Federação Nacional do Culto Afro-Brasileiro rebate falas de vereador que ligava oferendas a demônios

A Câmara de Vereadores de Feira de Santana recebeu, na manhã desta quarta-feira (3), integrantes da Federação Nacional do Culto Afro-Brasileiro (Fenacab). A entidade solicitou ao vereador Pedro Américo (Cidadania) uma oportunidade para rebater falsas acusações sobre práticas ligadas a cultos de religiões de matriz africana, feitas por um parlamentar da Casa.

Marcelo Santos, supervisor da Fenacab, utilizou a tribuna para desmistificar práticas ligadas ao Sabejé, ritual de origem afro-brasileira dedicado ao orixá Obaluaê, também conhecido como Omolu, divindade ligada à terra, à saúde e à cura, e à utilização de Vudus ligados à palha.

“A gente pediu à Tribuna Livre para poder explicar que não se trata de uma comida oferecida a nenhum tipo de demônio, mas sim de uma iguaria sagrada, de um ritual sagrado, e que a gente exige o devido respeito, que inclusive a própria Constituição Federal nos ampara”, disse Marcelo.

“Infelizmente, como todo intolerante religioso, ele [vereador] falou e não veio ouvir a resposta. Provavelmente por não ter argumento, por saber que há ilegalidade e crime na fala, mas outras oportunidades virão e a gente não vai se calar, não vai se omitir, não vai descansar enquanto o respeito não for imposto”, complementou Marcelo.

🔎O crime de intolerância religiosa consiste em praticar, induzir ou incitar qualquer tipo de discriminação, preconceito, violência ou impedimento contra pessoas ou grupos por causa de sua religião ou crença. A legislação brasileira, especialmente a Lei nº 7.716/1989 (Lei Caó), considera esse ato como crime de racismo, com pena de reclusão de um a três anos, além de multa.

A entidade

A Fenacab representa, organiza e fortalece terreiros em todo o país. A entidade tem a função de registrar todos os terreiros, que são locais de culto afro-brasileiros, atuando no reconhecimento e preservação. A instituição foi fundada em 1946 e já possui mais de sete mil cadastros de ambientes para cultos. Para Marcelo, a tradição e o tempo de atuação da federação reforçam o trabalho de combate.

“Temos tocado nosso trabalho, mas, infelizmente, a gente sempre tem se deparado com essas falas infelizes, criminosas e arbitrárias que ferem, que tentam ferir o povo de santo e nossa liturgia. Estamos aqui e vamos retornar tantas outras vezes quantas forem precisas, para poder celebrar conquistas, projetos de lei, resoluções, decretos legislativos, que contemplem o povo de santo, as tradições vindas da África, que são diretamente contribuidoras para a consolidação da nação brasileira”, complementou Marcelo.

Espaço democrático

Ao Acorda Cidade, o vereador Pedro Américo explicou os motivos de ter atendido à solicitação da Fenacab para a realização da Tribuna Livre. O parlamentar reforçou que atua pautado pelo respeito à escolha religiosa.

“A gente defende que cada um possa ter sua livre escolha e ser respeitado, como mostra a Constituição, como mostram todas as leis do nosso país e todo o bom senso. Então, por conta disso, eles se sentiram ofendidos com algumas falas que aconteceram na Câmara de Vereadores. Esse ato serviu para que eles pudessem se manifestar e fazer também as considerações, a defesa pela igualdade, a defesa pelo respeito à liberdade religiosa e o respeito às pessoas como cidadãos, como seres humanos que não precisam ser ofendidos por causa da sua escolha religiosa.”