Cenário de Doenças Raras no Nordeste
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Nesta terça-feira (21), Feira de Santana recebeu o 1º seminário Cenário das Doenças Raras no Nordeste, promovido pela Casa Hunter, com apoio da Febrararas e Novartis. O evento, que aconteceu no auditório da Seduc, reuniu especialistas, profissionais de saúde, pacientes e familiares para discutir os principais desafios no diagnóstico e tratamento de doenças raras, reforçando a necessidade de políticas públicas específicas para essa população.

Cenário de Doenças Raras no Nordeste
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

O seminário abordou temas como o panorama nacional e regional das doenças raras, diagnóstico precoce, o Teste do Pezinho e o cuidado em rede para interiorização do atendimento. Segundo a coordenadora jurídica da Casa Hunter e da Casa dos Raros, Andreia Bessa, o objetivo é aproximar o debate das diferentes regiões do país. “Esse evento nasceu já há alguns anos. Nós fazemos todos os anos um evento nacional, e começou a surgir a demanda de criar eventos regionais, para aproximar mais a discussão dos estados ao cenário nacional. Esse é o primeiro no Nordeste”, explicou.

Cenário de Doenças Raras no Nordeste
Andreia Bessa | Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

De acordo com Andreia, muitos pacientes da região precisam viajar para São Paulo em busca de diagnóstico e tratamento, o que reforça a importância de fortalecer os serviços locais. Ela destacou ainda a necessidade de ampliar a triagem neonatal, o teste do pezinho e garantir o acesso às novas terapias disponíveis.

“A ideia é trazer as boas práticas do Nordeste e ampliar o atendimento, para que os pacientes não tenham que se deslocar. O desafio hoje é como esses pacientes vão ter acesso a essas terapias, porque a maioria chega com um custo muito alto e o Estado tem dificuldade de custear”, pontuou ao Acorda Cidade.

Cenário de Doenças Raras no Nordeste
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Algumas doenças raras podem ser controladas com acompanhamento multidisciplinar, permitindo ao paciente viver com qualidade. Para a coordenadora, os principais desafios ainda são o acesso ao diagnóstico, ao tratamento e ao cuidado contínuo que ajude o paciente a entender e lidar com a própria condição no dia a dia.

Graça Maria de Matos Gomes, bancária aposentada e organizadora do evento, foi uma das principais responsáveis por trazer a discussão para Feira de Santana. Ela própria convive com duas condições raras, o angioedema hereditário e a cútis laxa tardia. “Foi uma realização pessoal para a comunidade de raros, porque a partir desse evento eu espero que tenham sido plantadas as políticas públicas necessárias para melhorar o atendimento aos pacientes raros em nossa região”, explicou Graça.

Cenário de Doenças Raras no Nordeste
Graça Maria | Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Durante o seminário, Graça compartilhou um pouco sobre como as doenças raras impactam sua vida. “Toda doença rara cria limitações. Por mais aparente que você imagine que seja a doença, ela traz limitações porque não acontece só a olho nu. Hoje mesmo você pode me olhar aqui e não ver que estou inchada, tudo bem, mas por dentro está acontecendo uma ebulição aqui por causa do angioedema. Ele acontece nas áreas interna e externa da pessoa”, contou.

Cenário de Doenças Raras no Nordeste
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Graça destacou o apoio que recebeu da Casa Hunter, instituição nacional com reconhecimento internacional no apoio a pacientes com doenças raras. O seminário, promovido pela entidade, trouxe à tona a necessidade de melhorias nos serviços de saúde para esses pacientes. “Já existem projetos de ambulatórios com faculdades. Nós plantamos uma grande semente e certamente políticas públicas virão para melhorar esse atendimento”, destacou Graça ao Acorda Cidade.

Cenário de Doenças Raras no Nordeste
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

A organizadora do evento também comentou sobre a falta de dados precisos sobre o número de pessoas com doenças raras em Feira de Santana. “Infelizmente, no Brasil a gente não tem uma estatística exata. O que nós temos é projeção, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), que prevê de 6% a 7% da população mundial. Trazendo esse índice para o Brasil, são 13 milhões de pessoas. Na Bahia, o número é quase 900 mil e, em Feira, 47 mil pessoas podem ter algum tipo de doença rara”, explicou.

Cenário de Doenças Raras no Nordeste
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Entre os participantes estava Fábio Nascimento, de 45 anos, morador de Nova Itarana, que há oito anos convive com uma condição ainda sem diagnóstico. Ele contou que o problema provoca o “ressecamento dos líquidos das cartilagens” e tem causado a perda de movimentos nos membros. “O seminário eu conheci através da nossa amiga Graça, lá em Brasília. Ela me apresentou o projeto da Casa Hunter e me convidou para esse evento, para poder me ajudar também a achar uma solução para o meu estado. Os médicos acham que pela minha situação já teria que estar botando prótese no meu corpo”, contou Fábio.

Cenário de Doenças Raras no Nordeste
Fábio Nascimento | Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Com dificuldade de locomoção e dores intensas, Fábio busca um diagnóstico e tratamento adequado. Ele também reforçou a dificuldade do SUS em só cobrir próteses a partir dos 60 anos, o que dificulta o tratamento para pacientes mais jovens. Além disso, o custo dos materiais é alto, especialmente os importados, e o sistema público enfrenta limitações financeiras para custear várias próteses.

“Um evento desse é muito grandioso, para que a gente possa abrir portas para ter conhecimento, saber que existem lugares onde podemos recorrer atrás disso”, afirmou.

Cenário de Doenças Raras no Nordeste
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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