Feira de Santana

Por medo de dirigir, feirenses buscam centros de treinamento para habilitados

De acordo com o diretor de um centro de treinamento para habilitados de Feira de Santana, Leonardo Cazumbá, a escola nasceu depois de uma pesquisa do IBGE revelar que 80% das pessoas que saíam da autoescola tinham algum tipo de dificuldade

Laiane Cruz

Mãos trêmulas, suor frio, medo, falta de prática e de incentivo. Essas foram algumas das situações vividas pela cabeleireira Eurides Nascimento, moradora do Conjunto Feira V, em Feira de Santana, apenas alguns dias após receber a sua primeira Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Mesmo com um carro na garagem, a profissional não se sentia segura em dirigir e sofria com a pressão de familiares, que temiam que algo acontecesse caso ela saísse sozinha com o veículo. 
 
Incomodada com a situação, a cabeleireira decidiu sozinha procurar um centro de treinamento para habilitados, uma espécie de autoescola, que atende pessoas que mesmo tendo sido aprovadas nos testes de rua do Departamento de Trânsito (Detran) apresentam dificuldades em conduzir um veículo, ou por não terem obtido um bom aprendizado ou porque após muito tempo sem dirigir perderam a prática. “Hoje eu me sinto feliz em poder pegar o carro e dirigir. Só com a prática a gente vai aprendendo, e a escola para habilitados me ajudou muito nisso”, conta.
 
De acordo com o diretor do centro de treinamento Dirigindo Bem, Leonardo Cazumbá, a escola nasceu depois de uma pesquisa do IBGE revelar que 80% das pessoas que saíam da autoescola tinham algum tipo de dificuldade relacionada ao ato de dirigir, como o medo, a falta de prática, insegurança, entre outros fatores. “Devido ao curto tempo que o aluno passa nas autoescolas, são mais macetes que eles passam para o aluno passar no teste, e não realmente estar nas vias dirigindo, tendo noção de espaço, de trânsito e outras situações”, afirmou.
 
Segundo ele, um centro de treinamento para habilitados preza não só pela questão prática, mas também para a emocional, e que o tempo médio para um aluno se sentir preparado varia de 60 a 90 dias de acordo com o perfil dele. Ele explicou que o cronograma das aulas é feito após uma aula experimental onde o habilitado é avaliado.
 
Ainda conforme o diretor, uma média de 30 a 35 pessoas procuram o centro mensalmente, e que desse total 80% são mulheres. “Isso é devido ao preconceito que o homem tem em relatar que têm medo de dirigir. Muitos estão nesta situação, têm dificuldade e não estão dirigindo hoje devido a não ter coragem em procurar esse tipo de ajuda. Alguns até negam ter habilitação para não sofrer brincadeiras”, completou.
 
Enfrentamento
 
De acordo com a psicóloga Mariana Matos, que atua como conselheira em uma escola para habilitados da cidade, o medo de dirigir pode vir de diversas fontes. “Pode vir da nossa cultura, que incentiva os meninos a ganharem carrinhos desde cedo e as meninas ficam mais de lado, a falta de apoio em casa, de incentivo, o comodismo de ter sempre alguém pra buscar e levar, a autoescola que foca muito na prova final e esquece um pouco de focar nos exercícios no trânsito. Tudo isso acaba gerando insegurança nas pessoas”, enumera.
 
Ela explica que o enfrentamento do medo não é um processo simples. Geralmente os sintomas são tremor nas pernas, suor nas mãos, mal estar e tensão muscular. Segundo ela, a principal queixa dos alunos, sobretudo das mulheres, é a falta de incentivo. “Muitas pessoas não encontram apoio nos parceiros, nos pais ou não têm veículo. Dirigir é uma tríade: prática, emocional e mecânica”.