Rachel Pinto
Segundo o censo realizado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Sedeso), através do Sistema Único de Assistência Social (Suas), Feira de Santana tem atualmente uma média de 640 pessoas em situação de rua. O munícipio dispõe de casas de passagem para abrigar essas pessoas e outros equipamentos públicos de assistência, mas o serviço é ainda insuficiente para atender a grande demanda dessa população.
De acordo com Edcarlos Venâncio Cerqueira, coordenador do Movimento de Moradores de Rua, a cidade precisa de ações mais efetivas, principalmente com melhor assistência à saúde e efetivação de profissionais nos equipamentos já existentes. Ele explica que o movimento foi implantado há cinco anos em Feira de Santana e nesse período, apesar dos avanços e melhorias das políticas públicas, é preciso avançar em alguns aspectos, principalmente relacionados a algumas necessidades básicas da população de rua como necessidades fisiológicas, de higiene pessoal e segurança alimentar.
Edcarlos conta que o trabalho realizado pelo movimento é pautado, sobretudo no diálogo e na conquista da confiança das pessoas que se encontram em situação de rua. “O diálogo primeiro com quem está em situação de rua para conquistar a confiança e perceber como abrir portas para essa saída e o diálogo com o poder público e com as ONGs que fazem trabalho de convivência para contribuir para a dignidade dessas pessoas”, disse.
A população de rua de Feira de Santana é formada por homens e mulheres que se desencontraram com a própria vida, tiveram vínculos rompidos com a família, vieram de outros lugares com desejo de trabalhar e chegaram a essa condição, pessoas com psiquiatria e com dificuldades ligadas a substâncias químicas. São inúmeros os fatores que levam as pessoas às ruas e, segundo o coordenador do movimento, não há um conceito específico. Ele relata que o objetivo é buscar o direito de todas essas pessoas. “O nosso objetivo é mostrar para cada uma delas, a partir da convivência, os seus direitos. Mostrar que elas precisam ter as necessidades básicas atendidas e isto está na constituição”, completou.
Dificuldades
Apesar de ter cinco profissões, o ex-morador de rua Renildo da Silva Santos, conta que tem muitas dificuldades para conseguir emprego e sobreviver em Feira de Santana. Ele fala que sofre muito preconceito e discriminação principalmente quando o assunto é mercado de trabalho.
“Eu tenho passado por um processo de muita dificuldade porque eu venho de uma realidade de exclusão da sociedade. Eu vejo que pela rede que poderia garantir os meus direitos eu tenho maior dificuldade de encontrar essa porta de acesso para ter os benefícios e os meus direitos”.
O Secretário de Desenvolvimento Social, Ildes Ferreira afirmou que o trabalho com os moradores de rua de Feira de Santana não é tarefa fácil e segundo ele, existem vários grupos e até alguns aproveitadores. “O nosso último censo das pessoas em situação de rua foi em 2014. Registramos 640 pessoas. Essa quantidade tem algumas diferenciações. Há um grupo de pessoas que moram na rua mesmo; aqueles que queremos ajudar, mas preferem ficar na rua, o grupo que está na rua, mas quer um meio para sair, o grupo de pessoas de outros lugares e que estão de passagem, e também alguns que são aqueles aproveitadores que tem casa, moradia, família, largam tudo e vêm apelar para a caridade pública”, explicou.
Segundo Ildes Ferreira, além das diversas ações realizadas pela secretaria voltadas para a população de rua, Feira de Santana conta com duas casas de passagem que dão suporte e apoio para essas pessoas. Ele relatou que as duas casas mantém 50 pessoas cada uma, com alimentação e dormida e que o custo é muito alto. Além disso, a verba de apoio e manutenção para essas casas que vinha do governo federal foi cortada.
“O governo estava passando 40 mil reais por mês para Feira de Santana e cortou a metade dessa verba. Então hoje nós temos 20 mil reais. O que significa que vamos ter que suspender uma casa de passagem. Vamos fechar. Tem toda uma estrutura, pessoas que trabalham e é um trabalho que demanda uma boa ação de recursos. Mas, com esse recuo do governo federal certamente haverá uma retração grande nesse serviço”, finalizou.
Com informações e fotos do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.