Acorda Cidade
 
A polícia permitiu a entrega apenas de objetos e documentos de pessoas feridas. Não houve uma explicação oficial para a retenção dos documentos das vítimas, o que causou revolta em familiares dos mortos.
 
Tarso Dutra dos Santos conseguiu recuperar cartões bancários, documentos, dinheiro e os últimos objetos usados pela filha Taíse, 23 anos, na madrugada de domingo, como o batom que ela usava na festa. O pai deixou a filha e mais três amigas na porta da boate e nunca mais a viu com vida. "Eu não gostava que ela fosse na boate, preferia que frequentasse outros clubes. Mas todo mundo ia ali, então ficava difícil impedir", relatou Santos.
 
Além da filha, duas das três amigas que foram junto com ela à boate morreram no incêndio. A outra amiga está internada em Porto Alegre, em estado grave. A polícia distribuiu senhas e a demora pelo atendimento dos familiares dos feridos podia chegar a três horas.
 
Rogier Rosado também conseguiu buscar os documentos do filho Vinícius, 26, que morreu na operação de resgate das vítimas. A irmã Jessica, 24, conseguiu se salvar. "É um pesadelo que não acaba nunca. Se não fosse o trabalho do meu filho e de vários outros, a tragédia teria sido muito maior. Espero que a morte de 235 jovens não seja em vão", disse Rosado.
 
Em alguns casos, quem buscou os objetos foram tios ou amigos porque os pais não conseguiram encarar novamente a morte dos filhos. A professora Ana Paula Bettega tentou resgatar a bolsa da sobrinha e afilhada Daniela, 19, mas foi orientada a voltar à tarde. Quando retornou à delegacia, foi comunicada que as entregas haviam sido suspensas. "É um sofrimento sem fim. Além de perder pessoas queridas, ainda tem esse vaivém em busca de coisas simples, pequenas. Não para entender porque não devolvem logo e não acabam com isso", desabafou.
 
O irmão do gaiteiro Danilo Brauner, que morreu no incêndio, também não conseguiu recuperar o instrumento usado na festa de sábado. Segundo Bruno Brauner, a polícia não explicou porque precisava do objeto. Na quarta-feira, ele havia ido três vezes à delegacia para resgatar o instrumento, sem sucesso. "Fazia dois meses que ele tinha adquirido a gaita. Eu vi o instrumento, está novinho, intacto. Não sei no que poderá ajudar a polícia. Para nós é importante, é uma lembrança dele que queremos preservar", disse.
 
No final da tarde desta quinta-feira, Bruno e o pai, Daniel, conseguiram sair da delegacia com a gaita de Danilo. As informações são do Correio.