Economia

Lojas geridas por mulheres tomam conta de bairros em Feira de Santana

A reportagem do Acorda Cidade foi conferir de perto como funcionam alguns desses estabelecimentos na cidade e descobriu histórias de sucesso de empreendedorismo feminino, economia criativa, além de muitos sonhos realizados e outros que estão por vir.

Lojas geridas por mulheres tomam conta de bairros em Feira de Santana Lojas geridas por mulheres tomam conta de bairros em Feira de Santana Lojas geridas por mulheres tomam conta de bairros em Feira de Santana Lojas geridas por mulheres tomam conta de bairros em Feira de Santana

Rachel Pinto

As lojas localizadas nos bairros têm se tornado um grande atrativo para o comércio e a economia de Feira de Santana. Geralmente instaladas em espaços pequenos, elas são de vários segmentos, geridas por mulheres e também trazem como diferencial o capricho na decoração, no atendimento e a proximidade com os consumidores.

A reportagem do Acorda Cidade foi conferir de perto como funcionam alguns desses estabelecimentos na cidade e descobriu histórias de sucesso de empreendedorismo feminino, economia criativa, além de muitos sonhos realizados e outros que estão por vir. Visitamos os bairros: Sobradinho, Cidade Nova e Tomba e mergulhamos nesse universo de coragem, trabalho e muita dedicação.

Nossa primeira parada foi na loja A Patricinha, localizada na Rua Landulfo Alves no bairro Sobradinho. O nome é curioso e convidativo, assim como a vitrine da loja que é repleta de artigos para presente, decoração e objetos coloridos. A proprietária Lígia Paula Silva, de 40 anos, tem como sua melhor recepção um belo sorriso no rosto e muita simpatia.

O espaço é acolhedor e envolvente e os olhos de quem chega circulam por todo o ambiente, hipnotizados por todos os produtos e a organização dos objetos. São canecas, portas-retratos, necessaires, chaveiros, almofadas, acessórios infantis, femininos, perfumes e uma variedade de presentes temáticos.

Lígia conta que a loja é a sua primeira experiência como pequena empreendedora. A vontade de ter o próprio negócio partiu da insatisfação profissional em empregos anteriores e da coragem de buscar a independência através do novo.

“Eu já fui gerente de loja, já trabalhei no shopping e vendia como sacoleira alguns produtos como bolsas para aumentar minha renda. Um dia resolvi mudar de vida e ao levar minha filha na escola vi um ponto comercial que estava para alugar. Pensei que ali poderia iniciar o meu negócio e então conversei com a dona para me dá um prazo até eu levantar o dinheiro do aluguel. Com muita coragem e ousadia eu montei a loja e comecei a vender algumas bolsas que eu já tinha e alguns presentes”, conta.

Segundo Lígia, a ‘ficha caiu’ e o sucesso da loja aconteceu mesmo no primeiro dia das mães em que a loja funcionou. As vendas de presentes temáticos foram recorde e assim a loja ficou bastante conhecida no bairro. Pouco tempo depois ela se mudou para um espaço maior, expandiu algumas mercadorias e inclusive começou a desenvolver talentos na área de artesanato. Em um espaço da loja, Lígia montou o seu ateliê e o seu cantinho criativo de invenções e ideias. Com a ajuda de uma amiga, ela aprendeu a fazer laços de embalagens para presentes e também de forma autodidata aprendeu a costurar e passou a criar produtos como jogos americanos e outros itens de decoração.

O nome da loja A Patricinha é o mesmo nome da loja de uma prima que fica no interior da Bahia e traz lembranças do tempo de sacoleira e de viagens que as duas faziam para comprar mercadorias.

“A loja pegou como loja de presentes temáticos e eu também comecei a criar alguns produtos, principalmente laços e acessórios infantis. As pessoas procuram muito embalagens para presentes e assim eu comecei a colocar outros produtos. Viajo para comprar mercadorias fora do estado e também compro através de representantes. Tenho clientes da cidade inteira e busco utilizar também as redes sociais para fazer a divulgação da novidades. Procuro sempre tratar os clientes com carinho, respeito e muita atenção. Meu diferencial é o atendimento e o contato direto com meu público”, diz.

Marildes Santos Nascimento, que é cliente da loja, enfatizou que prefere comprar o que precisa nas lojas do bairro Sobradinho, do que ir para o centro da cidade. Ela sempre encontra tudo que precisa e tem mais conforto e comodidade.

“Prefiro comprar aqui pelo bairro. A gente precisa de uma coisa se já sabe onde encontrar perto de casa. Não precisa pegar trânsito, nem ir ao centro da cidade. Para mim é muito mais cômodo”, justificou.

Na mesma rua, há alguns metros visitamos a loja Belíssima de artigos de moda íntima e de moda praia. Nadja Nascimento é a proprietária e está há oito anos com a loja. Ela diz que também tem clientes da cidade inteira e depois de trabalhar como sacoleira e atendente de laboratório resolveu montar o próprio negócio no mesmo bairro onde mora.

A loja trabalha com peças íntimas de todos os modelos e para todas as idades. Há também uma pequena seção com produtos de sexshop e as calcinhas e os biquínis são os produtos queridinhos do clientes. Nadja viaja para comprar mercadorias e procura estar sempre atenta ao que está na moda da estação e ao gosto dos clientes.

“Observo o que está na moda. Se um cliente procura algo que eu não tenho, eu vou logo providenciar. Meu esposo também trabalha aqui, me ajuda e eu tenho duas funcionárias. Nosso lema é oferecer preço e qualidade para os clientes. O cliente vem aqui comprar e é ele que acaba nos ensinando sobre muitas coisas. Nesses anos todos de trabalho posso dizer que tive grandes aprendizados”, relata.

Juventude empreendedora

Depois de se formar em contabilidade e trabalhar como recepcionista, atendente de telemarketing, Mariane Silva de 32 anos, resolveu abrir sua própria loja. Ela afirma que não estava mais se identificando nem obtendo o retorno financeiro necessário na área de contabilidade e esses fatores, assim como a independência foram cruciais para mudar de vida. Maiane abriu a Loja Sou mais Diva, no Bairro Cidade Nova há três anos e segundo ela, só há motivos para comemorar.

“Senti muita dificuldade para encontrar emprego e quando encontrava não pagava muito bem. Mesmo com medo acabei arriscando e deu super certo. Estou conseguindo vencer todas as dificuldades. Não fecho para o almoço. Em épocas festivas funciono em horário especial. Gosto muito de trabalhar com isso. Eu achava que nunca iria me sair bem com vendas. Mas, sempre estou na loja e atendendo. Prefiro atender diretamente o meu público e buscando sempre estar antenada com o que é tendência”, completa.

Maiane comenta que uma das formas de enfrentar a crise e driblar a concorrência é realmente investir e oferecer peças diferenciadas e exclusivas para os clientes. Além disso, ela aposta na divulgação através das redes sociais e manter o contato virtual com os clientes. A loja de artigos femininos também tem o serviço de pronta entrega e as maiores dificuldades, segundo a pequena empresária são os valores dos alugueis no bairro e também a dificuldade de crédito oferecido para os pequenos empreendedores pelas instiruições financeiras.

“Eu tenho sempre peças atualizadas com o que é moda e o que é tendência. Acompanho tudo que é novidade e trago para vender na loja. Muitas vezes são essas essas peças exclusivas que garantem a minha sustentabilidade em alguns períodos e o que eu acho mais difícil são os valores dos alugueis no bairro e também a falta de incentivos em relação ao crédito”, afirma.

A jovem empresária também pontua que ter o próprio negócio tem lhe permitido pagar todas as contas, morar e se manter sozinha. O lucro ela investe maior parte em mercadorias e sua preocupação é melhorar o serviço e o atendimento para os clientes.

A loja Sou Mais Diva, funciona em um pequeno espaço no bairro que custa R$500 o aluguel. As mercadorias são muito bem organizadas e o lugar tem seu charme em alguns móveis e objetos de decoração.

A estudante de psicologia Talita Viana Bispo, de 25 anos achou que transformar seu gosto por acessórios e bijuterias no próprio negócio seria uma boa alternativa para aumentar a sua renda. Junto com o marido, ela abriu a loja de acessórios Benta Vaidosa no bairro Cidade Nova.

A jovem salienta que de início pensou em montar a loja no centro da cidade. Mas, depois fazendo pesquisas sobre mercado, preços e concorrências observou que abrir a loja próximo de onde mora seria uma forma de unir o útil ao agradável. Além disso, ter preço igual ou mais baixo do que as lojas do centro é o seu maior atrativo.

“Tenho só três meses com a loja aberta e não posso reclamar. O movimento é bom e antes de abrir eu fui em todas as lojas do centro pesquisar preços. Também observei as lojas que já existiam no bairro. Vi que ainda não tinha loja de acessórios e então decidimos empreender nesse setor. A sogra fez um empréstimo e desde então estamos aqui atendendo principalmente ao público feminino de todas as idades. Meu marido que é bancário organiza a parte contábil e financeira e eu fico com a responsabilidade de escolher as peças e dar o meu toque na loja”, comenta.

Escarlete Moura, de 20 anos que mora e trabalha no bairro Cidade Nova é cliente da loja e para ela, o local tem muitas opções de produtos, bons preços e ela pode consumir o que precisa sem necessariamente se deslocar para o centro comercial.

“Para mim é ótimo comprar no bairro. Eu aproveito melhor o meu tempo e consigo encontrar vários produtos que preciso. Gosto de comprar aqui maquiagem e acessórios que tem boa qualidade e bons preços”, salientou.

A Loja Benta Vaidosa chama muita atenção na organização das mercadorias, na decoração e a simpatia, o atendimento e o sorriso de Talita são um cartão de visita a parte. A empresária coloca o atendimento como prioridade e pensa também em expandir o negócio abrindo futuramente mais uma loja em outro bairro.

Qualidade de Vida

Questionando a própria vida, sua ausência na criação dos filhos a necessidade de ter mais qualidade de vida a estudante de publicidade Iza Alencar de 34 anos deixou o trabalho em uma empresa de comunicação e junto com o marido montou o próprio negócio. Muito corajosa e curiosa, ela optou comercializar calçados de marcas populares no bairro Tomba na Loja Belart Calçados.

“Eu sempre me dediquei e me empenhei muito em trabalhar para os outros. Percebi que essa mesma garra eu posso usar para o meu negócio. Na verdade não foi uma escolha, foi algo que eu digo que foi presente de Deus. A princípio nós queríamos montar um armarinho e fizemos pesquisas de mercado, e qual seria o segmento mais adequado. Vimos que calçado seria melhor e abri a loja há oito meses. Trabalhamos com representantes, com marcas conhecidas e nosso diferencial é o preço. Temos calçados a partir de R$35. A loja trouxe mais independência e não tenho aquela preocupação se nessa crise vou ficar desempregada ou não. Uma vez eu vi uma mensagem muito importante e que me inspirou bastante: ‘Se você não trabalha para construir o seu sonho, você vai trabalhar para construir o sonho de alguém’”, reflete.

Loja de bairro com cara de loja conceito

Iza Alencar pontua que sua maior preocupação além de oferecer ao cliente um bom preço e qualidade, é oferecer um ambiente atrativo, aconchegante e o que o faça de sentir em casa e se sentir bem. A fala da empresária é representada na estrutura e em todos os ambientes da loja. A decoração rústica, com flores, verde e móveis em madeira trazem uma sensação de bem-estar e paz.

“Pensamos em fazer uma loja de bairro com cara de loja conceitual. Para as pessoas que não podem ir até o centro da cidade e que moram no bairro. É uma loja com uma roupagem diferente e temos o objetivo de dizer para as pessoas que elas têm o seu espaço aqui. Que elas precisam e merecem ter o diferencial. Busquei várias ideias conversando com pessoas e também inspirações na internet. Eu pensei a decoração da loja, utilizo as redes sociais para divulgação e também vamos à casa do cliente atendê-lo. O que cativa o cliente é o atendimento. A gente vê o cliente como parceiro e cada pessoa que entra aqui não é um objeto de lucro e de ganho, ela é vista como um ser humano e que tem as suas necessidades”, comenta.

Publicitária nata e evangélica, Iza não vê a crise como um impedimento e afirma que não se deve profetizar a crise e sim profetizar Cristo. Ela considera que atualmente o crédito é o maior problema do pequeno empresário e faltam muitas iniciativas das instituições financeiras.

“Temos grandes obstáculos principalmente em relação aos bancos. Há muitas barreiras e para vencer temos que geralmente iniciar com recursos próprios e ir com a cara e coragem”, observa.

Muito comunicativa e simpática, a jovem empresária fala que tem sonhos de ampliar o negócio e toda a mudança de vida valeu muito a pena. “Valeu e vale muito a pena. Eu achava que não ia dar conta, mas basta ter determinação, coragem, foco, força e disciplina que a gente consegue. Deus é maravilhoso e eu tenho conseguido dar conta de todas as responsabilidades”, relata.

A Belart Calçados também oferece aos clientes uma consultoria de moda com uma Personal Stilist. Uma blogueira de moda da cidade é parceira da loja e dá aos clientes dicas de como montar looks e como combinar as roupas e acessórios ao calçado escolhido.

Estabilidade financeira

Ainda no bairro Tomba, um dos bairros com grande concentração de estabelecimentos comerciais de todos os segmentos, descobrimos a Loja Milano Modas. Literalmente uma loja de bairro com cara de loja de shopping. Em um ambiente projetado com luminárias, paredes e cores em tons pasteis a loja tem como proprietária a senhora Cleuza Bastos.

Há 12 anos ela trabalha vendendo confecções, feminina, masculina e infantil e diz que sempre teve vocação para o comércio.

“É um ramo que eu sempre gostei de trabalhar. O ponto é meu e aos poucos eu venho aperfeiçoando. Investi em reforma, contratei uma arquiteta e mudei decoração, a cara da loja. Eu me vejo como um diferencial aqui no bairro.

A empresária conta que pensa também em crescer e expandir a loja. O retorno financeiro que obteve ao longo dos anos utiliza investindo no negócio e também na formação dos filhos e na oferta de mais conforto e mais qualidade de vida para toda a família.

“Tiro o sustento e busco sempre proporcionar o melhor para aos meus filhos e minha família. Apesar das dificuldades tenho muitos sonhos que penso em realizar. A gente nunca pode perder as esperanças”, finaliza.

Empreendedorismo Feminino

As lojas nos bairros são um grande reflexo do empreendedorismo feminino e a importância da mulher da economia. A cada dia a mulher se destaca mais na sociedade, no mercado de trabalho, nas famílias e são muitos os casos de sucesso, geração de emprego e negócios que dão certo vão se consolidando e adotando perspectiva de ampliação.

Reforçam na prática a condição da mulher assumir com compromisso e competência múltiplas funções profissionais e sociais. A nossa reportagem ficou encantada com esse universo na cidade de Feira de Santana e como tantas mulheres estão sendo donas das próprias vidas e próprias histórias. 

Fotos: Rachel Pinto