Saúde

Gastroenterologista tira dúvidas sobre refluxo

Drº. Fábio Teixeira explicou as causas, sintomas e tratamento da doença e orientou a população sobre como evitá-la para ter uma melhor qualidade de vida.

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Laiane Cruz

Sintomas como azia, sensação de queimor e regurgitação são alguns dos sintomas da doença do refluxo, que atinge cerca de 30% da população brasileira, de acordo com o médico gastroenterologista feirense Fábio Teixeira, em entrevista ao Acorda Cidade.

Ele explicou as causas, sintomas e tratamento da doença e orientou a população sobre como evitá-la para ter uma melhor qualidade de vida.

Acorda Cidade – Explique o que é o refluxo?

Fábio Teixeira – O refluxo, na verdade, é a saída do conteúdo gástrico, que atinge o esôfago e pode chegar à garganta. Essa saída, se se tornar frequente, causar lesão no esôfago ou no sistema supraesofágico, passa a ter o nome de doença do refluxo gastroesofágico. Ela pode se manifestar com uma azia, que é um simples queimor, com uma regurgitação, mas também pode vir com uma dor no peito, tosse crônica, sensação de asma, piora da erosão dentária, com a perda da qualidade de vida do ser humano.

Acorda Cidade – Por que cada vez mais pessoas reclamam que estão com refluxo?

Fábio Teixeira – Primeiro, o estilo de vida da população, o stress, a ansiedade, alimentos como o fast food, a falta de tempo de se alimentar adequadamente, o corre-corre do dia a dia, a obesidade, e temos descoberto outras causas, que quando a gente junta isso tudo, a população está muito doente. O conteúdo alimentar da população está cada vez mais gorduroso, cada vez menos rico em fibras, que não nutrientes adequados.

Acorda Cidade – Hoje o diagnóstico está mais rápido e preciso?

Fábio Teixeira – No passado, o paciente tinha apenas o diagnóstico com a endoscopia. Hoje nós temos recursos como a phmetria, a impedância, que oferece o diagnóstico não só do refluxo ácido, mas também o não ácido, do conteúdo gasoso e o gástrico, que sobe para o esôfago. Então agora nós podemos ter mais certeza que o refluxo chega no esôfago e fora dele também. A endoscopia só consegue definir se o indivíduo tem ou não ferimento no esôfago, mas com o advento da phmetria e a impedância é possível verificar se há ou não o refluxo independente do ferimento no esôfago, e a gente correlacionar com os sintomas.

Acorda Cidade – Como é feita a phmetria?

Fábio Teixeira – A endoscopia é feita sob sedação total. O paciente dorme, não vê e não lembra. Mas a phmetria e a impedância nós precisamos colocar um microsensor, muito fino, que tem o menor sensor de trauma. Só incomoda no colocar, mas durante o exame ele se acomoda.

Acorda Cidade – Quais são os alimentos que provocam o refluxo?

Fábio Teixeira – O café pra quem tem a doença do refluxo deve ser evitado no dia a dia. O grande problema é que nós comemos muito, bebemos alguma e resolvemos brindar com o café depois, que abre mais o relaxamento dessa válvula que segura o conteúdo gástrico e isso faz com que o conteúdo volte. Já aquelas pessoas que não sentem nada, que estejam controladas, bem, o café tem seu prazer. Os alimentos gordurosos, o café fora do horário pra quem tem os sintomas, bebidas alcoólicas, a sobrecarga alimentar, comer e deitar, bebidas alcoólicas, a sobrecarga alimentar, comer e deitar, coisas mais ácidas e abrasivas como a pimenta.

Acorda Cidade – O refluxo causa apneia?

Fábio Teixeira – Cada vez mais temos pacientes obsesos e pacientes que dormem pouco. Então tem uma relação direta entre a apneia do sono e o refluxo. O paciente que não consegue dormir adequadamente, tem queda da oxigenação, aí vem o refluxo, que é a sensação do engasgo noturno. Esse paciente tem que ser acompanhado de perto.

Acorda Cidade – Quem fez a cirurgia do refluxo tem chance que ele retorne?

Fábio Teixeira – Quando se faz o fechamento do hiato isso vai proporcionar que o alimento não volte para o esôfago. Também não vai voltar o conteúdo gasoso e o paciente vai ter mais gases e tem que ser muito bem acompanhado. A cirurgia precisa ser bem indicada. Ao longo dos anos ela pode diminuir a eficácia, porque o músculo pode se folgar e ao longo do tempo pode precisar tomar de novo as medicações.

Acorda Cidade – O que é a hérnia de hiato?

Fábio Teixeira – Uma das causas da doença do refluxo é a perda dessa anatomia. A boca do estômago não fecha e quando se tem essa barreira perdida, o estômago sobre para o tórax e forma uma hérnia, que quando está mais evidente, tem que se trazer de novo o estômago para dentro do abdômen e fechar a válvula, que é a laparoscopia.

Acorda Cidade – O refluxo tem cura?

Fábio Teixeira – Tem controle. A doença precisa ser acompanhada e sempre reavaliada.

Acorda Cidade – Qual a relação entre a intolerância à lactose e a doença do refluxo?

Fábio Teixeira – Piora muito, quando você não consegue fazer a digestão adequada do leite aumenta a regurgitação. Mas são coisas totalmente diferentes.

Acorda Cidade – A tosse seca pode indicar refluxo?

Fábio Teixeira – Pode. Depois que afastado o processo todo do pneumologista e do otorrino, pode-se pensar no refluxo.

Acorda Cidade – O tratamento do refluxo evoluiu?

Fábio Teixeira – Antes nós tínhamos somente a cirurgia e o tratamento com Omeprazol. A família do Omeprazol cresceu e temos drogas mais potentes, que oferecem maior controle. É preciso identificar qual o tratamento para o paciente e em qual intensidade será necessário, do ponto de vista clínico. Ele precisa ser acompanhado por uma nutricionista, e é preciso identificar se ele vai ter um tratamento apenas simples ou por um tempo mais prolongado, para não usar indiscriminadamente o uso do Omeprazol.

Acorda Cidade – Quais os perigos do uso indiscriminado do Omeprazol?

Fábio Teixeira – Alguns trabalhos surgiram falando sobre a relação do Omeprazol com o Alzheimer, mas esses trabalhos não se sustentaram numa grande massa da população. O importante é o paciente ser acompanhado, para saber se tem algum déficit de vitaminas, no ferro, magnésio e algum efeito adverso na mucosa do estômago. É uma medicação segura, mas não podemos comprar em um balcão de uma farmácia sem saber se realmente necessita e o tempo que precisa tomar a medicação.

Acorda Cidade – O que é a H. Pylore? Ela está se proliferando muito?

Fábio Teixeira – Ela é uma bactéria que vive no estômago e consegue sobreviver à acidez. Ela está presente em cerca de 50 a 60% da população e é um indicador que nós não estamos com o saneamento básico adequado. A transmissão é fecal oral, as pessoas transmitem umas para as outras desde a infância.

Acorda Cidade – Por que recém-nascidos têm refluxo?

Fábio Teixeira – Todo recém-nascido tem o refluxo fisiológico, mas quando isso traz lesões ou alterações, precisa ser acompanhado por um bom pediatra.

Acorda Cidade – Por que alguns pacientes não respondem bem aos remédios para o refluxo?

Fábio Teixeira – 30% dos pacientes não estão mais respondendo ao tratamento por medicação, porque o paciente pode ter um refluxo que não seja ácido, que é o gasoso ou seja metabolizador rápido, e nós temos poucos medicamentos que surgiram nos últimos anos para poder tratar efetivamente o refluxo.

Acorda Cidade – Quais as recomendações para evitar o refluxo?

Fábio Teixeira – Para melhorar a qualidade de vida da população, o primeiro passo é a redução do peso, circunferência abdominal. Depois, mudar os hábitos alimentares, diminuir a comida. À noite, se alimentar com alimentos normais pelo menos três horas antes de dormir e líquido pelo menos duas horas antes. Devemos nos alimentar com menor volume e com mais frequência, mastigar mais.