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Catedral St. Paul, em Londres, avalia riscos de incêndio após Notre-Dame de Paris

Um mês após tragédia no templo gótico, França ainda não sabe como fará para reconstruí-lo, mas admite pressa.

09/05/2019 às 10h19, Por Rachel Pinto

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Depois da tragédia que atingiu a catedral de Notre-Dame, em Paris, no mês passado, a igreja de St. Paul, em Ludgate Hill, em Londres, no Reino Unido, admitiu que está revendo suas práticas de combate ao fogo e suas táticas para possíveis emergências.

De acordo com o porta-voz do templo considerado o mais importante da capital britânica, a administração está trabalhando ao lado dos Bombeiros da cidade e com outras organizações para "minimizar as chances de incêndios e de outros riscos".

A igreja de 104 anos ainda não tem um sistema de alarme ao fogo no domo, que foi restaurado há quase um século, por exemplo. Assim como a vizinha parisiense, a catedral já sofreu um acidente parecido: foi severamente danificada pelo Grande Incêndio, como é chamado o episódio que arrasou a capital britânica em 1666. A reconstrução durou 33 anos e abrangeu os reinos de cinco monarcas — muito por causa das dificuldades de conseguir os materiais. 

A St. Paul começou a ser construída em 1087, o mesmo ano em que um incêndio destruiu boa parte de Londres, e enfrentou sua primeira grande tragédia com fogo em 1135. O templo atual é o quarto erguido após danos sérios causados por esse tipo de acidente na história. Hoje é um dos principais pontos turísticos da cidade e atrai grandes volumes de visitantes, principalmente em épocas em que as empresas promovem passagens aéreas promocionais a partir de capitais europeias para Londres.

Além da beleza da arquitetura e do seu apelo histórico, a St. Paul guarda memórias muito específicas de Londres e do país. Uma delas é a de Charles Macklin, um dos mais atores londrinos mais famosos do século 18: por ter matado um colega durante uma discussão nos camarins de uma peça, esfaqueando-lhe os olhos, ele foi imortalizado em seu remorso pelo assassinato com uma placa em seu próprio memorial — no adro da igreja de St. Paul. Macklin foi considerado culpado pela Justiça, mas jamais foi preso. Na peça encontrada no templo, uma faca aparece pendurada no olho de uma máscara de teatro.

Reforma da Notre-Dame

Um mês após o incêndio que destruiu o teto da Notre-Dame, em Paris, a expectativa de reconstrução da catedral é positiva no país: a arquiteta Christiane Schmuckle, que ajudou a restaurar a Notre-Dame de Estrasburgo, na fronteira da França com a Alemanha, disse ao jornal Le Monde que a arquitetura europeia aprendeu com os antigos engenheiros as técnicas usadas em templos como a da igreja parisiense — mais do que isso, ela deu prosseguimento a esse conhecimento. 

"Um artesão do século XII que surgisse em Paris agora poderia encontrar os materiais e as ferramentas do seu ofício com as empresas de monumentos históricos do país".

Segundo Denis Dessus, presidente do conselho de arquitetos francês, os materiais e as ferramentas utilizados na construção da Notre-Dame são encontrados facilmente hoje no país — e por isso será fácil reconstruir a igreja. Apesar disso, ele admitiu que aconselhou o governo a construir uma estrutura mais leve e flexível. "Vai ser objeto de debate a partir de agora, porque dá para fazer as duas coisas". 

O presidente da França, Emmanuel Macron, pediu que a obra seja completada em cinco anos, a tempo dos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. 

Para isso, o governo se ampara em homens como o arquiteto francês Jean-Michel Wilmotte, que ficou famoso na última década por projetar a Catedral Ortodoxa Russa de Paris, na Quai Branly, nas margens do Sena, e por restaurar o Colégio dos Bernardinos, um edifício gótico da capital francesa que tem um século a menos que a Notre-Dame. Dessa obra, aliás, vem a resposta mais efusiva do governo e de Wilmotte sobre o telhado da catedral: usar titânio. 

No colégio, por exemplo, o arquiteto usou vigas de aço no teto para dar suporte às novas telhas feitas sob medida, idéia que pode ser usada no caso da igreja. Wilmotte já foi a público dizer que uma estrutura mais leve de vigas de aço e painéis de titânio pode substituir a antiga de cobre com lâminas de chumbo que foram queimadas no incêndio de abril.

Dessus, no entanto, é crítico dessa posição. "É admirável a vontade de se colocar diante do problema, mas é preocupante o desejo de agir com tanta rapidez em um edifício tão antigo", disse. "Acho que precisamos primeiro fazer um exame completo na situação do tempo para então prever um tempo. Para estar pronto até 2024 precisaria de um trabalho feito às pressas", finalizou.

 

 

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