Feira de Santana

Estudantes da rede estadual participam de roda de conversa sobre abuso sexual infantojuvenil

Rede de apoio profissional se reuniu para levar orientações e informações aos estudantes sobre o assunto

Roda de conversa abuso sexual infantojuvenil- Ceep
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

O Maio Laranja é uma campanha nacional de combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Neste ano, no mês da campanha, estudantes do Centro Estadual de Educação Profissional Áureo Oliveira Filho (Ceep) participaram de uma roda de conversa que contou com a participação da Ronda Escolar, Ordem dos Advogados do Brasil – subseção Feira (OAB Feira), Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedeso) e outros órgãos. O evento aconteceu na manhã desta quinta-feira (29).

O estudante Gabriel Rodrigues está no segundo ano do ensino médio. Ele menciona que a situação amedronta não apenas crianças, mas também adolescentes, que podem ficar coagidos, apesar da maior consciência psicológica. “Os casos de assédio ocorrem para todas as idades, desde crianças pequenas, mais frágeis, até jovens e até adultos também que sofrem com esse tipo de situação.” 

Roda de conversa abuso sexual infantojuvenil- Ceep
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Gabriel ainda acrescentou a importância que debates como este têm para os jovens. “A gente vê muitos casos, mas ainda tem casos que estão escondidos aí pelo mundo, pelo Brasil. Estão no silêncio, infelizmente. Principalmente relacionado a meninos, por causa da masculinidade, de como a sociedade as cria, e muitas têm medo de alguma coisa acontecer com elas ou com algum parente próximo se denunciarem.” relatou o estudante.

Roda de conversa abuso sexual infantojuvenil- Ceep
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

A advogada Luzinaide Argibay, representou a comissão de Proteção da Criança e Adolescente da OAB no evento. Segundo ela, apesar de a comissão não formalizar denúncias, a busca pela fiscalização ainda é pouca.

“O índice de solicitação é pouco. A denúncia geralmente é para o Cras e para os órgãos competentes, como principalmente a polícia. A gente só fiscaliza. Se chegar alguma denúncia para a OAB, a OAB vai entrar em contato com os órgãos responsáveis e vai ficar fiscalizando, acompanhando até o desenvolver do caso.”

Roda de conversa abuso sexual infantojuvenil- Ceep
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

A ordem atua nesse tipo de situação utilizando a prevenção como ferramenta de combate ao abuso infantojuvenil. “A OAB está sempre preocupada. Nós trabalhamos com a prevenção para que não ocorra esses casos. Estamos sempre indo das escolas, fazendo palestras, fazendo movimentos, incentivando e conscientizando as pessoas, as crianças, os adultos, para que caso ocorra algum imprevisto, entre em contato com os órgãos responsáveis.” declarou Luzinaide.

Representando a Ronda Escolar Portal do Sertão, a capitã da Polícia Militar, Nina Marques, falou com a reportagem do Acorda Cidade sobre a importância das redes de apoio participarem ativamente da campanha Maio Laranja.

“O Maio Laranja é o mês de prevenção e de combate ao abuso e exploração sexual infantil. E a rede de proteção à infância e adolescência pensou nesses eventos de forma a conscientizar pais e estudantes e toda a comunidade escolar sobre essa forma de violência, para que essas crianças e adolescentes entendam que é abuso, saibam como denunciar e para que os pais também possam identificar sinais de que suas crianças e adolescentes possam estar sofrendo algum tipo de abuso.”

Roda de conversa abuso sexual infantojuvenil- Ceep
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

A capitã ressaltou que os riscos estão em diversos lugares, na escola e fora dela. “87% das denúncias são de situações de abuso em que crianças ou adolescentes foram abusados por familiares ou amigos, pessoas conhecidas. Então é importante a gente ter um alerta também para esse ambiente doméstico. As famílias também, os pais também precisam ter atenção a isso.” 

A advogada Carla Dias, integrante da comissão de Direitos Humanos da OAB, também participou dessa roda da conversa no Ceep e acrescentou que esse olhar também deve ser levado para as relações do jovem com a internet.

“Muito importante, porque nós estamos aqui ajudando a sociedade a ter consciência também dos perigos do uso das telas, do contato com pessoas estranhas. Aquilo que os nossos pais diziam para a gente não andar com gente estranha, hoje as telas acabam sendo essa porta. E a criança e o adolescente que sofre, precisa da ajuda da sociedade para poder denunciar, porque muitas vezes não tem a consciência de que está passando por aquilo, mas alguém adulto próximo que tem um olhar mais apurado, percebe que essa criança está mais retraída, que ela não tem mais aquela mesma alegria que se via antes, e tem por obrigação denunciar no Disque 100.”

Liliane Carvalho, chefe da proteção básica da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Sedeso), destacou a preocupação que a sociedade precisa ter com este tema. “Infelizmente é uma data que a gente não pode comemorar. A gente busca sensibilizar, é uma data de luta, que é lembrada como uma luta mesmo. Infelizmente os índices têm aumentado cada vez mais. E os supostos agressores são pessoas cada vez mais próximas da família ou membros da família.”

Roda de conversa abuso sexual infantojuvenil- Ceep
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Sobre o trabalho da Sedeso em casos como esse, Liliane destacou que tudo é uma ação conjunta que envolve diversas instituições.

“A gente busca trabalhar também, não só na proteção básica, como também na proteção especial, que é quando já aconteceu a violação do direito. Mas a gente compõe a rede, junto com os conselhos tutelares, Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público, Ministério Público do Trabalho, Defensoria Pública, Conselho Municipal das Leis da Criança e do Adolescente, entre outras. E a rede, tanto pública como privada, a gente busca essa parceria. a Polícia Federal também, Polícia Rodoviária Federal, uma série de instituições que fazem parte desse sistema, são engrenagens desse sistema.”

Sinais comuns de exploração ou abuso infantojuvenil

A sexóloga Raquele Carvalho, que participou da roda de conversa, destacou em entrevista ao Acorda Cidade, os sinais que devem gerar alerta nos pais ou responsáveis.

Roda de conversa abuso sexual infantojuvenil- Ceep
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“É importante que a família esteja bem atenta quanto a mudança de comportamento. Porque quando a gente fala em exploração sexual, ela vem quando há uma moeda de troca. Então normalmente acontece que as crianças menores são coagidas muitas vezes a terem um comportamento para satisfação sexual do agressor”, informou.

Raquele falou sobre como os pais devem se atentar a rotina. “É importante que os responsáveis estejam acompanhando exatamente quais são os acessos, no caso da internet. Até aqueles joguinhos, muitos pedófilos se utilizam daquilo ali, de palavras que são muito comuns no meio deles para poderem aliciarem crianças. Então a gente precisa ficar atento no caso de adolescente também, que possa mudar um comportamento. A criança que já deixou de fazer xixi na cama de repente, volta a fazer;  lesões corporais na parte da genital e também no corpo todo; a criança tem resistência a entrar naquele determinado lugar. Outra possibilidade, ela não querer se aproximar de determinada pessoa que pode ser o agressor. Não quer dizer exatamente que ela esteja passando por um abuso, mas ali é um sinal que precisa ser investigado.”

O trabalho preventivo também pode ser decisivo no caso de situações que coloquem o público infantojuvenil em vulnerabilidade. “É também importante ensinar as crianças, em especial as crianças pequenas, de 3 a 5 anos, os limites do corpo dela. Ensinar quais são os espaços que supostamente podem ser tocados e quais são os espaços que não podem ser tocados.” orientou a sexóloga.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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