Feira de Santana
Seca: 80% da produção na zona rural foi perdida, dizem trabalhadores
A equipe do Acorda Cidade visitou quatro dos oito distritos e mostra a situação das pessoas que têm dificuldades de água até mesmo para consumo humano.
22/12/2015 às 06h51, Por Andrea Trindade
Daniela Cardoso e Ney Silva
A seca na zona rural de Feira de Santana está sendo considerada uma das piores dos últimos anos. A ausência de chuvas regulares desde julho deste ano deixou os trabalhadores desesperados. O cultivo de milho, feijão, mandioca, verduras e até mesmo o caju foi perdido.
A equipe do Acorda Cidade visitou quatro dos oito distritos e mostra a situação das pessoas que têm dificuldades de água até mesmo para consumo humano.
Na comunidade de Tapera 1, em Jaíba, a trabalhadora rural Maria Catarina Moreira contabiliza os prejuízos. Ela produzia muito e vendia nas feiras livres. Em 2015, tudo foi perdido e há mais de três anos ela diz que não consegue uma boa safra.
“Estou sem produzir feijão, milho, aipim, batata, feijão de corda, laranja, coco, manga, pimenta, alface, coentro, salsa, entre outros alimentos. Tem mais de três anos que não tenho uma safra boa. Só temos para o consumo da casa, mas para vender e ganhar um dinheiro não tem mais. Caju mesmo, este ano perdemos tudo. São 22 pés que se estivessem carregados dariam pra fazer um bom dinheiro”, afirmou.
Entre os produtos que a trabalhadora rural conseguiu colher este ano estão a mandioca e o aipim, porém ela afirma que não é possível comercializar o aipim, pois o alimento não fica mole, devido ao forte sol.
“O aipim está duro e só serve para fazer bolo, para ser consumido cozido com café não serve, pois está muito duro. A mandioca dá pra fazer a farinha, mas também sem muita qualidade. Não tem como fazer nada, pois não temos água da Embasa. Estamos usando água da chuva, mas no final do mês a conta chega. Todos os povoados daqui estão nessa situação há mais de três meses”, afirmou.
Ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e líder sindical, Dionízio Pereira também falou sobre a estiagem. Segundo ele, a temperatura está muito alta e, mesmo rodeado de árvores, reclama do calor na comunidade de Candeal.
“Sempre teve esses momentos de estiagem, o que é uma dificuldade para nós que vivemos no campo, mas igual agora, eu, com 69 anos de idade, não tinha visto uma temperatura assim. Nossa área é pequena, mas é bem arborizada, ainda assim a situação é sufocante e preocupante, pois não sabemos até quando vai continuar. O sol está queimando e o clima é abafado demais até durante a noite”, contou.
A trabalhadora rural Ivonice Rodrigues de Freitas, conhecida como Vanda, que mora na comunidade de Boa Vista em Tiquaruçú, também não tem o que comemorar este ano. O que plantou acabou perdendo.
“Esse foi um ano ruim. Não vendi nada, pois não deu. O milho foi muito pouco que não deu nem para as galinhas comerem. Feijão também foi muito pouco, malmente deu para o consumo da família. Se tivesse chovido mais, a gente teria colhido melhor”, disse.
O lavrador Pedro Moreira da Fonseca, que tem 80 anos, costuma plantar milho, feijão, mandioca, entre outros produtos, e também cria gado. Ele perdeu a metade da safra e diz que luta muito para sobreviver nesse período de seca.
“Eu perdi uma parte do que plantei de feijão, de milho e agora tem que seguir com a luta. É muito sofrimento, tem noites que não durmo mais. Tinha pessoas trabalhando comigo, mas tive que dispensar. Quem é que com essa seca consegue pagar os trabalhadores?”, questionou.
Para matar a sede dos animais, Pedro Moreira armazena água da Embasa. Mas ele também reclama da falta de regularidade com que a água cai nas torneiras.
“A gente faz um depósito de água, mas a água aqui falta sempre. O pessoal da Embasa disse que vai colocar os tubos mais fortes. Eu tenho uns três ou quatro tanques para encher”, afirmou.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, José Ferreira Sales (Zé Grande), acompanhou a nossa equipe em comunidades dos distritos de Jaíba, Tiquaruçú, Matinha e Maria Quitéria. Ele diz que os trabalhadores tinham esperança até o início de julho deste ano devido às fortes chuvas na zona rural. Mas depois disso, não choveu mais e os prejuízos são enormes.
“De julho pra cá a situação ficou difícil e agora é preocupante. Vários agricultores estão sofrendo com a falta de água tanto para o consumo humano como para o consumo animal, sem contar que mais de 70% da safra de feijão e milho foi perdida, além da safra de caju e manga que já está considerada perdida. Estamos fazendo uma visita pela zona rural e cada agricultor confirma o que estamos dizendo no dia a dia”, afirmou.
Zé Grande disse que agora vai buscar meios e solução junto aos governo municipal e estadual para tentar amenizar um pouco essa situação do homem do campo. Ele reclama ainda da falta de água da Embasa.
“A falta de água da Embasa ataca diretamente as famílias. A gente não vê tanto sofrimento com a falta de água para os animais, mas para as pessoas a Embasa tem deixado a desejar, por isso, estamos marcando uma audiência para discutir, além da falta de água, o recibo que muitas pessoas receberam com preços muito altos, mesmo com a falta de água”, informou.
Fotos: Nay Silva/Acorda Cidade
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