Feira de Santana

Mães com deficiência falam sobre a alegria de poder cuidar de seus filhos

Dentre os milhares de exemplos de vencedoras no mundo conheçam Ana Rita dos Santos Cruz e Suely Lisboa de Oliveira.

Andrea Trindade

A linguagem do amor é universal e não se cala diante das dificuldades, pelo contrário, se torna mais enfática e convicta. O bebê reconhece a mãe pela voz, pelo cheiro e essa ligação é um traço forte do amor – sentimento que ultrapassa barreiras impressionantes pela mulher quando ela se torna mãe. Esse amor traz sabedoria e uma força inexplicável que capacita e amadurece.

Toda mãe que cria e educa seus filhos são guerreiras e se elas passam por muitas dificuldades são eternas vitoriosas porque enfrentam uma batalha a cada dia e simplesmente vencem. Dentre os milhares de exemplos de vencedoras no mundo conheçam Ana Rita dos Santos Cruz e Suely Lisboa de Oliveira. A primeira é deficiente visual e a segunda é cadeirante. O que elas tem em comum? São supermães.

Ana Rita, 41anos, perdeu a visão aos sete meses de vida por complicações causadas por sarampo, nunca viu o rosto das filhas de 14 e 15 anos e sempre ouve falar sobre como elas são bonitas. Disse que ficava imaginando como elas são, mas o importante mesmo é perceber quando elas estão alegres ou tristes. A deficiência visual não é empecilho para se tornar mãe e cuidar do marido que também não pode enxergar.

“Ser mãe é um presente de Deus. Apesar da minha dificuldade visual, eu vejo que Deus não se esqueceu de nos. Ele me deu essa benção de ser mãe. Tenho minhas limitações, mas graças a Deus a gente consegue superar. Quando eu tive a primeira filha eu tive mais dificuldade porque não tinha experiência, mas no dia-a-dia vamos adquirindo. Fui aprendendo, graças a Deus, minha família me ajudou, me deu apoio e venci as dificuldades. Aprendi muita coisa, tanto que com a segunda filha já foi bem diferente, foi melhor”, contou.

Ana Rita mora com as duas filhas e o marido no bairro Pampaloma, em Feira de Santana, e tem a ajuda de vizinhos, familiares e amigos. Ela disse que a relação com as meninas é boa, conversa sempre com elas e dá conselhos.

“Tenho boa percepção, sei quando elas estão tristes, quando estão alegres. Tiro de letra. Filho é benção e sei que por incrível que pareça há mães que não valorizam tanto isso. E tem mulher que sonha em ser mãe e não consegue, nem todo mundo tem esse presente. Eu peço que todas as mãe aproveitem ao máximo a maternidade, e para as que sonham em ser e ainda não conseguiram eu digo que não percam as esperanças, confiem em Deus. É só confiar que ele está aqui para abençoar”, declarou a mamãe.

O esposo dela, André Raimundo, teceu muitos elogios. “Estamos juntos há 17 anos. Ela é muito especial cuida da casa dos filhos, cuida de tudo. Ela é benção e se Deus desse outras filhas sei que ela cuidaria do mesmo jeito. Temos nossas dificuldades por causa da deficiência visual, mas desenvolvemos muitas coisas e temos capacidade de cria-las”, afirmou.

A dona de casa Suely Lisboa de Oliveira, mãe de três filhos, sendo dois homens e uma mulher, era casada e podia andar. Mas no ano 2000 ela sofreu um acidente e perdeu todos os movimentos. Aos poucos ela foi se recuperando, já consegue se movimentar, mas não consegue mais andar, aprendeu a dar continuidade na educação dos filhos em uma cadeira de rodas. No início foi difícil, mas tornar-se cadeirante não tirou dela a alegria de viver.

“Antes eu trabalhava na roça, fazia todas as minhas atividades, cuidava dos meus filhos normalmente, depois me separei e fiquei com os três filhos e a casa. Continuei minha vida normalmente após a separação, mas foi depois do acidente que minha vida mudou de vez. Mudei minha rotina porque fiquei tetraplégica, perdi todos os movimentos, só mexia o olho e falava. Com o tempo fui me recuperando, tive o apoio de amigos, filhos e sobrinhos, tenho 53 sobrinhos, e todos eles me ajudaram, minhas irmãs também. Eu não vou dizer que aceitei a cadeira de rodas, mas me acostumei. Sempre fui uma mulher positiva e corajosa. A cadeira me impede de fazer nada do que gosto de fazer. Meus filhos cresceram e dou bronca na hora que tem que dar até hoje e consegui educá-los”, disse.

Suely comemora a superação e fala com alegria dos filhos.

“Criei os três sendo cadeirante, sem o pai. Hoje estão casados e tenho netos. De jeito nenhum eu achei que a cadeira de rodas me impediria de criar meus filhos como eu cuidava antes do acidente porque a mamãe tem que ter atitude. Eu estou na cadeira de rodas, mas estou viva e não é porque não ando que não vou corrigir meus filhos. O importante é a cabeça e o coração, não são as pernas. Onde eu não vou com as minhas pernas, a minha cadeira me leva. Só de ter filhos honestos, que não estão matando, nem roubado, ne no mundo das drogas já é um grande presente”.

A filha que mora com ela, Léia silva Lisboa, destaca a solidariedade que a mãe tem pelas outras pessoas e o que tem aprendido com ela.

A neta e filha de Suely

“Ela é um exemplo. Uma vez ela chegou da rua e ela estava de fralda e ela tinha que sair para outro compromisso, eu disse para ela ficar em casa e descansar, mas ela disse que iria e eu refleti que às vezes ficamos fazendo corpo mole para fazer muitas coisas e ela sendo uma pessoa especial não coloca dificuldades para fazer as atividades dela, simplesmente pelo fato de estar ali sendo útil. Minha mãe é uma guerreira. Aprendi muito com ela. Cresci vendo minha mãe fazendo o bem pelas pessoas e acredito que herdei isso dela. Hoje ela não cozinha, ela cozinhava muito bem, e hoje eu cozinho muito bem, mas porque eu aprendi com ela. Ela é muito solidária, a casa está sempre aberta para as pessoas, principalmente para os amigos cadeirantes, tem uma casa toda adaptada também para receber os amigos cadeirantes, e desde cedo aprendi com pessoas com deficiência. Ela é uma leoa, e ai de quem fale ao faça algo com a gente, ela nos defende com unhas e dentes. Sou mãe também, e agradeço a Deus pela mãe que tenho” declarou.

Com fotos e informações dos repórteres Ed Santos e Ney Silva, do Acorda Cidade