
A queda no interesse pelo curso de Engenharia tem gerado preocupação no setor educacional e no mercado de trabalho. Cidades como Feira de Santana, onde a construção civil segue em expansão, a falta de novos profissionais pode impactar diretamente no desenvolvimento da região. De acordo com a pesquisa divulgada pelo Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), apenas 12% dos estudantes do ensino médio têm interesse em cursar engenharia.
Para entender os motivos dessa baixa procura, o Acorda Cidade conversou com Camila Leal, coordenadora do curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Segundo ela, um dos fatores está relacionado à formação básica dos estudantes.
“Primeiramente, pode estar atrelada à base de conhecimentos em matemática, física, demais ciências exatas no Ensino Médio, que é fundamental para o início dos anos da graduação. Muitos alunos relatam que não se sentem seguros com disciplinas como matemática, física, cálculo. E isso pode gerar, acredito eu, um desestímulo na hora de escolher o curso.”
Outro ponto destacado pela coordenadora é a percepção de que a graduação é longa e exige muita dedicação, além da necessidade de muitos jovens buscarem adentrar o mercado de trabalho antes de investir em uma formação superior.
A graduação em engenharia dura, em média, 5 anos e pode se estender até 7 anos e meio, o que acaba desestimulando quem precisa ingressar mais cedo no mercado de trabalho, por exemplo, para ajudar financeiramente a família. “É um tempo que se a gente for comparar com outras graduações, acaba sendo realmente superior.”

“Existe uma percepção geral, talvez, da sociedade, de que é um curso pesado, que exige uma carga horária muito grande, que tem um trabalho prático muito grande, de estágio, e muitos acreditam que esse é um curso que vai levar muito tempo para ser concluído. Então, considerando que muitos estudantes do ensino médio pensam em uma inserção do mercado de trabalho mais imediata, eu acredito que essa migração para outras áreas que consigam dar um retorno talvez financeiro e um prazo de conclusão mais curto seja mais atrativo para os alunos.”
A queda no interesse não é recente e já se reflete no mercado de trabalho há alguns anos. Segundo Camila Leal, a partir do ano de 2014, já houve uma redução.
“Teve um ‘boom’ na engenharia em 2008, ainda estava bem alta, mas a partir de 2014, 2015, o número de ingressantes reduziu e esse reflexo vem 4 ou 5 anos depois com a conclusão do curso e a redução de egressos. Então, em 2018, 2019, o número de alunos que foram formados já está bem menor. E uma pesquisa que foi publicada recentemente aponta que apenas 12% dos estudantes de Ensino Médio têm interesse em cursar engenharia. Então é um número muito baixo, considerando que a média nacional era maior do que essa.”
Em países como Estados Unidos, Japão e nações da Europa, os números apontam valores superiores a 20%.

“Então a gente pode fazer uma associação que o número de engenheiros está diretamente relacionado com o desenvolvimento socioeconômico do país e que essa redução pode impactar diretamente nisso aqui na Bahia, em Feira de Santana e no Brasil como um todo”, acrescentou.
A falta de profissionais qualificados preocupa o setor da construção civil e áreas estratégicas da infraestrutura. A escassez compromete a inovação, a competitividade e o desenvolvimento econômico, afetando diretamente obras, saneamento e crescimento regional.

Mesmo com a queda no número de ingressantes, o mercado em Feira de Santana ainda absorve engenheiros recém-formados. Muitos alunos conseguem sair empregados, mas a coordenadora destaca que a remuneração inicial é baixa e exige paciência até alcançar salários compatíveis com o esforço do curso.
Por outro lado, a área de atuação do curso é ampla e oferece oportunidades diversas além da construção civil.
“A princípio, quando pensa em engenheiro civil, associa diretamente à parte de construção civil, que é a parte de condomínios, obra, edifícios, enfim. Mas aqui no nosso curso a gente considera a engenharia em cinco grandes áreas: construção civil, materiais de construção, saneamento, hidráulica, recursos hídricos, geotecnia, estruturas e transportes. Então é um campo muito amplo. Não limitamos apenas à atuação como engenheiro de obra, mas sim em vários outros locais específicos que estão diretamente relacionados ao desenvolvimento econômico do país.”
Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos canais no WhatsApp e Youtube e grupo de Telegram.