A Comunidade Terapêutica Harmonia, é um espaço localizado no bairro Calumbi, conjunto Feira IV em Feira de Santana, dedicado à recuperação de mulheres em tratamento contra a dependência de álcool e outras drogas.
No local, durante nove meses, essas mulheres têm acesso gratuito a acolhimento, apoio psicológico, fortalecimento espiritual e social, além de atividades que visam a sua reinserção social e autonomia.
A Comunidade funciona sob os cuidados da Associação Cristã Nacional. Em entrevista ao Acorda Cidade, Thelma Carneiro que é presidente da associação contou que a mesma foi fundada em 1986. Em 2014, o projeto de atendimento a mulheres com dependência começou, através de um convênio que se tornou um termo de parceria com o Governo do Estado.
“Na Comunidade Terapêutica, nós temos o nosso programa de atividades, palestras com temas educativos, com temas que diz respeito e que interessa a vida dessas mulheres, que estão abrigadas aqui por conta de uma dependência química”.
A presidente do projeto informou que uma das maiores dificuldades enfrentadas pelas internas da Comunidade Terapêutica, é o medo do afastamento da família e relacionamentos.
“É difícil para a mulher aderir ao tratamento por conta de que elas têm filhos, tem medo de perder o filho, o medo de perder o companheiro, afinal de contas nove meses é muito tempo, e a questão também da abstinência porque a maioria dessas mulheres vivem em situação de rua.”
Thelma explica que o trabalho realizado na instituição é terapêutico e assistencial.
“Promovemos oficinas, quando a gente descobre as aptidões de cada uma com perspectivas de uma geração de renda, tem atendimento médico, atendimento odontológico, temos uma grande parceria com uma faculdade, e nós temos uma pedagoga”.
O objetivo mais desejado pelas mulheres internas é a reinserção no mercado de trabalho, uma etapa que também é difícil. A presidente explica que na comunidade há total incentivo, mas de forma honesta com o que as internas podem viver durante o processo.
“Isso é uma conquista. Eu digo assim: vocês vão primeiro elevar a autoestima, a consciência de que a dependência é uma doença, é uma doença incurável, mas é uma doença controlável”.
Café Terapia
Um dos eventos que otimizam este trabalho é o Café Terapia, ação que convida profissionais e parceiros para compartilhar informações, histórias e conhecimentos, oferecendo às internas um olhar mais amplo sobre o mundo e caminhos possíveis após a reabilitação.
A atividade é facilitada por Ana Deyse, pedagoga que atua como técnica de apoio e coordenadora de Residência Inclusiva da instituição. Na edição desta semana, que acontece nesta quarta-feira (9), o palestrante será um profissional de RH.
“Nesse projeto nós convidamos pessoas para levar instrução e informação para as mulheres acolhidas. Nós vamos receber no dia 9 no Café Terapia, Jefferson Carlos, ele vai falar sobre perfil curricular, algo importante para as mulheres que almejam ser reinseridas no mercado de trabalho ou inseridas.”, explicou Ana Deyse.
O Café Terapia entra como uma atividade importante para a recuperação da vida cotidiana das mulheres com dependência química e alcoólica.
“O objetivo é debater, discutir, instruir, analisar situações que acometem a vida cotidiana. As aflições, as dificuldades, analisar como pessoas dentro de uma sociedade.”
A atividade acontece duas vezes por mês, normalmente às quartas ou sábados a tarde.
“Nós já tivemos a presença de professoras de arte, de dança, de biomédicos. E vamos ter também, no próximo evento, que acontecerá em um dia de sábado, a presença da OAB para falar sobre direitos e deveres das mulheres como cidadãs da sociedade.”
Apoio que gera esperança
Uma interna de 27 anos, que não quis se identificar, conversou com a reportagem do Acorda Cidade. Ela relatou que chegou ao local por indicação de uma colega de trabalho que atuava no programa social Corra para o Abraço. “Aqui foi a instituição indicada por conta que tem especialidades como assistente social e psicólogo.”
Ela conta que o uso de cocaína passou a modificar negativamente a rotina e os vínculos construídos durante a vida.
“Era um uso que a gente acaba não tendo mais responsabilidade, com o trabalho, com a família, com as nossas obrigações. Desde 11 anos de idade que eu usava, mas eu sempre tive o controle. Mas quando eu fui perdendo o controle, aí eu vi que era hora de procurar uma ajuda.”
A jovem conheceu o entorpecente por influências de amizades, ainda sim ela conseguia continuar trabalhando e cumprindo com as obrigações a princípio. Porém esse cenário foi mudando.
“Eu sempre trabalhei e fui pra uma pessoa esforçada, e aí eu comecei a não ter mais a obrigação, não tava conseguindo mais ir pro trabalho, as pessoas estavam se afastando de mim.”
Ela então, aceitou a ajuda que surgiu, morava em Salvador e passou a morar em Feira de Santana para entrar para a Comunidade e três meses já se passaram. Além da vontade de mudar, a jovem está grávida de uma menina, já no finalzinho da gestação.
“O que eu tenho a dizer, é que graças a Deus, Dona Thelma abriu as portas, me deu uma nova oportunidade. As pessoas que me ajudaram a acreditar em mim, e hoje eu me sinto uma nova pessoa. Foi um choque de realidade que eu tomei e, daqui pra frente, vai ser tudo diferente”, concluiu.
Outros programas da Associação Cristã Nacional
A Associação Cristã Nacional atua com três programas voltados para públicos diferentes em Feira de Santana. A Comunidade Terapêutica, que hoje atende 25 mulheres, a Residência Inclusiva que abriga 10 crianças e adolescentes com deficiência severa sem vínculo familiar, e o terceiro, é o abrigamento com 30 idosos acamados.
A associação organiza equipes de profissionais para atender a cada programa.
“Nós temos três equipes. Para cada segmento nós temos uma estrutura física adequada composto de assistente social, de psicóloga, de enfermeira, de cuidadores, pessoal de apoio, cozinha e limpeza.” explica Thelma.
A instituição vive de parcerias financeiras com o poder público e com o setor privado.
“Quando vamos falar dos idosos, são 30 idosos, nós temos um termo de parceria com o município, no valor de 9 mil reais. Temos as mulheres, com uma parceria com o Governo do Estado. Nós vivemos também em parcerias com o setor privado, com grupos evangélicos e com grupos espíritas, com faculdade e com escola de cuidadores que fazem estágio aqui”, acrescentou.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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