Acorda Cidade
Com o título “A feira de Feira de Santana: transformações e permanências”, o Museu Casa do Sertão da Uefs apresenta à comunidade aspectos sócio-culturais relacionados a um dos marcos mais emblemáticos da história de Feira de Santana, que se desenvolveu em torno da feira livre, e ainda hoje tem no comércio ao ar livre um dos pilares da dinâmica econômica. A exposição integra a programação do seminário “Repensar Feira – A Uefs e o Observatório da Cidade”, que acontecerá no campus da Universidade nos dias 04 e 05 de julho.
A antiga feira livre localizava-se nas principais artérias da cidade, a saber: cruzamento das Avenidas Senhor dos Passos e Getúlio Vargas, Rua Marechal Deodoro, Praças João Pedreira e da Bandeira, e as Rua Marechal Deodoro e Sales Barbosa. Nestas, o feirense e pessoas oriundas de vários municípios da região, compravam e/ou vendiam uma gama diversificada de mercadorias: calçados, roupas, cerâmicas, hortifrutigranjeiros, produtos de couro, carnes, móveis, etc. Existiam espaços nos quais tipos de produtos específicos eram agrupados, setorizando a feira em outras especializadas, como a “feira das panelas”, onde se vendiam cerâmicas utilitárias, a feira do couro, com a venda da dita matéria prima ou de artefatos produzidos a partir da mesma, ou, ainda, o Mercado Municipal – atual Mercado de Arte Popular – onde, comercializavam-se carnes, feijão, farinha, etc.
Para além do comércio tradicional de uma feira livre, na feira da Feira a polifonia cultural mantinha-se pela coexistência de sujeitos de classes sociais diferentes, com interesses e identidades distintos, que formavam uma algazarra no centro da cidade, trazendo em si aspectos culturais, mantidos pela tradição, forjados na lida diária, transformados pelo próprio cotidiano das relações sociais.
A feira livre era também um espaço festivo, pontilhado pela presença de cantorias de violeiros; “pregão” de cordéis; cantadores de coco, vai-e-vem de vaqueiros, sanfoneiros, artistas de circo, artesãos, propangadistas que imbuídos de malabarismos artísticos vendiam produtos e artefatos que prometiam verdadeiros milagres, na cura de doenças ou no combate a pragas de toda ordem. Feirantes, fregueses, atacadistas, visitantes, transeuntes, observadores promoviam o fervilhar da feira. Muitos destes vestiam-se especialmente, afinal nunca se sabia ao certo quem encontraria nesse dia, notadamente, na segunda-feira em Feira de Santana; embarque e desembarque de gente, apressada em resolver compromissos diversos, a feira era concomitamente, um espaço de negócios, de lazer, de interação, de conflitos… de ver e ser visto, numa convivência entre feirantes, compradores, comerciantes de lojas, visitantes, transeuntes em geral, Calçadas e ruas apinhadas de gente e mercadorias.
Contudo, sob os auspícios do projeto de modernização das décadas de 60 e 70, implementado pelos governos municipal, estadual e federal, no dia 10 de janeiro de 1977 a feira livre foi “retirada” oficialmente das ruas da cidade para um local dito adequado para uma cidade que almejava a industrialização.
A exposição A feira de Feira de Santana: transformações e permanências, visa apresentar aspectos da antiga feira livre na rua, com suas divisões, organização, principais produtos comercializados, o regionalismo e a diversidade de artefatos e gêneros alimentícios comercializados. A mostra consta de 22 fotografias do fotógrafo Antonio Magalhães que retratam o último dia da feira livre realizada no centro da cidade, e 67 de Nei Rios que flagram permanências das tradições comerciais da cidade nas principais ruas do centro urbano, bem como a realização das feiras livres de bairros, como no Tomba, Estação Nova, Sobradinho e Cidade Nova.
A exposição ainda apresenta uma pequena mostra de objetos comercializados no entreposto comercial, cedidos pela Associação dos Artesãos do Centro de Abastecimento, bem como peças do acervo do MCS/Uefs.
Numa análise sobre a exposição o professor Clóvis Ramaiana sintetiza que “os dois tempos vistos na exposição: o de antes do fim e os depois do fim; o das imagens em preto-e-branco e o das coloridas; o analógico e o digital formam um mosaico de experiências retiradas de seus habitats e, sendo assim, se oferecem, generosas, para que as gentes dos hojes rememorem a trajetória da única coisas em comum nos dois conjuntos temporais: a resistência do povo que labuta diante dos ditames dos poderes públicos”.
Serviço
Período da Exposição: 03 de julho a 15 de dezembro de 2017
Horário de atendimento: Segunda: 14:00 as 17:30 h e Terça a sexta 8:15 as 11:30 e 14:00 as 17:30
Endereço: Museu Casa do Sertão. Campus Universitário. Av Transnordestina, Bairro Novo Horizonte – Feira – Bahia. Tel. 75.3161.8750 / 8751 / 8752
e-mail: [email protected]