Professor conta como transformou uma comunidade através do esporte

^{Laiane Cruz e Ney Silva}

O atletismo é um conjunto de atividades esportivas que envolvem a corrida, saltos e arremessos, e foi com essa modalidade que o professor de educação física Antônio Ferreira, mais conhecido como Ferreirinha, transformou a vida de jovens e adolescentes da comunidade carente de Flamengo, situada no município de Jaguarari, na região norte da Bahia.

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Segundo ele, a ideia surgiu após uma reunião, na escola em que trabalhava, para abordar os altos índices de violência da comunidade.

“Um dia em uma reunião da escola, há doze anos, a diretora propôs que a gente trabalhasse o Projeto Paz, e eu já estava sendo cobrado pela minha filha, que queria ser atleta, então resolvi trabalhar o atletismo na escola, por ser um esporte muito pacífico, redentor e que não cobra muitos materiais. Eu vi que a gente poderia trabalhar aqueles objetivos que traçamos na sala de aula e a prática com os alunos”, contou o professor em entrevista ao Acorda Cidade.

Ele lembra que, na época, começou então a recolher garrafas pet para serem utilizados como instrumento no esporte. À medida que os estudantes iam se envolvendo com as aulas, passaram a ser mais calmos e disciplinados, respeitando inclusive o patrimônio público.

Parcerias

O projeto foi crescendo e com o tempo se tornou conhecido em todo o Brasil, depois que o apresentador Luciano Huck esteve na comunidade de Flamengo para conhecer de perto a iniciativa e ajudar através do seu programa. A partir daí, várias pessoas e empresas se dispuseram a colaborar com os atletas de Jaguarari.

“Nós evoluímos demais, a ponto de irmos para as competições escolares em Salvador, dominarmos e vencermos até dez provas, e de 20 vencermos 19. A seleção baiana colocou cinquenta por cento dos meninos que vão para competições nacionais e metade foi desse povoado. Então é um povoado que merece aplauso, não por chamar Flamengo, mas por trabalhar o atletismo”, afirmou Ferreirinha.

Aproximadamente 100 crianças são beneficiadas pelo projeto, sendo 60 do próprio povoado e as demais de povoados vizinhos. “São crianças especiais, que mostram que realmente nasceram para aquilo e todas têm talento”.

Ainda de acordo com Ferreirinha, além das competições nacionais, os atletas já participaram de eventos também no exterior. “A última competição que nós tivemos de mais importante foi o campeonato escolar sul-americano, no Chile, onde a aluna Ticiane ganhou medalha de bronze, e estivemos nos Jogos Escolares da Juventude, em Brasília, no mês de novembro, onde ganhamos uma medalha com a Thais. Então os meninos têm viajado muito, andado de avião e ficado em hotéis luxuosos, tudo isso por conta do esporte”.
Ferreirinha diz que apesar de todo o apoio que recebem o Projeto Paz necessita de mais recursos.

“Nós estamos nos mantendo, pois a prefeitura de Jaguarari nos dá o transporte para participarmos das competições em Salvador. Precisamos evoluir ainda mais porque precisamos de outras ajudas e quando se trabalha com o esporte e se vislumbra o crescimento, o desenvolvimento, os investimentos têm que ser maiores. O governo do estado, através da Sudesb, construiu uma pista de pó de brita e isso tem nos colocado em um alto patamar. Os nossos atletas aqui vão para São Paulo e correm com os melhores.

Estivemos em Bragança Paulista e ganhamos duas medalhas de prata, que foi a competição que credenciou a Ticiane, uma das nossas atletas, a ir para a seleção brasileira. Temos três atletas que recebem bolsa porque ficaram ranqueados entre os melhores do Brasil, que são critérios do Bolsa Esporte. E temos algumas empresas, profissionais liberais, que entram em contato com a gente para nos ajudar”, relatou.