Nesta quarta-feira (8), a cultura nordestina ganhou destaque especial na 8ª Feira de Graduação da Uefs. O evento, realizado no Museu Casa do Sertão, celebrou o Dia do Nordestino com um sarau cultural, homenagens, exposições e manifestações artísticas que enalteceram a força, a resistência e a diversidade do povo nordestino.
O Dia do Nordestino, comemorado nacionalmente em 8 de outubro, foi inserido na programação da feira, que teve como tema “Na Rota do Conhecimento” e buscou não apenas apresentar os cursos e oportunidades da Uefs, mas também reforçar o compromisso da universidade com a valorização da identidade regional.
A presença indígena no evento trouxe um importante lembrete das raízes ancestrais do Nordeste. A psicóloga Mari Fatum, indígena do povo Tumbalalá e egressa da Uefs, destacou a relevância da data para os povos originários. Ela é representante do Anjuká, Centro de Memória dos Povos Indígenas do Nordeste.
“Falar sobre o Dia do Nordestino é falar sobre toda a resiliência e resistência que nós, enquanto povos indígenas, somos. Nós fomos os primeiros a sofrer com o processo de colonização e invasão também em 1500 e que é constante inclusive, até os dias atuais. Então, a gente e a resistência ainda estamos aqui.”
O estudante Alex Monteiro da Silva, do povo Pankararu e natural de Jatobá, Pernambuco, também compartilhou a emoção de ver suas tradições representadas no museu.
“Me alegra ver uma tradição que vem do tempo de Luiz Gonzaga até hoje vivido e ver que o museu está expondo isso. É muito gratificante estar aqui nesse espaço aberto para ouvir essas pessoas que fizeram parte junto com o Luiz Gonzaga. E fico muito feliz em poder participar.”
Já Isaac Rios do Lima, estudante da Uefs e natural de Mairi, ressaltou o papel do evento na luta contra o racismo e a xenofobia.
“A importância dessa valorização aqui da cultura do dia do nordestino, que mostra todos os traços, as lutas também que o nordestino sofre nos últimos dias. A resistência, a questão de preconceito também com o nordestino. Tudo isso é questão de valorização. A gente como nordestino tem que sempre estar valorizando e comemorando muito por esse dia.”
Museu Casa do Sertão: guardião da cultura nordestina
O diretor do Museu Casa do Sertão, Cristiano Silva Cardoso, destacou o compromisso da instituição com a preservação da identidade regional. No espaço, os visitantes podem encontrar diferentes expressões no campo da cultura, das artes, dos objetos, mas principalmente dos saberes.
“O dia do nordestino é o momento onde a gente celebra justamente todo o legado e toda a contribuição do povo nordestino do campo da cultura, da educação, da saúde. A Uefs preza justamente por esse legado e o Museu não poderia deixar essa data passar em vão”, afirmou ao Acorda Cidade.
Cristiano também reforçou a importância de conectar passado e futuro na Feira de Graduação como um espaço que acolhe as novas gerações.
“O Museu tem uma contribuição a dar muito nesse sentido de dizer que a gente precisa pensar no futuro, precisa traçar as metas, mas a gente também precisa levar em conta os legados que estão em torno da nossa cultura, da nossa sociedade. É onde a gente celebra essa cultura, onde a gente valoriza e principalmente a gente deixa o recado para as novas gerações dessa importância.”
Homenagem aos Bambas do Nordeste
Um dos destaques do evento foi a exposição dedicada aos 50 anos do grupo Bambas do Nordeste. O museu reuniu fotografias, objetos e instrumentos musicais que marcaram a trajetória do grupo, incluindo a icônica Sanfona Branca, presente de Gonzagão ao sanfoneiro Baio.
“Eles fizeram parte da história de Luiz Gonzaga, é um grupo inovador com relação à introdução do trombone no forró. A famosa Sanfona Branca, que foi doada para Baio por Luiz Gonzaga e foi roubada há pouco tempo. E depois foi recuperada com uma comoção social muito grande”, explicou Cristiano Cardoso.
Nesta tarde, os Bambas do Nordeste também participaram das comemorações, escolha do Museu que caiu muito bem com a programação o último dia da Feira.
“O que é a essência do nordestino, se não os festejos juninos? A produção cultural, a valorização da nossa cultura do ponto de vista que a gente reconhece e se reconhece. Então os Bambas foram um convite muito oportuno. O forró é a nossa identidade cultural. A partir dessa grande alavanca que é o forró, a gente tem uma cadeia produtiva que gera emprego, renda, mas que principalmente gera cultura e diversão”, acrescentou o diretor.
Vozes do forró
O cantor Carlos Matteus, integrante dos Bambas do Nordeste e ex-aluno da Uefs, celebrou a homenagem. Ele também dez questão de relembrar o Rei do Baião.
“A gente fica muito feliz, essa data tão importante, tão grandiosa para nós. A gente não pode falar do Dia do Nordestino sem falar de Luiz Gonzaga, esse cidadão que foi o rei do Baião e continua sendo, por ter levado nossa cultura até para fora do país”, disse ao Acorda Cidade.
Segundo um cantor, essa foi a primeira vez que o Museu abriu as portas para homenagear o grupo com festa e está sendo uma honra receber esse reconhecimento.
“Sempre é com artigos, mas com banda é a primeira vez que o Museu abre as portas e a gente fica muito feliz. São 50 anos. A gente não precisa ir muito longe. A banda daqui de Feira de Santana que inovou o forró, que colocou o trombone no forró, que deu origem ao famoso naipe de metais, que tem à frente Baio do Acordeon, sanfoneiro que conviveu, fez turnê e ganhou a sanfona branca de Luiz Gonzaga. É um patrimônio vivo de Feira de Santana em atividade. É a história viva do forró.”
Nordestino com orgulho
Aos 81 anos, o músico Baio do Acordeon, lenda viva do forró, resumiu com simplicidade e muita generosidade a importância da música nordestina.
“É uma ideia muito boa pra gente, porque está chegando o tempo de forró, da música autêntica, e a gente está quebrando o galho aí devagarzinho, por aqui.”
Alagoano raiz, ele brincou com autenticidade dos nordestinos dos tempos de hoje.
“Ser nordestino mesmo, aquele caprichado, porque tem muitos aí que é mentiroso. A música nordestina toda a vida foi para os capixabas e não existe outra coisa melhor do que a música nordestina não.”
O forrozeiro Neném do Acordeon também marcou presença e reforçou a importância da data.
“O Dia do Povo mais importante do Brasil, forró, a música mais importante do Brasil presente. Eu saí de minha casa para vir prestigiar os Bambas do Nordeste um pouquinho e aproveitei também para dançar, porque eu também sou filho de Deus, normalmente só coloco as pessoas para dançarem, e eu dancei um pouquinho”, brincou.
Feirense do distrito de Jaguara, ele compartilhou experiências de preconceito enfrentadas por ele em outras regiões do país.
“Eu morei fora da Bahia. Eu vi o preconceito que as pessoas têm com o povo nordestino. Morei no Rio de Janeiro, morei em Brasília, morei no Espírito Santo. No Rio de Janeiro, nossa, todo mundo lá é Paraíba. Mas não é Paraíba, Paraíba, não é? Paraíba com o menosprezo mesmo em relação ao Nordeste”, contou.
Apesar da xenofobia e o racismo enfrentados pelos nordestinos, Neném ressaltou com orgulho a potência cultural da região.
“Hoje é a região que mais cresce, a música nordestina sempre muito forte, muito presente. E o forró, a gente faz parte do maior festejo do mundo, que é o São João, onde, por exemplo, só a Bahia são 417 municípios, onde todos comemoram os festejos juninos. Você não vai ver isso em canto nenhum do Brasil, onde tem uma música própria, uma culinária própria, uma indumentária própria e uma bebida própria. Então, a gente junta tudo isso, São João com o Dia do Nordestino, é muito importante. Eu fiz questão de estar aqui presente.”
Neném do Acordeon ainda aproveitou a oportunidade para fazer um convite. No dia 5 de dezembro, será realizado o Viva Gonzagão, com a participação dos Bambas do Nordeste na Avenida Fraga Maia.
A exposição dos Bambas do Nordeste segue aberta ao público no Museu Casa do Sertão até o dia 5 de novembro, e é mais uma oportunidade para vivenciar esse legado que pulsa em cada acorde de sanfona, em cada verso do sertão e no orgulho de um povo que nunca deixou de resistir.
Com informações do jornalista Kaio Vinícius do Acorda Cidade
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