Educação

MEC avalia com nota máxima curso superior de Tecnologia em Alimentos da UFRB

A escala de notas vai de 1 a 5 e avalia os critérios como infraestrutura, corpo docente, projeto pedagógico, desempenho do estudante, entre outros fatores. A avaliação do MEC aconteceu entre os dias 04 e 06 de maio.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Avaliadoras do Ministério da Educação (MEC) concluíram o processo preliminar de reconhecimento do curso superior de Tecnologia em Alimentos da Educação do Campo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), com nota máxima, conceito 5. A escala de notas vai de 1 a 5 e avalia os critérios como infraestrutura, corpo docente, projeto pedagógico, desempenho do estudante, entre outros fatores. A avaliação do MEC aconteceu entre os dias 04 e 06 de maio.

“Essa avaliação representa para todos nós o reconhecimento do esforço diário daqueles que lutam na construção e efetivação da Educação do Campo e pelos direitos dos povos do campo, das águas e das florestas. Construímos a muitas mãos e, com o apoio das organizações e movimentos sociais do campo, o projeto de Educação do Campo na UFRB e a cada reconhecimento de curso, celebramos mais uma vitória. Somos um curso ainda novo, portanto, que sigamos na construção coletiva da Educação e que a qualidade do ensino e trabalho docente continuem sendo pautas defendidas no âmbito da UFRB e do Centro de Ciências e Tecnologia em Energia e Sustentabilidade (CETENS)”, disse a coordenadora do curso, professora Liz Oliveira.

Tecnologia em Alimentos

O curso de Tecnologia em Alimentos, vinculado à Educação do Campo, compõe a grade de cursos do Centro de Ciências e Tecnologia em Energia e Sustentabilidade (CETENS), campus Feira de Santana. O curso funciona no período diurno, com previsão de seis semestres – o equivalente ao cumprimento de 2.550 horas de atividades na modalidade da Pedagogia da Alternância.

O curso tem como foco promover a formação e a qualificação de processamento e de beneficiamento de alimentos da agricultura familiar, na promoção do desenvolvimento territorial, a partir dos princípios da agroecologia e da organização coletiva, voltada para a soberania, a segurança alimentar e nutricional e a economia solidária.

A vice-coordenadora do curso, Samantha Costa, comenta sobre o diferencial do curso. “A formação de profissionais habilitados e qualificados na área de Tecnologia em Alimentos que podem contribuir diretamente para o planejamento, gestão e operacionalização das agroindústrias da agricultura familiar existentes, muitas delas nas suas próprias comunidades. Os discentes do curso têm uma formação diferenciada e contextualizada, de base agroecológica e de organização coletiva e solidária, com habilidades sociopolíticas capazes de planejar, implementar, administrar, gerenciar, promover e aprimorar a área de alimentos da agricultura familiar”.

Os componentes curriculares são ofertados em dois tempos formativos na modalidade da Pedagogia da Alternância: o tempo universidade, que corresponde a 70% da carga horária dos componentes curriculares; e o tempo comunidade, que corresponde a 30% da carga horária dos componentes curriculares, e tem suas atividades desenvolvidas de maneira integrada entre o ensino, pesquisa e extensão, principalmente com a construção de Projetos de Intervenção.

O curso tem convênios com instituições e ambientes profissionais, para cooperação técnica, como associações e cooperativas, vinculadas a grupos produtivos e agroindústrias da agricultura familiar, visando, entre outras ações, a vinculação com os tempos formativos da Pedagogia da Alternância, no tempo universidade com a realização das aulas práticas de processamento de alimentos para os estudantes do cursos e das atividades dos projetos de intervenção do tempo comunidade.

Entre os conveniados estão a Associação Comunitária da Matinha (ACOMA), a Associação Regional dos Grupos Solidários de Geração de Renda (ARESOL), a Associação Rural Quilombola de Paus Altos, Santa Cruz e Adjacências (ARQUIPASCA), o Centro de Educação e Cultura Vale do Iguape (CECVI) e a Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Feira de Santana (APAEB – Feira de Santana).

O curso de Tecnologia em Alimentos, em processo de finalização do reconhecimento junto ao MEC, tem 80% dos professores com título de doutorado – os outros 20% têm título de mestre. Os docentes têm experiências acadêmicas e profissionais nas áreas de produção de alimentos e de gestão de empreendimentos agroindustriais da agricultura familiar.

Das turmas ingressantes no período de 2018 a 2021, o curso conta com 103 alunos matriculados ativamente, dos quais 18 são participantes em projetos de pesquisa; 9 participantes em programas internos e/ou externos de financiamento; 21 participantes em projetos de ensino; e todos os estudantes estão vinculados com ações de extensão, a partir dos projetos de intervenção, sendo que 8 são bolsistas em programas/projetos de extensão.

O vice-diretor do CETENS, Odair Vieira, comemorou a obtenção da nota máxima. “Uma nota 5 no Curso Superior de Tecnologia de Alimentos na Educação do Campo permite que o curso entre numa rota de atração de mais investimentos, mais estudantes, mais pesquisa, mais extensão, mais docentes, além de colocar o CETENS e consequentemente a UFRB em visibilidade a nível nacional”.

Para ele, o curso de Tecnologia em Alimentos é importante também para o estado da Bahia, por ser um curso que tem como propósito contribuir com o desenvolvimento da agricultura familiar, através da formação de profissionais alinhados com a organização coletiva da produção, do beneficiamento, do armazenamento e da comercialização que geram riquezas dentro da realidade brasileira, dentro dos princípios da agroecologia e da economia solidária.

Contribuição para a agricultura familiar

Entre as demandas apresentadas no contexto da Educação do Campo está a de contribuir com os povos do campo no processo de produção e de processamento de alimentos nas unidades familiares. Estas unidades são resilientes ao modelo de desenvolvimento excludente, e que mesmo com as adversidades, garantem a produção e o abastecimento de alimentos para 70% da população brasileira, mesmo ocupando apenas 23% da área total dos estabelecimentos rurais. Esses dados revelam “a importância da agricultura familiar no contexto brasileiro e baiano com a geração de riquezas e a promoção da segurança alimentar e nutricional, em que a universidade assume um currículo que promove a formação técnico, científico e cultural de características estruturantes para o enfrentamento das desigualdades sociais e da exclusão no mundo rural, a partir do respeito a trajetória, o modo de viver e de produzir de sujeitos do campo com importância histórica no desenvolvimento territorial”, explica a pró-reitora de Extensão, Tatiana Velloso, presidente do NDE.

Este debate da produção e do abastecimento de alimentos pela agricultura familiar se entrelaça na dinâmica da Educação do Campo na garantia das condições dignas e sustentáveis de cidadania, como o direito a terra, as políticas agrárias, educacionais, agrícolas, entre outros. Segundo o Censo Agropecuário do IBGE (2017), a agricultura familiar exerce uma importância pela existência de 3,9 milhões de estabelecimentos agropecuários da agricultura familiar, que representam 77% do total no Brasil, com 67% do pessoal ocupado em agropecuária no Brasil, em que 46,6% localizam-se na região Nordeste e 13,9% na Bahia. Portanto, a Bahia é o estado com o maior número de agricultores familiares do país. Essa dinâmica é vista nas agroindústrias rurais, com 1.527.056 unidades distribuídas nos estabelecimentos agropecuários, em que 85,9% são da agricultura familiar e o estado da Bahia representa 10,7% destas agroindústrias.

Neste contexto, a implantação de um Curso Superior de Tecnologia em Alimentos na Educação do Campo surge como oportunidade de estruturar e de fortalecer os sujeitos da agricultura familiar que vivem e trabalham no campo na produção e no processamento de alimentos no contexto da soberania e da segurança alimentar e nutricional, mediante a importância deste segmento na realidade brasileira e baiana.

Foto: Divulgação

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