Um estudo avaliou as condições mentais da população de Feira de Santana após o período da pandemia. A Pesquisadora do Núcleo de Epidemiologia da Universidade Estadual de Feira de Santana (Nepi-Uefs), Ariane Cedraz Morais, falou sobre a realização do Projeto Vigilância em Saúde Mental no Contexto da Pandemia da Covid-19, coordenado pelas professoras Tania Maria de Araújo e Natália do Carmo.
Segundo a professora, o projeto teve um perfil de censo, quando dados são colhidos da população. 3.870 pessoas foram ouvidas em diversos pontos de Feira.
“É a terceira vez que essa pesquisa acontece em Feira e ela tem uma preocupação voltada em trazer esse diagnóstico de como anda a saúde mental da população de Feira”.
O trabalho começou em maio de 2022 e teve conclusão em julho deste ano. Em 2019, um estudo semelhante também foi realizado, o que permitiu às pesquisadoras um perfil de antes e depois da pandemia. Ela explicou em entrevista ao Acorda Cidade como ocorreu a sondagem dos entrevistados e reforçou que o estudo não tem o objetivo de diagnosticar, mas de realizar um rastreio.
“A gente rastreia alguns diagnósticos, sintomas para depressão, transtornos de ansiedade, alimentares, ideação suicida; e o que a gente viu foi que houve um aumento expressivo da população de modo geral, mas especialmente na população de Feira, a gente vê que houve um aumento entre as mulheres”, colocou.
Avaliação
O Nepi trabalha sobre duas linhas, a saúde mental e a saúde do trabalhador. A pesquisadora explicou os motivos que levaram a realização do estudo pelo núcleo.
“Esse ano nós temos feito uma ampla divulgação, justamente por entender que a população tem adoecido, tem os efeitos da pandemia, a gente sempre está com aquela sensação de que no mundo está acontecendo tudo muito rápido, o nível de globalização é muito intenso e a população não se dá conta disso. As redes sociais, as telas trouxeram esse nível de adoecimento, o trabalho também nos consome muito”, pontuou Ariane.
Um dos aspectos de avaliação foi o uso excessivo das telas por adultos que também tem impactado a saúde mental das pessoas. A pobreza, a falta de emprego e a vulnerabilidade social e econômica das pessoas também são motivos do adoecimento durante e após a pandemia.
Metodologia
Através do financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), o estudo contou com 15 entrevistadores, mais os bolsistas do Nepi. Geograficamente, a cidade foi dividida em cinco subdistritos, o que permitiu pegar dados de cada região. Inclusive, este estudo entrevistou as mesmas casas ouvidas nas pesquisas de 2019.
Resultado
32% das pessoas apresentaram transtornos mentais comuns, onde elas apresentam condições psicossomáticas, como ansiedade, insônia e agitação. Em relação à ansiedade em si, houve 8,3%. Aqueles que perderam parentes, que passaram por necessidades, que perderam o emprego, podem sofrer com ideações suicidas.
A Pesquisadora
Além de professora, Ariane é enfermeira obstetra. Ela contou ao Acorda Cidade, o que levou a trabalhar com a saúde mental.
“Como enfermeira, eu comecei a trabalhar com mulheres em situação de vulnerabilidade, vítimas de violência; já fiz um trabalho no presídio de Feira e acabei entrando na área de pesquisa da saúde mental e epidemiológica”, contou.
Outro dado importante é a relação das mulheres na pesquisa. Segundo Ariane, elas podem ter até quatro vezes mais chances de adoecerem do que os homens. A sobrecarga doméstica foi um dos pontos analisados.
“Isso teve um impacto importante na pandemia, porque as mulheres se desdobraram nos cuidados das casas, com os filhos afastados das escolas, então isso também afeta de um modo especial as mulheres”, pontuou.
Próximas etapas
Assim como é importante investir em pesquisar, colher os resultados para geração de políticas públicas é fundamental para corrigir deformações sociais no país. O estudo realizado pelo Nepi demonstra a relevância em se falar de saúde mental, principalmente após o período traumático coletivo, que foi à pandemia e aponta formas para melhorar essas condições, que é falando e estudando o que está acontecendo.
“A ideia é trazer esse mapa, esse diagnóstico da saúde mental em Feira, divulgar isso entre as universidades parceiras e a secretaria de saúde. Inclusive esse é um espaço para se falar sobre isso e abrir um diálogo com a população”, disse.
Segundo a pesquisadora, o estudo será ampliado para discutir a saúde mental das mulheres que lidam com o trabalho doméstico.
Para finalizar, Ariane falou que é importante a pessoa reconhecer o adoecimento e dar o primeiro passo de buscar o tratamento. Reconhecer que você precisa de ajuda!
“A triagem é pela Unidade Básica de Saúde e a partir daí, ela será encaminhada para uma rede especializada de saúde mental. Nós temos psiquiatras, psicólogos para poder dar esse passo a frente”, concluiu.
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