Edilson Veloso - Planserv
Edilson Veloso | Foto: Daniela Cardoso

O que deveria ser um período de celebração natalina tornou-se um momento de desabafo e busca por justiça para famílias de servidores estaduais em Feira de Santana. Em entrevista ao programa Acorda Cidade, nesta quarta-feira (24), o professor Edilson Veloso relatou a perda da mãe, Ivone Ribeiro Falcão, de 90 anos, que faleceu após uma espera prolongada pela liberação de atendimento domiciliar (home care) por parte do Planserv.

Detalhe, há 70 anos a mãe dele pagava o plano.

O caso de Dona Ivone Ribeiro

Internada no Hospital São Mateus no dia 31 de agosto, após uma broncoaspiração que evoluiu para pneumonia, Dona Ivone necessitava de cuidados específicos após realizar uma gastrostomia. Segundo o professor Edilson, a equipe médica foi enfática sobre a necessidade do serviço domiciliar para evitar o risco de infecções hospitalares.

“A médica disse, não, sua mãe vai ter que ter um home care. Vai ir para casa e levaria a vida normal”, explicou Veloso. Apesar do relatório médico, o pedido foi negado pelo plano. “Aí alguém me chamou e disse, ó, se prepare que eles vão negar. E de fato eles negaram”, afirmou.

No entanto, o Planserv teria oferecido o serviço apenas com carga horária e profissionais reduzidos em relação ao que constava no relatório médico. “Eles não dão o enfermeiro 12h nem 24h. O fonoaudiólogo, que seria cinco dias na semana, ele só libera dois dias no mês. Tipo assim, tudo quebrado”, desabafou o professor.

“E o principal era o profissional de enfermagem pelo menos 12h diárias. Como nós não temos a habilidade em lidar com esse tipo de procedimento, de botar esse alimento via dispositivo, porque a médica disse, você pode causar uma infecção em sua mãe. Então, por isso que o relatório o médico pede. Aí, nós rejeitamos. Desse jeito, a gente não quer. Aí, eles mandam de novo o profissional lá. Três vezes mandaram. E enrolando. E o tempo passando.”

Após 89 dias de internação, dos quais, segundo a família, mais de 50 foram de espera pelo home care, Dona Ivone contraiu uma infecção generalizada (sepse), não resistiu e faleceu no dia 26 de novembro. A família tinha acionado a Defensoria Pública e obteve uma liminar judicial autorizando o home care, mas, segundo Edilson, a decisão chegou tarde, quatro dias após o óbito.

“Com os dias, atingiu o rim de minha mãe, atingiu o pulmão. Os órgãos começam a entrar em falência. Mas minha mãe resistiu muito porque minha mãe tinha saúde muito boa. Minha mãe sempre se alimentou bem”, desabafou Veloso.

“Se você for nos hospitais de Feira particulares, tem gente esperando o home care e o Planserv parece que espera as pessoas morrerem. Resultado, o juiz liberou a liminar depois que minha mãe faleceu.”

Planserv
Foto: Divulgação

Durante a entrevista, Edilson Veloso foi firme ao atribuir a morte da mãe à demora do plano de saúde. Para ele, a judicialização tornou-se a única via, ainda que lenta, para os beneficiários.

“Todas as pessoas que têm home care pelo Planserv foi via judicial. Eles ainda dizem assim, ó, é melhor judicializar.”

O professor também criticou o que chama de “politicagem” na saúde e a contestação de relatórios médicos por parte da administração do plano.

“O Planserv matou minha mãe porque a médica me disse, se sua mãe sai daqui, ela não pegava infecção. Se você fizer um levantamento em Feira de Santana, tem várias pessoas no mesmo problema. Por isso que eu tô aqui. Pra que outras vidas não sejam ceifadas. […] Eu não gostaria, mas eu vou ter que dizer, o Planserv mata pessoas. Eu ouvi isso da médica, de algumas médicas. Se sua mãe tivesse saído daqui, sua mãe tava tranquila.”

“Se fosse a mãe do governador, liberava? Se fosse a mãe de um deputado chegado ao governador, liberava? Claro que sim.”

Mais sofrimento na espera da assistência

O caso de Dona Ivone não é isolado. Como o Acorda Cidade já mostrou, relatos semelhantes surgem, como o da pequena Anna Thereza Almeida, de 9 anos, que permanece internada mesmo com alta médica. Os casos só reforçam as críticas à gestão do plano de saúde dos servidores estaduais da Bahia.

A criança, que tem microcefalia, está com alta médica desde 24 de novembro, mas segue no hospital porque o Planserv e as empresas credenciadas não efetivaram o retorno para casa. No caso de Anna, ela estava em home care, passou mal, precisou tratar no hospital e agora, que necessita voltar para os cuidados em casa, não consegue a assistência.

Em áudio enviado ao Programa Acorda Cidade também nesta quarta (24), o pai da menina, Erivaldo Vieira, lamentou a situação às vésperas do Natal.

“Vamos passar o Natal dentro do hospital. Por irresponsabilidade ou inconsequência de algumas empresas, ou do Planserv. A gente não sabe nem o que dizer, meu irmão. Nem o que falar mais, porque é tanta promessa. A luta continua”, desabafou.

O Acorda Cidade já buscou um retorno sobre o caso de Anna e também segue aguardando uma resposta. Também vai pedir um retorno sobre as novas denúncias de atraso e negativas de atendimento citadas por Edilson Veloso.

Leia também: Mãe relata problemas com o Planserv após suspensão de home care para criança com microcefalia

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