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Política externa de Trump fortalece laços entre China e América Latina

Esse é tema de artigo do novo Boletim de Economia e Política Internacional do Ipea.

Parceria entre países
Foto: Rafael Felix

Diante da política externa coercitiva, transacional e imprevisível do governo Donald Trump, com rupturas de alianças e diversas formas de ameaças, como os países da América Latina e do Caribe podem se adaptar? Quem ganha espaço com esta mudança?

Em contraste com os Estados Unidos, a China tem se apresentado publicamente como um parceiro previsível e confiável. Para os países da região que já mantêm relações econômicas profundas com a China (como Brasil, Argentina e Peru), há incentivos para se redobrar a aposta. Já para os que dependem mais dos EUA, cresce o interesse pela diversificação de parcerias. É o que argumenta o artigo O Fórum China-Celac: uma plataforma e “marca” para o multilateralismo sinocêntrico, de autoria de Rodrigo Fracalossi, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). 

O texto faz parte do número 40 do Boletim de Economia e Política Internacional (Bepi), publicado com o tema “Efeitos da ascensão econômica da China sobre outros países e regiões do mundo”. O autor analisa o papel do Fórum China-Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) como instrumento e expressão de um multilateralismo sinocêntrico — um modelo minimalista, plural e orientado para agendas de desenvolvimento. O Fórum foi criado em 2014 a partir de uma proposta do governo chinês. 

Inserido nas iniciativas globais da China, o Fórum coordena a interação do país com a região. Fracalossi argumenta que o Fórum não é apenas espaço de diálogo, mas também ferramenta de socialização de elites. Por meio dele, a China conduz uma diplomacia de atacado, interagindo com múltiplos atores, apresentando posições e tomando decisões de forma mais eficiente. Ao mesmo tempo, governos da América Latina e Caribe podem acessar elites chinesas e obter informações de primeira mão. 

“À medida que a confiança nos EUA diminui e as interações positivas com a América Latina e Caribe se reduzem, os EUA perdem parte do conhecimento e da influência acumulados ao longo do tempo. Perdem também capacidade de socializar elites da região, abrindo mais espaço para a China”, explica Fracalossi. 

As relações entre a China e os países da região têm adquirido cada vez mais importância. Entre 2005 e 2023, o financiamento ao desenvolvimento da China para a América Latina e o Caribe totalizou US$ 138 bilhões. No mesmo período, o Brasil se afirmou como maior parceiro comercial do país asiático, com 34% dos fluxos comerciais da China para a região.

No caso do Fórum, apesar de ser ainda um espaço majoritariamente discursivo, a sua relevância tende a crescer, porque permite interações entre organizações, governos e elites e, além disso, funciona como um espaço legitimador de ideias e ações. Por meio dele, as relações entre a China e os demais países-membros têm se alterado, não apenas em volume, mas, também, em natureza. 

“Ele [o Fórum] simboliza o esforço da China para construir uma arquitetura própria de multilateralismo, paralela às instituições tradicionais como ONU, FMI, Banco Mundial ou OEA”, destaca o autor. 

Para o pesquisador, a China detém mais controle sobre a agenda do Fórum do que os países latino-americanos e caribenhos. A Celac, argumenta, poderia atuar de forma mais coordenada nas negociações com a China. No entanto, fatores como a heterogeneidade entre os países e a ausência de lideranças regionais dificultam a realização plena de seu potencial.

Boletim de Economia e Política Internacional

Criado pelo Ipea, o Bepi é uma publicação temática e multidisciplinar, voltada à análise de fenômenos contemporâneos que conectam economia e política globais. Publicado quadrimestralmente, o periódico é referência para pesquisadores e formuladores de políticas públicas, oferecendo uma plataforma para estudos e análises que contribuem para o entendimento de questões globais com impacto no Brasil e no mundo.

Além de explorar os impactos da ascensão econômica da China, o Bepi já abordou temas como relações internacionais de entes subnacionais, comércio global e transição energética, reforçando seu compromisso com debates essenciais para o desenvolvimento.

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