Feira de Santana

'Não tinha ideia da existência desta fraude', diz coordenador do Movpaz

A suposta organização criminosa era liderada pelo coordenador nacional da ONG Mov PAZ Brasil, Clóves Nunes.

28/11/2013 às 18h48, Por Andrea Trindade

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Andrea Trindade
 
De todas as armas arrecadadas no país, na Campanha do Desarmamento, Feira de Santana foi a cidade que mais recebeu armas no período de um ano e dez meses, o que significa proporcionalmente que a cidade estava arrecadando mais do que São Paulo e Rio de Janeiro.  Este fato chamou a atenção da Polícia Federal, que a pedido do Ministério da  Justiça, aprofundou as investigações e em três meses descobriu a fraude.
 
De posse de mandados de prisão, busca e apreensão, a Polícia Federal deflagrou a operação em Feira de Santana, Cícero Dantas e Antas, na Bahia, e em Fortaleza, no Ceará. 
 
Em entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (28), o delegado da Polícia Federal, Wal Goulart, informou que a suposta organização criminosa era liderada pelo coordenador nacional da ONG Movpaz Brasil, Clóves Nunes. A ONG existe em 27 cidades, em dez estados. 


Sobre a acusação, Cloves Nunes disse que está surpreso e que "não tinha a menor ideia" da existência dessa fraude. 
 
"Preciso de uma explicação legal sobre o assunto porque as armas que chegam ao posto em Feira de Santana são todas pagas pela Polícia Militar e autorizadas pelo Ministério da Justiça. Algum mal entendido na campanha produziu essa ação. Estamos entrando em contato com Brasília e com advogados para saber qual a razão desta determinação da justiça", declarou Clóves.
 
De acordo com o delegado, ele pode responder por diversos crimes, entre eles peculato doloso, peculato eletrônico, formação de quadrilha e outros delitos previstos no código de desarmamento.
 
“Foi feita uma investigação mais profunda e foi descoberto que os integrantes da ONG Mov Paz Brasil  estavam fraudando o programa do Governo Federal. É inconcebível que uma cidade do tamanho de Feira de Santana arrecade 14% de toda a arrecadação do país. 
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O delegado explicou que todos os tipos de armas podem ser entregues no posto de arrecadação, porém apenas os donos de armas industriais têm direito a indenização pela entrega, que varia de R$ 150 a R$ 400. No entanto, a ONG  recebeu 8.820 pagamentos de indenizações pelo Governo Federal, quando deveria receber de apenas 400, pois a grande maioria das armas entregues não era industrial.
 
“Também existe a suspeita de fabricação de armas para receber essas indenizações. Eles até geravam indenizações de armas que não existiam. A fraude foi praticada por Clóves Nunes, seu irmão Carlos Nunes e vários  voluntários. A rede é enorme, mais de 50 pessoas, mas nos concentramos naqueles principais. A polícia está ouvindo os conduzidos para saber o destino no dinheiro desviado e qual foi a quantia que coube a cada um”. 
 
Prisões
 

Além do coordenador nacional da ONG, outras três pessoas foram presas: Jackson Matos Dantas, na cidade de Antas, Gildásio Santos da Silva, em Cícero Dantas, e Carlos Nunes, irmão de Clóves Nunes. 
 
Todos já foram conduzidos para o Conjunto Penal de Feira de Santana. O coordenador nacional, que foi preso em Fortaleza, chegou à cidade no final da tarde.  Estão foragidos Robson Santana de Souza e a esposa Edscley Fontes Macedo, de Cícero Dantas.
 
Empréstimo de senha
 
 
O coronel Martinho, que foi detido durante o cumprimento de um dos mandados, já foi liberado. Segundo o delegado, a suposta organização criminosa agia de má fé, ao pedir a senha do sistema Desarma à polícia. 
 
“Esse tipo de parceria exige que tenham um servidor público na ONG e nesse caso foi o policial. É ele quem tem que receber as armas, analisar, filtrar, verificar o direito a indenização, gerar o protocolo e levar a arma para o batalhão. Podemos dizer que houve uma certa facilitação e ele repassou a senha dele para Clóves Nunes. Até então, não temos nenhuma prova que o incrimine. O único erro dele foi ter fornecido a senha e o grande prejuízo foi para a credibilidade da campanha”, declarou o delegado. 
 
Novas Casas da Paz
 
Wal Goulart informou ainda que a Organização Não Governamental estava se expandindo pelo Brasil. Em Fortaleza já tinha sido inaugurada uma Casa da Paz para receber armas e há indícios de que eles também estavam induzindo a erro o comando da Polícia Militar do Ceará.
 
“Sei que ele iria abrir também postos de recebimento de armas em Recife, Caruaru, Maceió e em São Luís, até o final do ano e certamente iria usar os mesmos modos operantes. Iria cometer a mesma fraude. Mas essa ONG não vai mais poder fazer nenhum convênio com o Governo Federal”, afirmou.
 
Com informações do repórter Ed Santos do programa Acorda Cidade.

Fotos: Ed Santos/Acorda Cidade

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