Entrevista

Autismo: quais características, diagnóstico e desafios?

O médico Jair Soares, especialista no tratamento de autismo e a professora Fabya Alves, que desenvolveu mestrado em crianças com necessidades educativas especiais, estiveram no programa Acorda Cidade onde falaram sobre o autismo.

02/04/2019 às 10h08, Por Maylla Nunes

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Acorda Cidade

Nesta terça-feira (2) é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A cada ano é escolhido um tema para celebrar o dia, que foi lançado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 18 de dezembro de 2007. Esse ano o tema é ‘tecnologias assertivas e participação ativa’.

O médico Jair Soares, especialista no tratamento de autismo e a professora Fabya Alves, que desenvolveu mestrado em crianças com necessidades educativas especiais, estiveram no programa Acorda Cidade onde falaram sobre o autismo. Confira a entrevista na íntegra:

Acorda Cidade – Quais são as características do autismo?

Dr. Jair Soares – São várias. Basicamente, os pais das crianças autistas nos procura quando existe a ausência da fala ou uma fala inadequada para a idade. Outra coisa também é a dificuldade de socialização que essa criança tem, muitas vezes ela não tem aquele “brincar” como as demais. Existem algumas características peculiares que variam dependendo do grau do autismo.

AC – Quais as diferenças entre os graus de autismo?

Dr. Jair Soares – O transtorno do espectro autista (TEA) ficou com essa nomenclatura justamente por essa questão de gravidade. Às vezes você tem autistas bem leves, nas quais os sintomas são imperceptíveis e autistas mais graves que são mais característicos. É por isso que se chama espectro, que vai do mais leve ao mais severo.

AC – Como é o diagnóstico? Como saber, por exemplo, se um bebê é autista?

Dr. Jair Soares – O diagnóstico é exclusivamente clínico. Nós pegamos na clínica Ideal várias crianças que chegam com exames, e os pais procuram justamente por causa de exames. Na verdade, o exame é exclusivamente clínico. Nós avaliamos, mesmo pequenos bebês, que já demonstram dificuldades visuais, por exemplo, então nós já identificamos o autismo.

AC – Como funciona o aprendizado de uma criança autista na escola?

Psicopedagoga Fabya Alves – É importante frisar que existe um tema a cada ano para discutir um tema para a conscientização mundial do dia do autismo. Em âmbito escolar, começamos a observar que a tecnologia para autistas é muito viável e nos traz um retorno dignificante com relação ao aprendizado dessas crianças. Normalmente, eu, enquanto psicopedagoga, direciono a escola a elaborar um PDI (Plano de Desenvolvimento Individual). Esse plano vai ser direcionado exclusivamente para cada criança, pois cada uma tem sua especificidade. Quando uma criança autista é inserida num contexto integral à escola, a instituição deve respeitar as suas particularidades e é um desafio tanto para a família, quanto para os professores, quanto para a escola.

AC – As escolas estão preparadas para receber essas crianças?

Psicopedagoga Fabya Alves – É um desafio grande porque não é só o autismo que temos nas escolas. Com relação ao autismo, eu não visualizo que estejam preparadas. Nós, enquanto divulgadores que estão inseridos nesse processo, é muito complicado porque precisamos ainda de formação qualificada com os profissionais qualificados. Há uma flexibilização muito grande com relação a isso, pois existem vários tipos de autismo e precisamos saber e correlacionar cada um.

AC – O que de fato desencadeia o autismo?

Dr. Jair Soares – Hoje tem muitos estudos que são fatores múltiplos. Nesses fatores, a ciência comprova que o autismo é um fator hipergenético que determina. A criança nasce com esse gene, e esse gene fica adormecido. Se hoje nós temos conhecimento que nenhuma criança se tornou autista após 3 anos, é justamente o tempo de poda neural, que esse cérebro está na fase de formação completa, alguma coisa acontece para que essa criança desenvolva o autismo.

AC – Porque o autismo é mais comum em meninos?

Dr. Jair Soares – Provavelmente pela essa questão genética. O fator genético nós vemos que está mais predominante em homens do que em mulheres. A cada 5 meninos, apenas 1 menina é autista. O que vejo na clínica, é que na maioria das vezes, as meninas são autistas mais graves, enquanto os meninos são mais leves. Talvez pela própria proporção, mas hoje, o número de autistas leves que tem aparecido tem sido muito maior. Alguns fatores estejam levando esse aparecimento mais frequente ou também o diagnóstico. As crianças ficam sem diagnóstico há algum tempo. Tem crianças que tem o diagnóstico com 8/ 9 anos de idade e ficou esse tempo todo sem diagnóstico identificado.

AC – Como fazer para descobrir se uma criança tem autismo?

Dr. Jair Soares – O certo é procurar um profissional para dar o diagnóstico. Hoje nós temos uma deficiência muito grande. Temos excelentes profissionais na Bahia, mas talvez por ser uma doença que tem crescido muito ultimamente, os profissionais não estão ainda tão capacitados para dar o diagnóstico e também, em outros casos, o profissional fica com medo de dar um diagnóstico. Essa criança agitada, que tem dificuldade na fala, que não conversa com outras crianças, ela pode ter característica de autismo.

AC – Existe uma idade mais indicada para o diagnóstico de autismo?

Dr. Jair Soares – Não. Esperamos que o diagnóstico seja mais cedo possível. As crianças que chegam lá bebês, por exemplo, nós avaliamos, introduzimos tratamentos, dietas, suplementos para não se agravar. Tivemos alta de três autistas justamente porque chegaram numa idade menor.

AC – Quais as características que os pais devem observar nos bebês para um possível diagnóstico?

Dr. Jair Soares – Para aquele bebê que apresenta sinais de surdez, no qual você chama e ele não olha, que é molinho, mais parado, é um alerta. Aquele bebê que não emite os sons que geralmente fazem quando começam a se desenvolver também é um alerta.

AC – Para os pais que já identificaram ter um bebê com autismo, qual o suporte que uma clínica precisa dar a uma criança?

Dr. Jair Soares – Nós temos uma clínica, no qual foi criada para dar suporte ao meu filho Guilherme, eu e minha esposa, que é psicóloga, criamos para dar suporte à Guilherme. Depois chegaram mais pessoas. Estamos mudando para uma chácara no Parque Lagoa, próximo a Noide Cerqueira, atrás do Colégio Asas, para esse suporte. Temos uma equipe e um espaço muito grande para o tratamento de autismo em Feira de Santana. Estamos indo para a Rua Pássaro Vermelho.

AC – Até que idade é possível chegar a um diagnóstico de autismo?

Dr. Jair Soares – A idade, não podemos determinar. Tem crianças que chegaram com 16 e outras com 1 ano e demos o diagnóstico. Há uma variedade muito grande. Quando a criança tem uma dificuldade de falar, a família acha que não tem autismo. Ao chegar na clínica, ela está cheia de coisas que está dentro do autismo. É um tratamento contínuo.

AC – Para quem trabalha com crianças autistas, como lidar com os casos mais graves?

Psicopedagoga Fabya Alves – Dentro da escola nós temos uma dificuldade muito grande para inserir todo o processo, é uma questão relacionada a equipe. É preciso que aconteça, dentro da escola uma preparação, uma formação, uma aceitação e uma integração. Isso não é só por parte da escola, mas a partir da escola para com a família. Normalmente quando nós diagnosticamos ou percebemos que tem alguma criança com características de autismo, nós direcionamos para uma equipe disciplinar e os pais tendem a se assustar e não aceitar em primeiro momento. É nosso dever informar, mostrar para essa família que está ocorrendo alguma coisa diferente na criança. Essa preparação, aceitação, formação e integração precisam partir da escola para que todos possam se desenvolver bem em prol da criança.

AC – A criança com autismo leve, a escola tem o dever de aceitar essa criança?

Psicopedagoga Fabya Alves – A escola tem o direito e o dever. O direito está estabelecido na lei onde ela apresenta todos os direitos legais que essa criança possui que é direcionado para a escola como dever.

AC – Como é a relação de crianças autistas com colegas, professores e pais?

Psicopedagoga Fabya Alves – Na realidade, a criança não tem noção e distinção que a outra tenha uma necessidade educativa especial. A criança não tem essa distinção. Quando falamos com relação ao processo familiar e com os profissionais, é importante a capacitação, acolhimento com a família. As crianças que estão no meio, no processo regular, não possuem distinção. Porém, quando o caso é severo e moderado, dependendo do movimento e condição do autista, quando morde ou é agressivo, é o momento da escola entrar, mostrar, conduzir e aperfeiçoar tudo aquilo, porque a escola tem a capacidade de moldar todo aquele processo. Tenho duas indicações de livros para a família se aperfeiçoar ainda mais no processo: Escova de dentes azul – Marcos Mion e O menino que desenhava monstros – Kate Donohue.
 

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