Cultura
Fotógrafos do 'Lambe-lambe' vivem dias difíceis com o avanço da tecnologia e abandono de praça
Muitas pessoas não utilizam mais os serviços desses profissionais e optam pelo uso de recursos digitais como câmeras mais avançadas e os smartphones.
29/01/2019 às 13h15, Por Rachel Pinto
Rachel Pinto
A Praça Bernadino Bahia, em Feira de Santana, conhecida como praça do Lambe-Lambe, que fica localizada entre o calçadão da Rua Sales Barbosa e Avenida Senhor dos Passos, há décadas é espaço de trabalho para fotógrafos, também chamados de lambe-lambes.
Eles fazem parte da história e da memória da cidade e atualmente relatam que estão sofrendo prejuízos, devido à falta de clientela e em virtude dos avanços tecnológicos.
Muitas pessoas não utilizam mais os serviços desses profissionais e optam pelo uso de recursos digitais, como câmeras mais avançadas e os smartphones. Além disso, a praça, segundo os fotógrafos que ainda trabalham no local, está muito suja, abandonada e todos esses fatores contribuem para espantar os clientes.
Foto: Paulo José/Acorda Cidade
Há 35 anos, o fotógrafo João Evangelista Dantas, popularmente chamado de “Flamengo”, trabalha na praça. Ele conta que hoje somente 15 profissionais ainda permanecem prestando os serviços, ainda assim com muitas dificuldades. Flamengo relembra que ele e seus colegas já viveram tempos “áureos”, com a fotografia. E entende que a tecnologia cada vez mais está presente na sociedade, mas a pior sensação é o esquecimento que percebe das pessoas, sobretudo as autoridades.
“Sou o quinto fotógrafo mais antigo daqui e já houve tempo em que a gente tinha muito serviço. Tirava fotos para documentos, como identidade, carteira de trabalho e até passaporte. Eu já me aposentei por idade, mas continuo vindo todos os dias porque é uma forma de distração. É mais uma distração do que comércio. Vários colegas foram embora e fecharam as bancas e a gente não tem atenção de ninguém. Precisamos de mais atenção do governo municipal. A praça está feia, suja, cheia de buracos”, contou ao Acorda Cidade.
Lambe-lambe
Flamengo explicou sobre a origem do nome lambe-lambe. De acordo com ele, o nome tem tudo a ver com a história da fotografia e as técnicas manuais utilizadas para a revelação das imagens.
“O nome lambe-lambe é porque antigamente quando a gente fazia fotografias em preto e branco, usávamos hipossulfito de sódio e sulfito de sódio. Um era para segurar a imagem da fotografia no papel e o outro para revelação do filme. Para ver qual era o tipo de produto, tínhamos que passar o produto na ponta da língua. Um era salobro e o outro era salgado”, disse.
Foto: Paulo José/Acorda Cidade
O fotógrafo Erivaldo Carlos da Conceição atua há 42 anos na Praça do Lambe-lambe e relatou ao Acorda Cidade que o movimento caiu cerca de 60% nos últimos anos. O pouco movimento tem relação com o avanço da tecnologia.
“Antigamente quando a gente fazia aniversário, o prefeito vinha e comemorava com a gente. Tinha aquela festa toda e era uma alegria. Agora somos esquecidos”, lamentou.
Erivaldo informou que nesse mês de janeiro, que é época de matrícula escolar, consegue atender em média de 6 a 8 clientes para fotografias 3×4 por dia. O serviço custa R$ 10 e a revelação é na hora. Em períodos mais fracos ele atende por dia até três clientes.
Foto: Paulo José/Acorda Cidade
Praça Centenária
O abandono, sujeira, a falta de segurança não são capazes de esconder toda a memória que a Praça Bernadino Bahia, praça do Lambe-lambe, carrega. O equipamento centenário conta com uma das árvores mais antigas e o primeiro coreto que foi construído na cidade. A seringueira das ruas chama atenção no centro da praça pela sua forma majestosa, sua enorme sombra e raízes exuberantes. Descansar sob ela é tentar se manter confortável em volta do lixo e do mau cheiro de frutas podres e do esgoto que vem da feirinha ao lado, fruto do descarte de produtos dos ambulantes e do esgoto que quase sempre está entupido.
Foto: Reprodução/ Cartão Postal
O coreto que também existe no local resiste ao cenário da falta de preservação histórica da cidade e cede lugar para o funcionamento de um bar. A tecnologia, que faz desaparecer os fotógrafos lambe-lambes, infelizmente, não é a mesma que resgata a memória da cidade. O cenário que há mais de um século demonstrava pompa e elegância, hoje é um espaço muito deteriorado, que ao invés de se mostrar grandioso pela sua importância histórica, mostra-se fragilizado com tamanha indiferença.
Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade.
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