Responsável por edital de concurso da Secult que favorecia militantes é exonerado
O cargo de representante territorial de cultura exigia nível superior e dava até dez pontos para o candidato que tivesse “atuação em sindicatos, partidos e organizações da sociedade civil”
Responsável por edital de concurso da Secult que favorecia militantes é exoneradoResponsável por edital de concurso da Secult que favorecia militantes é exoneradoResponsável por edital de concurso da Secult que favorecia militantes é exoneradoResponsável por edital de concurso da Secult que favorecia militantes é exonerado
Concursocancelado e superintendenteexonerado. Essefoi o resultadodarevelaçãofeitaontem, pelojornalCorreio, que o processoseletivodaSecretariaEstadualdaCultura (Secult) favoreciamilitantespolíticos e sindicais. Pelamanhã, a Secultdivulgou nota em seu site em queinformavaque “com o objetivo de reavaliaroscritérios de seleção”, o editalestavacancelado. No iníciodanoite, apóslongareunião com o secretário Albino Rubim, o superintendente de Desenvolvimento Territorial Adalberto Santos, responsávelpelaelaboração do edital, pediuexoneração do cargo. O motivoalegado: “O desgaste em virtude dos últimosacontecimentos”. Albino Rubimnãofalou com a imprensa.
Antes daexoneração, no entanto, Santos disseaoCorreioque o erronãopassou de um mal entendido. “Naverdade, nósestávamosquerendopessoas com experiência em políticasculturais. Mas a formulação do item foiequivocada e deumargem a um entendimentoerrôneo”, alegou.
Atuaçãopartidária
Peloeditalcanceladoontem, o cargo de representante territorial de culturaexigianível superior e davaatédezpontos (2,5 porano de atividade) para o candidatoquetivesse“atuação em sindicatos, partidos e organizaçõesdasociedade civil”. Segundo a Secult, a função do representante territorial éacompanhar as atividadesculturaisdaregião – umaespécie de correspondentedasecretaria no local. As novevagasdisponibilizadas no editalerampara as regiõescujostitularesdeixaram o cargo, pormotivosdiversos.
De acordo com a secretaria, a seleção dos representantesterritoriais – 26 no total – semprefoifeitapelo Regime Especial de DireitoAdministrativo (Reda). O salárioprevisto no editalparaselecionarosrepresentantes em noveregiões era de R$ 1.980, com direito a auxílio-alimentação e plano de saúde. Agora, segundo o superintendente, o editalestásendoreavaliado, masnãohá data parapublicação. “Será o maisrápidopossível”.
Ilegalidade
O privilégioparafiliadospolíticosnão era o único item discutível do edital, segundo a promotora Rita Tourinho, do Grupo de Atuação Especial em DefesadaMoralidadeAdministrativa e do PatrimônioPúblico. Elaidentificououtrosdoisaspectosilegais. “Em primeirolugar, a fase de entrevistanãopodesereliminatória. Éumacoisamuitosubjetiva e sódeveserutilizada em critérios de desempate”, pontuou. O processoseletivoconsistiaapenas em umaanálise de currículo e umaentrevista.
O outroerro, segundo a promotora, era a exigência de que o candidatomorasse, previamente, no município-sede de cadaregião. Sobre as providências a seremtomadaspeloMinistérioPúblico, a promotoraafirmouque o assuntoaindaestásendoavaliado.
O advogadoWaldir Santos, especialista em concursos e colunistadarádioCBN, acrescentouqueumadascláusulas do editalpreviaque, no caso de nenhumcandidatoobterpontuaçãomínima, a Secultestavaautorizada a contratar, de forma direta, qualquerpessoaquetivesseounão se inscritonaseleção.
“Issoétotalmenteequivocado. A pessoaquequaseatingiu a pontuaçãopodeserpreterida em função de outraqueficou em últimolugarou, pior, quenem o concurso fez”.
Adalberto Santos, o superintendenteexonerado, disseser“impossível”ninguématingir a pontuaçãomínima. “Nãotem nota de corte. A maior nota equivale a 10”, explicou. Outro item questionadopeloadvogadoé o próprioReda. “Essamodalidade de concursosópodeseraplicada em casosemergenciais”, argumentouWaldir Santos.
A contrataçãoporRedapara um cargo quejáexistedesde 2009 é um assuntoquefogeàalçadadaSecult, justificouAdalberto. A divisãoda Bahia em 27 territóriosfoifeitanagestão de MárcioMeirelles. Desses, osnove com vagasabertassão Sisal, Bacia do Rio Corrente, VelhoChico, Recôncavo, Irecê, ExtremoSul, RegiãoMetropolitana de Salvador, Portal do Sertão e LitoralSul.
ERROS DO EDITAL
1) Vantagemparaquemtematuaçãopolíticaousindical: De acordo com especialistas, o item édiscriminatório e fere o princípiodaisonomiaentrecandidatos.
2) Entrevistaeliminatória: A promotora Rita Tourinhoafirmaque a entrevistaésubjetiva e sópodeserusadacomocritério de desempate.
3) Exigência de residir no local: A promotoratambémpontuaquenenhumconcursopodeexigirque o candidatoresidapreviamente no local.
4) Contrataçãodireta: O advogadoWaldir Santos considerailegalcontratarlivrementequemquiser, se nenhumcandidatoatingir a pontuação
5) Reda: Aindasegundo Santos o Redasópodeserusado em situaçõesemergenciais, o quenãoé o caso do processoseletivodaSecult
Oposiçãodenunciaaparelhamento
O controverso item do editaldaSecultfoivistocomotentativa de aparelhamentodamáquinapúblicapelospolíticos de oposiçãoaogoverno do estado. “Issoé um absurdo. Nãoconheçoalgoprecedente no Brasil.
Infelizmente, a gentejásabiaque o PT tinhacomopráticarecorrente o aparelhamentopolíticonassuasadministrações, mas agora chegouaolimite”, criticou o deputado federal ACM Neto, líder do DEM na Câmara. “Filiaçãopolíticajamaispodesercritérioparaentrarnacarreirapública”, concluiu.
O presidenteestadual do PMDB, LúcioVieira Lima, engrossou o coro: “É o fimdapicada. Quando se perde a vergonhanacara e se tentaoficializar o aparelhamentopara fins eleitoraisé o fim, uma total falta de respeito com a opiniãopública e com o eleitor”, disse, indignado. O deputado federal classificoucomo“cara-de-pau” a atitude de beneficiarmilitantespolíticos”.
O líderdaoposiçãonaAssembleiaLegislativa, Bruno Reis (PRP), completou: “O cinismo do PT étãograndequequeremlegalizarindicaçõespolíticas, comojáfazem em cargos comissionados. Se Jaques Wagner tivessejuízo, deviademitir o secretário (de Cultura, Albino Rubim)”, opinou o deputado.
Na Casa, o assuntofoitema do discurso do deputado Carlos Geilson (PTN), ontempelamanhã. “Como éque o secretáriodaCultura, Albino Rubim, dizquenãoconheciaessecritério? Elenãolê o edital antes de assinar? Esseé o governoquefala de moralidade, mascoloca um item desses em um processoseletivo. O quetranspareceéqueé um concurso de cartasmarcadas”, afirmou, durante a sessãoplenária.
O presidenteestadual do Democratas, José Carlos Aleluia, tambémmanifestouseurepúdio, através de nota. Para Aleluia, o cancelamento do editalnãotira o dolo do ato. “Como diz o povo, elesjogaram o barroparaver se colava. E não me venha agora o atualsecretário de Culturadizerqueassinou o editalsemler”, disse, classificandocomo“tentativadesavergonhada de aparelhamento” o item do editalquefalava em militância.
Em meio a essachuva de críticas, o líder do governonaAssembleia, ZéNeto, tentou defender o governo. “Nãotembicho de setecabeças”, afirmou. Repetindo a justificativa do superintendenteexonerado, eleafirmouque o objetivo era buscarpessoas com maisenvolvimento social. “Talveztenhaexageradona dose, masfoicoisa de algumtécnicoquenãosoube se expressardireito, umabobagem”, avaliou.
Eletambémdefendeu a hipótese de terhavido um mal entendidonaformulação do edital. “Nãotemmistérionenhum. Houveesseruído e agora vaiterque resolver. Aliás, jáestásendoresolvido”, minimizou.
Para artistas, Secultdeveexplicação
A polêmicaenvolvendo o editaldaSecultdespertouinteresse em partedaclasseartística. Para o cantor e compositor Gerônimo, o cancelamento do editalreflete a intenção de avaliarmelhor a situação. “Acreditoque o secretário Albino Rubimtomouessadecisãoparapensarmelhor em todoestecaso. A seleçãonãopodesertendenciosadessa forma”, diz.
Já o poeta Douglas Almeidaafirmaquenãobastacancelar o edital. “Épreciso saber o motivo de ter se pensadodesta forma. Énecessáriocontestarestaideia. Tambémnãoconcordo com a exigência de nível superior. A culturaémuitomaisqueumaquestãopartidária e de ensino. Éfeitapara o cidadão, independente de qualquercoisa”. LeloFilho, daCiaBaiana de Patifaria, temopiniãoparecida. “Naverdade, o editalfoisuspensodepoisdarepercussãonaimprensa. A Secretariadeveumaexplicaçãoparatodos. Nós, artistas, tambémvivemos de edital”.(Correio)
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