
Valdomiro Silva
Professor universitário, cronista, jornalista cultural, articulista político, poeta e por último, mais recentemente, alçado à condição de influencer nas redes sociais, o multifacetado médico e intelectual César Oliveira entra para o rol dos imortais da Academia de Educação de Feira de Santana. Sua posse, na tarde de quarta-feira, dia 11, aconteceu em concorrida cerimônia em um dos salões do centenário Casarão dos Olhos D’Água, que os historiadores acreditam ter sido a primeira residência desta cidade, erguida pelo casal Domingos Barbosa de Araújo e Ana Brandoa. O presidente do sodalício, ex-reitor da Uefs e ex-secretário de Educação do Município, Josué Mello, fez as honras da Casa e comandou os trabalhos.
A mesa da qual o novo acadêmico fez parte foi constituída por várias outras personalidades do meio educacional: a fundadora e primeira presidente da Academia, ex-reitora da Uefs e atual secretária de Educação, Anaci Paim (que representou o prefeito Colbert Martins); o secretário de Desenvolvimento Urbano do Município, Sérgio Carneiro (que representou o secretário de Cultura, Jairo Filho); a também ex-secretária Ana Rita Neves e a ex-secretária de Educação, escritora e representante das demais academias locais, professora Lélia Vítor Fernandes. Prestigiaram ainda a cerimônia os jornalistas Marcílio Costa (TV Subaé), Dilton Coutinho (Rádio Sociedade News), Valdomiro Silva (ex-secretário de Comunicação) e o publicitário Moacir Mansur, além do ex-prefeito e membro da Academia, José Raimundo Azevedo.
Anaci, madrinha do seu mais novo confrade na Academia por ela criada – em 2022 estará debutando, ao completar 15 anos – fez a saudação ao médico, enaltecendo as suas qualidades. Ela disse estar impressionada com o extenso e elevado currículo do doutor César. Lembrou da atuação dele em diversas frentes, com o olhar sempre voltado para o resgate da memória, a cultura, o desenvolvimento social e estruturante da cidade, especialmente na área da educação e modernização da cidade. E registrou todo o seu empenho, enquanto docente da Uefs, para que o curso de Medicina ali fosse implantado, aproximadamente duas décadas passadas, integrando uma primeira comissão de estudos e posteriormente, com o objetivo alcançado, tendo sido coordenador por cinco anos.
O presidente Josué Mello se mostrou entusiasmado com a chegada do professor César Oliveira à instituição. Considera que seus múltiplos conhecimentos vão agregar substancialmente às atividades da Academia. “Faremos, todos nós, uma viagem muito agradável e proveitosa”, disse ele, ao destacar as diversas habilidades do novo colega, especialmente nas áreas do ensino e da comunicação. A acadêmica Ana Rita Neves pediu autorização ao presidente da Academia para quebrar o protocolo e ler uma das mais celebradas crônicas do médico e professor, em que ele conclama a todos “fazer algo que possa valer à pena em todos os dias da vida”.
SUCESSOR DE JOSELITO AMORIM E DO PATRONO HILDÁRIO BISPO DE AZEVEDO
Sucessor do professor Joselito Amorim, na cadeira 14, que tem como patrono uma grande personalidade da educação em Feira, o professor e advogado Hildário Bispo de Azevedo, César Oliveira fez um discurso em que lembrou suas origens. O pai, Antônio Moreira de Oliveira, já falecido, foi um homem pobre, que perdeu todas as unhas salgando couro e veio a tornar-se o bem sucedido criador de boi Antônio de Macrino, muito conhecido em Feira e região. Dona Irene, a mãe, professora, 91 anos, com extraordinária memória, testemunhou a posse do filho. A esposa do acadêmico, a conceituada médica Ana Maira de Oliveira, uma das referências nacionais na área de obesidade infantil, também professora da Uefs, esteve atenta e com o celular sempre a postos, a filmar o acontecimento. Os filhos Átila e Ana Luiza, médicos, estão comprometidos em Residência Médica e não puderam comparecer.
Nascido no Hospital Dom Pedro, nesta cidade, César começou os estudos na pequena Escola Dom Pedro II, de Coração de Maria, onde viveu com os pais até os 10 anos de idade, quando foi levado pelos pais para Salvador. Na capital, foi aluno do tradicional colégio 2 de Julho, de onde seguiu para o curso de Medicina na Universidade Federal da Bahia. Sua especialidade é a nefrologia e em Feira de Santana é um dos sócios da clínica Iune, ao lado dos colegas Getúlio Barbosa, João Batista de Cerqueira e Luciano Vital. Atingiu o ápice de sua carreira ao concluir o doutorado em Medicina e Saúde. Há alguns anos, coordena a Residência Médica do Hospital Geral Clériston Andrade.
Falando em plano nacional, ele disse que é preciso educação, mas eficaz. “A educação não eficaz é um duplo golpe nos pais, que colocam seus filhos em uma escola na expectativa de estar lhes dando o saber necessário. Porque ela ilude, engana, trapaceia, com a esperança de quem mais necessita. Essa é uma responsabilidade que não é só do poder, mas de cada professor”. Quando o Brasil apresenta trágicos índices educacionais nas avaliações internacionais, ele diz, está “condenando gerações inteiras a um mesmo estado de inanição, dependência estatal e amoralidade social, o que ameaça a democracia, a cidadania e a individualidade”.
É “assombroso”, considera, o número de 40% de analfabetos funcionais no ensino superior, conforme pesquisa do Instituto Montenegro. O professor da Uefs lembra que em 2021 a educação no Brasil estava na 53ª posição no mundo, segundo avaliação internacional do PISA. “Precisamos de projetos educacionais longevos, coletivos, sem cacoetes ideológicos ou de qualquer tipo, pois não é mudança que ocorra em curto prazo. Educação é um projeto, não meramente uma ação isolada a ser modificada a cada governo. Portanto, assinala, “todo esforço, todo conjunto de pessoas reunidas que se mova com o mesmo interesse, responsabilidade de construir, contribuir, debater, cobrar educação, como essa Academia, precisa ser ouvida”.
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