Eles vieram de longe e adotaram Feira de Santana como terra natal. Rodaram milhares de quilômetros, moraram em outras cidades e atravessaram mares e oceanos antes de serem carinhosamente acolhidos nos braços ternos desta cidade. De acordo com o Censo de 2010, mais de 300 estrangeiros residem aqui – e daqui não mais pretendem sair. Se tornaram feirenses apaixonados e seus filhos de coração.
Mesmo morando em Feira de Santana há décadas, não perdem o sotaque e por eles são facilmente identificados. Feira não apenas atraiu estrangeiros, mas brasileiros de todos os estados se renderam a ela. Os feirenses de coração são tão numerosos quanto os natos.
O italiano Silvano Aprille nasceu em Pescara, às margens do Mar Adriático. Há 63 anos, com a família, chegou ao Brasil. Veio para trabalhar na agricultura, a convite do governo de Getúlio Vargas. Primeiro morou e trabalhou a terra na colônia italiana de Jaguaquara, no interior baiano. Chegou em Feira em 1965. Na década de 70 morou em Salvador para que as filhas estudassem. Voltou em 1980 e nunca mais saiu.
Montou um dos primeiros, senão o primeiro, restaurantes italianos na cidade, o Itália, que funcionou até 1970. Um sucesso que foi seguido pela família, que mantém a Cantina Aprille. “Feira de Santana era uma cidade plana, com maior facilidade para trabalhar e que tem um povo altamente acolhedor”, diz ele, com o seu sotaque carregado e aos 81 anos esbanjando energia. “Tomo vinho todos os dias e joguei futebol até os 72 anos”. Só não fala eco ao fim das suas frases.
Antes de vir para Feira montou um restaurante às margens da BR 116, no entroncamento de Jaguaquara, depois foi motorista de caminhão. Transportou verduras para Salvador. “A estrada que a gente andava era aquela rua do presídio”, lembra – hoje Olney São Paulo.
Danielle destaca o calor humano dos feirenses – A primeira impressão sempre é a mais profunda. A professora de inglês, francês e alemão Danielle Lucas chegou em Feira de Santana em 1979 – acompanhou o marido, que trabalhava para a Good Year e que foi transferido para a fábrica Tropical – hoje Pirelli. E não esqueceu o que viu da janela da sua casa, na avenida Getúlio Vargas: uma caçamba cheia de lixo com urubus à sua volta. Assimilado o susto inicial, ela escolheu a cidade para morar. E não pretende sair daqui – a não ser para um passeio no seu Luxemburgo natal.
Revelou que no início enfrentou problemas. O choque gastronômico foi doloroso para a sua família. “A cidade não oferecia grandes opções e não sabia o que comprar”. Outros pontos que a incomodavam bastante eram a limpeza nas ruas – a falta dela, e a pontualidade nos horários. Ainda não se acostumou com o barulho e os atrasos. Mas vai levando em frente. Derrete-se ao falar de Feira. Passou três anos no Peru – entre 82 e 85. “Tive a oportunidade de voltar para a Europa ou ir para os Estados Unidos, mas preferi voltar para Feira”.
“Gosto daqui, mas não sei dizer por quê. Só sei que gosto muito daqui”, diz a professora. Revela que os pais moraram na cidade durante seis anos e aqui faleceram. Comentou que há quatro anos ensaiou uma volta para Luxemburgo. Ficou apenas dois meses. Não aguentou o frio e nem o povo, que agora considera chato. “Os brasileiros não sabem como é bom morar no Brasil”. Destaca o calor humano dos de cá e a frieza dos seus conterrâneos.
Geleano: Feira de oportunidades
Depois de andar pelo Amazonas, Pará, parte do Peru e da Bolívia, o artista plástico argentino Jorge Galeano chegou a Feira de Santana em 1986. Veio trabalhar na revista Panorama e depois na TV Subaé, quando da sua fundação. É outro filho de coração da cidade que não se cansa de elogiar a sua beleza. “Aqui é uma das poucas cidades do nordeste que te oferece condições para viver da arte”. Ele tira o seu sustento das suas peças e das aulas que dá no Cuca. “Aqui quem quer trabalhar, trabalha”.
Muito além do apego à cidade que o acolheu, Galeano diz que os netos são duas razões para que continue a morar em Feira. Revela ser um apaixonado pela terra que escolheu para morar. “Mais da metade da minha vida vivi aqui. Por isso adoro este lugar”. É outro que o sotaque denuncia sua origem. Nasceu em Concórdia, fronteira com o Uruguai, mas que no seu currículo fez questão de informar que sua origem é feirense.
Ele classifica que foi em Feira que renasceu. Desta vez para as artes. “Foi aqui que pintei o meu primeiro quadro”, revelou. E nunca mais parou de produzir as suas coloridas telas. Antes de adentrar para sempre no mundo dos pincéis e tintas, trabalhou com música e propaganda. Ligado à natureza, fez da sua casa, na Pampalona, uma extensão dela. Comenta que um dia pretende comprar uma casa da Chapada Diamantina. “Mas não pretendo deixar Feira”. Galeano é um cidadão do mundo, mas com bases bem fincadas na Princesa do Sertão.
Informações da Secom