e que o corpo do presidente Afonso Pena foi velado em 1909. 

A obra que precisa ser vista no piso nobre é a Compromisso Constitucional, encomendada em 1896 ao paraibano Aurélio de Figueiredo para destaca o papel dos civis em uma proclamação da República protagonizada por militares. A tela coloca ênfase em um homem em trajes civis e de barba que, caso não se leia o catálogo, fica difícil saber se tratar do presidente Prudente de Morais (o primeiro presidente civil brasileiro). Atrás dele estão quatro personagens da história brasileira: um em traje militar e três em trajes civis, sendo o mais importante deles o marechal Deodoro da Fonseca realizando o "compromisso Constitucional" do nome do quadro. 

Quarto de Getúlio Vargas

Os quartos no último andar do Catete eram usados pelo barão, sua esposa e seus filhos e, durante a República, foram adaptados para o uso dos presidentes e suas famílias. Apesar da beleza que se vê do prédio e dos jardins, na área externa, a parte mais procurada pelos visitantes tem outra motivação: foi ali, no dia 24 de agosto de 1954, que Getúlio Vargas se suicidou com um tiro disparado no peito. 

A cena é retratada no filme Getúlio, do diretor João Jardim e estrelado por Tony Ramos, que foi filmado exatamente no mesmo lugar. O visitante hoje tem acesso às roupas de cama, ao pijama, à arma e à carta da fatídica noite em que ele morreu.

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