Laiane Cruz
O ataque de um estudante de 14 anos, que atirou contra os colegas de classe, dentro de um colégio particular em Goiânia no último dia 20, reacendeu o debate em torno dos possíveis impactos do bullying.
Dois estudantes morreram e outros quatro ficaram feridos, sendo que um deles ficou paraplégico. O autor dos disparos, que cursa o 8º ano e é filho de policiais militares, alegou ser vítima de bullying dentro da escola, e se inspirou em massacres ocorridos nos Estados Unidos e em Minas Gerais para praticar o crime.
O adolescente está apreendido e disse que se arrependeu do que fez.
Psicólogo Valmir Mota (Foto: Ed Santos/Acorda Cidade)
Em entrevista ao Acorda Cidade, o educador e psicólogo Valmir Mota, explicou que a palavra bullying é americana e vem do termo bully que quer dizer ‘valentão’. De acordo com ele, a prática sempre existiu, mas nos anos 70, na Noruega, um pesquisador tentando descobrir o comportamento suicida em adolescentes e jovens criou o termo para falar de pessoas que sofriam perseguição dentro da escola, são discriminadas, recebem agressões físicas e psicológicas.
“Desde os anos 70, o problema vem crescendo na visão das escolas e da sociedade também e ultimamente vem cada vez mais se evidenciando, e existe também hoje o cyberbullying”.
Fatores
Valmir Mota esclarece que diversos fatores podem levar uma criança ou adolescente a praticar o bullying, como a forma como é tratado em casa, se também sofre algum tipo de discriminação, a forma como lida com as frustrações, o fato de não se aceitar, entre outras situações, que fazem com que ele transmita para quem está próximo os seus problemas.
“São vários os motivos e a pessoa vai refletir isso no que está perto dela, e vai em busca daquele menino ou menina que tem traços de baixa autoestima, são retraídas, caladas, alguma característica física”.
Em alerta
O psicólogo ressalta que os pais precisam estar atentos em relação filhos. Ele avalia que hoje com o crescimento do uso da internet pelas crianças e adolescentes de forma indiscriminada pode ser perigoso.
“No nosso tempo, nós tínhamos as ruas para brincar, hoje as crianças não têm mais. Depois de casa, o próximo ambiente social da criança é a escola. Mas, hoje nós temos uma outra rua muito perigosa, que é a internet. A criança vai pra rua através da internet. E tem que ter atenção com o comportamento do filho, se está ansioso, muito trancado no quarto, com medo de ir à escola, dificuldade de falar, se chora pra ir à escola, se o rendimento escolar caiu, são sinais importantes”.
Ao perceber que existe um sinal de prática do bullying pelo filho, é importante que os pais tenham conversas muito mais abertas, ressaltando valores como o respeito ao ser humano, a solidariedade, amizade, perdão, amor, respeito às diferenças, a obediência. Depois é preciso buscar ajuda profissional.
“Aquele que sofre o bullying, da mesma forma, os pais têm que apoiar, fortalecer a questão da autoestima, do diálogo, a aceitação de si mesmo. Na escola quem mais percebe que tem alguém sofrendo bullying são os próprios colegas. Porque existe o autor, a vítima e a plateia, que são aqueles que assistem ao bullying. Então geralmente isso é comentado, e o professor, a escola vem percebendo que aquela criança não quer participar de nada, não quer fazer trabalho em grupo, está sempre sozinha, isolada, que entrou no banheiro e três ou quatro foram atrás, uma brincadeira de mau gosto de um aluno contra outro, são sinais de que algo não vai bem”, exemplificou.
Para Valmir, se conversa pouco sobre o bullying em casa. Ele acredita que é preciso introduzir questões como essa no dia a dia dos filhos, principalmente sobre o respeito ao espaço do outro.
“Essas conversas podem produzir efeitos positivos. Quem é vítima fica mais evidente que é vítima, mas quem pratica tem também seus sofrimentos, suas dores. Tudo passa pelo ambiente, a educação em casa. Muitas vezes, aquela pessoa pra se autoafirmar o faz sobre o outro que é mais frágil, e precisa ser também cuidado”.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.