Daniela Cardoso
Após uma carta aberta à sociedade divulgada na última segunda-feira (29) pela a empresa de ônibus Rosa LTDA, que integra o sistema de transporte público de Feira de Santana, relatando problemas enfrentados desde que passou a atuar na cidade, o prefeito José Ronaldo de Carvalho disse, ao Acorda Cidade, que a atitude da empresa foi deselegante. Ronaldo disse que não gostaria nem mesmo de responder a carta, mas que faria isso em respeito a população.
“Essa carta foi no mínimo deselegante. A empresa quer externar um assunto interno para a sociedade. Isso não tem nada a ver com a prefeitura. Eles assinaram um contrato emergencial e eu agradeço pela atitude deles. Conseguimos fazer uma licitação com duas empresas, que estão em cumprimento com a parte delas no contrato, em grande parte. Ainda faltam algumas coisas a exemplo de GPS nos ônibus, câmeras em todos os veículos, entre outras coisas. Eu nunca falei isso, porque ainda estão acontecendo reuniões, sempre com muito respeito e total transparência com a participação dos dois lados. Por isso que entendi de forma estranha a empresa Rosa emitir essa nota”, afirmou.
O prefeito afirmou que se a empresa queria dar uma satisfação aos funcionários, até poderia fazer isso, mas não através de uma nota pública, que ele considera um “erro”. Um dos pontos abordados na carta, é referente a arrecadação. A empresa Rosa afirma que “as receitas não são suficientes para arcar com os custos operacionais, incluindo mão de obra”. Sobre a questão, Ronaldo disse que ainda é necessário mais tempo para fazer uma melhor avaliação da questão, já que o sistema perdeu passageiros quando as antigas empresas deixaram de prestar o serviço na cidade.
“O sistema entrou em operação no dia 15 de janeiro, portanto temos 45 dias. Quando eles assumiram emergencialmente, o sistema estava muito ruim. Existia em dezembro de 2014 um determinado número de passageiros. A empresa quer chegar a esse determinado número. Acontece que com o sistema ruim, muitos passageiros saíram para o clandestino. Quando veio o sistema de forma emergencial aos poucos foi readquirindo os passageiros. Na última reunião perguntamos se janeiro e fevereiro seria parâmetro para saber o número de passageiros nos ônibus. Por unanimidade responderam que não, pois são meses de férias, onde as pessoas pegam menos ônibus. O mês de março seria o mês para ser o parâmetro”, explicou.
Vale transporte
Outro ponto alegado pela empresa Rosa foi a decisão da prefeitura em efetuar o pagamento do vale-transporte aos seus servidores em dinheiro, retirando importante fonte de receita das empresas concessionárias. Essa questão, segundo o prefeito José Ronaldo, foi discutida em diversas reuniões. Ele informou que o valor em dinheiro recebido pelos servidores só poderá ser usado para pagar a passagem e destacou que haverá fiscalização.
“Isso é uma lei. Os servidores terão que assinar um documento do próprio punho afirmando que os recursos que eles estão recebendo serão utilizados para transporte, se não o dinheiro não entrará no mês de março. Como essa fiscalização será feita? As empresas têm direito por lei, de solicitar a relação dos servidores públicos para saber se eles se inscreveram para fazer o vale eletrônico. Se eles não se inscreveram, quer dizer que eles não estão usando o dinheiro nos ônibus. Isso é lei e não é invenção da prefeitura”, ressaltou.
Transporte clandestino
O destaque principal no desabafo da empresa Rosa é contra a atuação do transporte clandestino. A empresa também reclama do sistema alternativo. Sobre essa questão, José Ronaldo disse que todos os dias são presos carros que fazem transporte clandestino na cidade e disse que a questão dos alternativos estava sendo discutida em reuniões com as empresas do transporte coletivo Rosa e São João.
“Eles falam da questão das vans que faziam alimentação. Sobre isso foram feitas diversas discussões e as empresas ficaram de apresentar por escrito algumas ideias e o município também ficou de estudar esse assunto. Até ontem as empresas não tinham apresentado essas ideias para serem estudadas. Por isso que eu digo que essa carta foi estranha, já que as discussões estavam sendo feitas”, pontuou.
Créditos no cartão
Muitas pessoas ainda reclamam sobre os créditos nos cartões que ainda não foram ressarcidos. Segundo José Ronaldo, Mais de 98% desses créditos foram adquiridos por empresas e reuniões já foram realizadas com entidades representativas de classe, tanto do setor comercial, como do setor industrial. “Estamos conversando e aguardando algumas informações que solicitamos dessas entidades. Mas as pessoas têm todo o direito de entrar na justiça contra o Sincol”, disse.
Posição do sindicato
A carta enviada pela empresa Rosa, foi provocada pelo Sindicato dos Rodoviários de Feira de Santana, que verificou que desde o mês de dezembro o FGTS dos funcionários não era depositado. De acordo com o vereador Alberto Nery, que é presidente do sindicato da categoria, foi constatada a falta do pagamento através do extrato do depósito do FGTS dos empregados.
Alberto Nery informou que recebeu a carta da empresa e oficiou ao Ministério Público do Trabalho (MPT), que convidou as empresas para uma reunião. Ele disse que o MP marcou uma audiência para o próximo dia 10 e que o sindicato também oficiou a prefeitura no dia 26 de fevereiro, dando ciência ao prefeito das alegações contidas na carta enviada pela empresa.
“Fizemos isso porque é dever da prefeitura cobrar das empresas concessionárias a comprovação das suas obrigações trabalhistas. Os trabalhadores estão em pânico, pois já foram vítimas das duas empresas que aqui estiveram. Eles queriam que o sindicato tomasse uma decisão imediata de suspender as atividades, mas como nós temos responsabilidade com os trabalhadores e com a sociedade, nós oficiamos para agir por meio legal. A empresa diz na carta que poderá cessar, inclusive, os serviços. Isso precisa ser examinado, do ponto de vista do contrato, para saber se existe essa probabilidade de interromper os serviços”, disse.
Segundo Alberto Nery, representantes das empresas Rosa e São João estão vindo para Feira de Santana e o sindicato vai pedir uma reunião antecipada, com a presença do prefeito José Ronaldo, para poder esclarecer o que está acontecendo.
“Esses empresários estão sendo as mesmas vítimas dos ex-empresários. Eles chegaram em Feira comprando gato por lebre. Os empresários anteriores tinham a tarifa de R$ 2,35, hoje eles têm uma de R$ 3,10 com a possibilidade de cobrar R$ 3,30, mas o que faz aumentar o faturamento é uma boa prestação de serviço para trazer os passageiros para os ônibus. Houve uma melhora na frota, mas o serviço continua ruim”, avaliou.
Nery diz ainda que o sindicato já ajuizou em torno de 700 ações contra as antigas empresas e está chamando a prefeitura como solidária, pois ela é parte do processo.
Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade