Negligência

Cadeirantes de Feira de Santana enfrentam dificuldades com falta de medicamentos e insumos: “Falta consciência do poder público”

Apesar dos desafios, há espaços de resistência e superação como o esporte, que traz mais qualidade de vida para os cadeirantes.

Cadeirantes
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Em Feira de Santana, cadeirantes que dependem de medicamentos e insumos para cuidados diários com a saúde relataram dificuldades para conseguir os itens na rede pública de saúde. A situação que se arrasta há mais de uma década, tem se agravado e causado transtornos diretos na qualidade de vida das pessoas, como contou ao Acorda Cidade, Neivaldo Junior.

“Gostaria que o secretário olhasse pra gente, ter uma atenção, para estar regularizando essa parte do material e medicamento que a gente faz de uso contínuo.” Entre os principais problemas relatados por ele estão a falta de medicamentos como oxibutinina e baclofeno, além de sondas, sacos coletores e luvas. A ausência desses materiais compromete a saúde dos usuários e, em muitos casos, pode levar a complicações graves.

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Neivaldo Júnior | Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“Transtorno grave é infecção urinária, perda de urina, e isso acaba que a pessoa evita de estar saindo por conta desses transtornos. Faz o cateterismo intermitente, é um procedimento limpo que toda vez que a pessoa vai no banheiro, passa uma sonda para poder estar eliminando a urina da bexiga. Fica urinando constantemente, tem perda de urina e isso aumenta o risco de infecções, causando insuficiência renal com o tempo”, explicou Neivaldo.

Os cuidados explicados por Neivaldo são comuns a algumas pessoas que são cadeirantes como Edson Araújo. Ao Acorda Cidade, ele contou que a deficiência foi adquirida após levar um tiro na coluna durante uma confusão. Desde então, ele enfrenta uma rotina de cuidados exigente no seu dia a dia.

“Minha deficiência foi um acidente de tiro, ela é uma lesão medular, T12. Teve uma confusão e aí o rapaz meteu-lhe bala. Pegou nas costas, na medula e de lá pra cá, eu tô na cadeira de roda.”

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Edson Araújo | Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

A manutenção da saúde depende de uma lista extensa de insumos que, segundo ele, estão frequentemente em falta nos postos de saúde.

“A gente tem o oxibutinina, que controla a incontinência urinária. Tem também uma quantidade muito grande por mês, 240 sondas. […] São os materiais que tem faltado.”

Segundo Edson, mesmo com promessas de reestruturação da distribuição, o cenário ainda é instável porque sempre houve dificuldade para conseguir os medicamentos.

“Só que agora está maior. A gente sabe que o secretário está aí, já está tudo organizado, mas até agora o material, o medicamento não tem chegado. Começou a chegar um materialzinho, aí chega um mês, dois meses falta.”

Ele também criticou a logística entre a Secretaria de Saúde e os postos de saúde que cada um passa uma orientação e no final das contas, deixa as pessoas sem assistência. “Fica aquele jogo de empurra. O posto fala que é a secretaria, a secretaria fala que é o posto.”

A consequência mais grave por conta da falta de insumos e medicamentos, segundo os cadeirantes, é o aumento do risco de infecções, ainda mais para o grupo que são mais de 15 pessoas que praticam esporte e necessitam dos cuidados ainda mais precisos.

“Se não tem luva, a gente tem que fazer o procedimento sem luva. Se não tem a sonda, um ou outro acaba reutilizando, lavando a sonda. E nunca é o cuidado total, sempre tem esse problema aí de infecção.”

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Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Para Edson, a solução passa por sensibilidade e gestão pública eficiente que reconheça as necessidades das pessoas cadeirantes do município e melhorem a assistência médica para elas. Segundo Edson, quando questionam a falta dos materiais, as desculpas são sempre as mesmas; que falta finalizar o processo de licitação para compra, falta nos postos ou ainda não foi repassado, mas sempre há os transtornos.

“Eu acredito que precisa uma boa gestão, um secretário que olhe que essa rapaziada realmente é necessitada, são materiais e remédios que não podem faltar de jeito nenhum. Falta consciência, na verdade.”

O esporte como ferramenta de superação

Apesar dos desafios, há espaços de resistência e superação como o esporte, que traz mais qualidade de vida para os cadeirantes. É mais saúde, sociabilidade e autoestima para eles. Edson participa ativamente do time de basquete em cadeira de rodas em Feira de Santana há mais de 15 anos, quando ainda era universitário na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Depois o projeto parou, mas retornou com a ajuda do município.

Atualmente, os treinos acontecem às terças e sextas-feiras no antigo Feira Tênis Clube e está aberto a todos os cadeirantes que queiram participar.

“Tanto na questão de socializar, quanto na questão da saúde. Hoje em dia, se a gente fica parado, por ser cadeirante, tem uma dificuldade maior de locomoção. Tudo isso prejudica o intestino, prejudica várias coisas, então a importância é muito grande”, explicou Edson.

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Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Campeões baianos em 2024, os atletas também precisam de apoio para continuar com as atividades. “Pode vir patrocínio. A gente tem em média sete times na Bahia. A gente roda a Bahia toda. Então tem uma visibilidade boa. Estamos de portas abertas.”

Defeba e a luta por direitos

A associação que representa o grupo, a Defeba (Associação dos Deficientes Físicos em Cadeira de Rodas de Feira de Santana), está passando por reestruturação, mas deve voltar a atuar em breve com força total.

“A gente está organizando agora com o corpo diretivo e, assim que estiver tudo certinho, a associação vai estar apta a funcionar normal.” Enquanto a luta por dignidade e acesso à saúde continua, os cadeirantes de Feira de Santana seguem buscando caminhos para serem ouvidos e respeitados.

O Acorda Cidade irá solicitar um retorno da Secretaria Municipal de Saúde.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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