Entrevista

Câncer de próstata: médico feirense esclarece dúvidas sobre a doença

O médico urologista João Batista, buscou esclarecer algumas dúvidas e quebrar mitos que ainda possam haver sobre a doença.

14/11/2018 às 11h38, Por Kaio Vinícius

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Laiane Cruz

O mês de novembro é voltado aos cuidados e conscientização sobre a saúde do homem, sobretudo o câncer de próstata, através da campanha do Novembro Azul. Apesar do grande volume de informações a respeito do assunto nos meios de comunicação, ainda há muitas dúvidas sobre o câncer de próstata. Em entrevista ao Acorda Cidade, o médico urologista João Batista, buscou esclarecer algumas dessas dúvidas e quebrar mitos que ainda possam haver sobre a doença.

Acorda Cidade – O que faz o urologista?

João Batista – Do ponto de vista técnico, ele cuida do aparelho genito-urinário. Aparelho, em anatomia, é a reunião de dois ou mais sistemas. E no caso do aparelho genito-urinário, é a união do sistema urinário e do sistema genital, no homem. Na mulher, cuidamos somente do sistema urinário, uma vez que o genital feminino é tratado pelos médicos ginecologistas.

Acorda Cidade – O que é a próstata? E onde fica localizada?

João Batista – A próstata é um órgão que está abaixo da bexiga. Do ponto de vista anatômico e fisiológico, a próstata é uma glândula anexa do sistema genital masculino, cuja função é de produzir cerca de 35% do volume do ejaculado masculino, que vai de 2 a 5 ml. Esse líquido prostático, que juntamente com o líquido da vesícula seminal compõe o sêmen, é responsável pela nutrição do espermatozoide. Um antígeno prostático específico, descoberto por volta da década de 70, exerce uma função fundamental, porque ele faz a liquefação do sêmen, permitindo que o espermatozoide se movimente. Então a liquefação é uma ação físico-química do PSA para permitir a mobilidade do espermatozoide no líquido seminal. Portanto, sem próstata, não teríamos reprodução.

Acorda Cidade – Além do câncer, quais são as outras doenças que podem acometer a próstata?

João Batista – Nós temos, basicamente, três doenças que acometem a próstata: uma é de caráter inflamatório e infeccioso, que é a prostatite. Está muito relacionada com a presença de microorganismos, especialmente bactérias. Provocam um processo inflamatório da próstata, associado com infecção, e habitualmente o paciente desenvolve um quadro febril, dor na região perianal, sensação de ardência e dificuldade para urinar. A segunda doença e mais frequente é a hiperplasia prostática benigna, que é o crescimento benigno da próstata. 85% dos homens em todo o mundo vão ter crescimento benigno da próstata. E a terceira e última é exatamente o câncer de próstata. Existe uma variação geográfica muito grande, pois no Oriente há pouco câncer de próstata, enquanto que no Ocidente tem muito câncer prostático. Os estudos populacionais apontam que os hábitos de vida levam a essa diferenciação. No Japão, atualmente, nós 2,8 casos para cada 100 mil homens, enquanto que nos Estados Unidos existe 124 casos para cada grupo de 100 mil homens. Ademais, populações asiáticas que migraram para o Ocidente continuam tendo câncer de próstata igual ao país de origem. Entretanto, os filhos começam a ter câncer igual aos ocidentais. O que a ciência demonstra é que a mudança dos hábitos de vida, a cultura, faz com que haja uma incidência maior no Ocidente.

Acorda Cidade – O que provoca a prostatite?

João Batista – Habitualmente as infecções do trato urinário são responsáveis por levar uma infecção à próstata. A infecção urinária comum e as doenças da uretra, dentre elas a blenorragia ou gonorreia, doença sexualmente transmissível bastanteconhecida, a bactéria gonococo fica na uretra, fere e a partir daí pode se disseminar para a próstata, provocando a prostatite em caráter secundário.

Acorda Cidade – Quais são os sintomas da gonorreia?

João Batista – Os portadores da gonorreia, que é a blenorragia, apresentam um corrimento purulento pela uretra. Além disso, ardor ao urinar.

Acorda Cidade – Quais são os fatores de risco para o câncer de próstata?

João Batista – São quatro os fatores de risco: um é o envelhecimento, o segundo são os afrodescendentes, que tem mais chances de câncer de próstata do que os europeus caucasianos, terceiro é a história familiar, e o quarto é a distribuição geográfica, Ocidente e o Oriente, pelos hábitos de vida. Os hábitos de vida fazem parte da prevenção primária. Aquilo que pode ser feito, independente de profissional de saúde, é o dia a dia que a gente leva. O que a ciência recomenda é que a gente utilize menos carne vermelha e menos gordura. Evite obesidade e utilize alimentos ricos em betacarotenos, entre eles o licopeno, que faz a quimio prevenção, dificultando a carcinogênese, que é a transformação das células benignas em malignas. Toda fruta verde que se transforma em vermelha possui o licopeno. As principais ricas em licopeno são o tomate, a goiaba, a melancia e o mamão, que estão à nossa disposição e auxiliam na prevenção das neoplasias.

Acorda Cidade – Somente o exame do toque é suficiente para detectar o câncer de próstata?

João Batista – A Sociedade Brasileira de Urologia que seja feita a consulta médica, onde o profissional vai solicitar os exames complementares, entre os quais está o PSA, que vai sinalizar sobre a doença prostática de forma mais precoce. A primeira consulta pode ser até com o médico generalista, que tenha uma boa formação e vai fazer uma primeira avaliação. Esse médico pode fazer o exame endorretal se sentir seguro para isso. Associada a essa consulta serão feitos os exames complementares. Agora se a pessoa tiver a oportunidade de ir diretamente ao urologista, passará pelo profissional especializado na área.

Acorda Cidade – Qual o risco para os homens que não fazem o acompanhamento?

João Batista – O grande risco é não descobrir o câncer no estágio curável.

Acorda Cidade – Ainda existe preconceito sobre o assunto?

João Batista – Houve uma diminuição significativa. As mudanças culturais são lentas, mas elas estão acontecendo, fruto da informação, divulgação dos problemas, e isso é fundamental.

Acorda Cidade – Qual a idade ideal para se iniciar o acompanhamento?

João Batista – A Sociedade Brasileira de Urologia recomenda é que todos os homens a partir dos 50 anos façam o exame endorretal anualmente. Aqueles que forem afrodescendentes ou tiverem na família casos de câncer de próstata ou de mama devem iniciar a avaliação aos 45 anos.

Acorda Cidade – O que é e quando é feita a prostatectomia radical?

João Batista – A prostatectomia radical seja por via aberta, laparoscópica ou por via robótica, que são três técnicas diferentes, é indicada em caso de câncer de próstata que tenha chance de cura e indicação cirúrgica, pois nem todo câncer a gente vai indicar a cirurgia, como num paciente que 75 ou 80 anos com alguma comorbidade, hipertensão, diabetes. Nesses casos a gente recomenda um tratamento menos agressivo do que a cirurgia. Mas, se por ventura, é um paciente jovem, a gente indica a cirurgia, que a prostatectomia radical, que é a retirada completa da próstata e das vesículas seminais.

Acorda Cidade – O paciente que passa pela prostatectomia perde a potência sexual?

João Batista – Uma das sequelas da cirurgia é a disfunção erétil, isto porque os nervos eretores do pênis passam junto à próstata. Na retirada do órgão pode ser que haja comprometimento das raízes nervosas e, consequentemente, cerca de 20 a 30% dos homens vão desenvolver disfunção erétil.

Acorda Cidade – Quem tem hemorroidas tem mais chances de desenvolver câncer de próstata?

João Batista – Em absoluto. A hemorroida é uma varize, uma dilação de uma veia hemorroidária do complexo vascular que drena o sangue o reto. Não tem nada a ver com câncer de próstata.

Acorda Cidade – O paciente que tem a próstata grande, fez a biopsia e o resultado foi benigno precisa operar?

João Batista – Ele será operado somente se tiver obstrução infravesical, ou seja, dificuldade para urinar, e uma alternativa pode ser o uso de medicações ou então o tratamento cirúrgico, mas fica a critério do profissional que está acompanhando.

Acorda Cidade – Qual o índice de câncer de pênis?

João Batista – No Brasil, nas regiões Norte e Nordeste há uma alta incidência de câncer de pênis, quando comparado com a população mundial. O câncer de pênis representam 2% de todos os cânceres no homem. Parece pouco, mas infelizmente o tratamento é mutilado, com a penectomia, que é a amputação do pênis e levou à morte 360 pessoas em 2013, que é o último dado do Inca. O que a gente chama a atenção é que esse câncer pode ser totalmente evitado com o cuidado higiênico, se o homem ao tomar banho lavar o pênis. Aqueles pacientes que não conseguem expor a glande (cabeça do pênis), que têm fimose, esses homens têm indicação cirúrgica, que é uma grande alternativa para evitar câncer de pênis.

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