Paralisação organizada por professores do Cuca recebe apoio de estudantes: “Ninguém é relógio para trabalhar de graça"

A instituição possui cerca de 50 professores. Entre as reivindicações estão o pagamento de salários atrasados e o reajuste da hora/aula.

Foto: Ney Silva / Acorda Cidade
Foto: Ney Silva / Acorda Cidade

Uma paralisação nas atividades do Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca), em Feira de Santana, está prevista para ocorrer entre os dias 19 e 24 de maio. O ato é organizado por cerca de 50 professores credenciados. Entre as reivindicações estão os pagamentos de salários atrasados e o reajuste do valor da hora/aula.

O grupo de professores, que está sem receber salários desde o mês de março, divulgou uma carta aberta à população detalhando as motivações da paralisação. O Acorda Cidade conversou com alguns docentes na manhã deste sábado (17) sobre o ato.

Lion Guimarães, professor de teatro do Cuca | Foto: Ney Silva / Acorda Cidade

“É uma situação bem complicada. Para a gente poder receber o salário, precisamos pagar as notas, então a gente paga um valor para gerar as notas para recebimento. Estamos desde março sem receber, tem professor que está com dificuldade para pagar transporte para poder vir trabalhar e dificuldade com a alimentação”, disse o professor de teatro Lion Guimarães.

Foto: Ney Silva / Acorda Cidade

Sem reajuste

O professor lembrou que, além do pagamento imediato dos salários atrasados, a categoria solicita o reajuste do valor da hora/aula. Guimarães explicou que, em 2024, os docentes tiveram um aumento de apenas R$ 5,00 e que há cerca de 10 anos a categoria não era contemplada com um ajuste.

“Ao longo deste tempo temos sofrido com uma diminuição de poder de compra gigantesca, que a gente quer compensar ao longo dos anos com reajustes anuais. E este ano a gente não conseguiu esse diálogo para que houvesse também o reajuste. Então, dentro das nossas pautas, o reajuste salarial é também uma pauta que a gente está buscando com essa reivindicação”, disse o professor Lion.

Enjolras de Oliveira, professor de teatro do Cuca | Foto: Ney Silva / Acorda Cidade

“O valor da hora/aula é extremamente baixo. É ¼ (um quarto) do valor que o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado da Bahia (Sated) sugere para que seja pago ao professor que não tem vínculo empregatício. Nós não temos vínculo empregatício e sim um contrato de trabalho. Recebemos R$ 46,00 e o sindicato recomenda R$ 180,00. Essa diferença é muito grande, é extremamente grande”, complementou Enjolras de Oliveira, professor de teatro.

Apoio dos estudantes

A paralisação dos docentes é apoiada por diversos estudantes do Cuca. Para João Carlos da Silva, bancário aposentado, o atraso nos salários é uma falta de respeito com os docentes e afeta toda a comunidade do centro.

João Carlos da Silva Mota, estudante do Cuca | Foto: Ney Silva / Acorda Cidade

Ninguém é relógio para trabalhar de graça. Se tem essa função, então temos que trabalhar, mas também trabalhar e ser remunerado devidamente. Isso prejudica os professores, principalmente os que vêm de outras cidades, por conta dos custos com o deslocamento. A nossa professora é de Cachoeira, então tem que ter essa remuneração para ela se manter, pagar o transporte e a alimentação”, disse João.

Carlos Rangel, estudante do Cuca | Foto: Ney Silva / Acorda Cidade

“Eu, particularmente, sou solidário ao movimento, porque eu entendo que o trabalho, a contrapartida do trabalho, é a remuneração, é a renda. E, quando você trabalha e não recebe, então alguma parte não está cumprindo o contrato. Acredito que não só eu, mas todos os estudantes aqui do Cuca, até porque nós pagamos uma taxa semestral, mas ela existe, então eu não vejo o motivo desse atraso”, complementou o estudante de desenho, Carlos Rangel.

Negligencia

Para o estudante de teatro Bernardo Galvão, também solidário aos professores e defensor da paralisação, o caso demonstra um grande ato de negligência com a categoria, que, segundo ele, desenvolve um trabalho brilhante com o Cuca.

Bernardo Galvão, estudante do Cuca | Foto: Ney Silva / Acorda Cidade

“Toda a comunidade do Cuca apoia os professores nesse sentido, porque a gente entende o compromisso, a gente entende como é desempenhado, como a arte aqui é especial demais. É uma coisa única que é desempenhada aqui no Cuca, que a gente faz arte realmente. A gente, como comunidade, como professores principalmente, que são grandes direcionadores dessa comunidade artística de Feira de Santana, que é tão pobre em cultura, que é uma cidade que precisa tanto, de tanta gente que faça arte, que desempenhe arte, para que as pessoas sejam mais humanas, para que as pessoas possam fazer outra coisa, além de trabalhar”, concluiu o estudante.

Leia também: Professores do Cuca anunciam paralisação por atraso salarial

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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