Brasil

PF assume investigação sobre incêndio que atingiu acervo histórico de filmes da Cinemateca

Polícia Federal pediu apoio a peritos do RJ para ajudarem na apuração sobre as causas e eventuais responsabilidades pelo fogo que atingiu o galpão da Cinemateca Brasileira.

PF assume investigação sobre incêndio que atingiu acervo histórico de filmes da Cinemateca PF assume investigação sobre incêndio que atingiu acervo histórico de filmes da Cinemateca PF assume investigação sobre incêndio que atingiu acervo histórico de filmes da Cinemateca PF assume investigação sobre incêndio que atingiu acervo histórico de filmes da Cinemateca

Acorda Cidade

A Polícia Federal (PF) assumiu nesta sexta-feira (30) a investigação sobre as causas e eventuais responsabilidades pelo incêndio que atingiu o galpão da Cinemateca Brasileira, na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo, na quinta-feira (29). O prédio foi interditado. Não houve vítimas, mas parte do acervo histórico de filmes foi atingido. Antes, o caso era investigado pela Polícia Civil.

O pedido para a PF apurar o caso foi feito pela Secretaria Especial da Cultura, responsável por administrar o galpão da Cinemateca. O motivo é que o local pertence ao governo federal. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo confirmou que a Polícia Civil deixou a apuração com a Polícia Federal.

A PF em São Paulo já abriu procedimento para investigar o incêndio na Cinemateca. Num primeiro momento, peritos do Instituto Nacional de Criminalística especializados em incêndios devem participar dos trabalhos. A PF também pediu apoio à perícia do Rio de Janeiro, que participou das investigações sobre o incêndio que atingiu o Museu Nacional, em 2018.

"A SSP informa que o caso foi encaminhado para a Polícia Federal que prosseguirá com as investigações. O Corpo de Bombeiros realizará nesta sexta-feira (30), fiscalização no local para constatar se o imóvel estava dentro das normas", informa o comunicado da pasta da Segurança do governo paulista.

Ainda na quinta-feira, a Secretaria da Segurança Pública havia divulgado uma outra nota à imprensa informando que, antes de o galpão ser atingido pelas chamas, o local possuía certificação dos Bombeiros, o chamado Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). O documento é usado para informar que um prédio possui equipamentos de segurança contra incêndio e pânico, previstos na legislação.

No último dia 20, o Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP) alertou o governo federal, responsável pela Cinemateca, para o risco de incêndio no local. O incêndio ocorreu nove dias depois

Nesta sexta-feira (30), os Bombeiros divulgaram nota para informar que, após o fogo no galpão da Cinemateca, irão ao local fiscalizar se ele estava mesmo regularizado e seguindo as recomendações de segurança contra incêndio.

Investigação: fogo no ar-condicionado

A investigação inicial feita pela Polícia Civil seguirá para a Polícia Federal, também em São Paulo. Peritos policiais federais deverão ir ao galpão da Cinemateca para analisar o local que foi atingido pelas chamas.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, o fogo começou em um ar-condicionado de uma das salas que fica no primeiro andar. O aparelho passava por uma manutenção feita por empresa terceirizada contratada. Uma faísca teria dado início ao fogo, e a equipe não conseguiu controlá-lo.

Somente após a saída dos bombeiros do prédio é que a Defesa Civil poderá ir ao local para avaliar se a estrutura sofreu danos e se corre algum risco de desabar.

A Secretaria Especial da Cultura, que é subordinada ao governo federal, informou por nota 'lamentar profundamente' o episódio. O mesmo galpão já foi atingido por enchentes em 2020.

Até a última atualização desta reportagem a pasta federal não havia informado o que foi destruído pelas chamas na Cinemateca. No prédio, ficavam gravados 1 milhão de documentos da antiga Embrafilme, como roteiros, artigos em papel, cópias de filmes e documentos antigos. Alguns tinham mais de 100 anos e seriam usados na montagem de um museu sobre o cinema brasileiro.

Apesar de o AVCB dos Bombeiros garantir que o galpão da Cinemateca estava segura em relação a incêndios, o Ministério Público Federal alertou o governo federal sobre o risco de incêndio no local em razão de os filmes serem de nitrato, material combustível.

O risco de incêndio foi observado também na sede da Cinemateca, na Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo.

A audiência faz parte de ação do MPF contra a União por abandono da Cinemateca. Na sessão realizada pela Primeira Vara Federal participaram os procuradores da República, representante da associação de moradores da Vila Mariana, um advogado da União, o secretário adjunto da Secretaria Especial de Cultura, a Diretora de Departamento de Políticas Audiovisuais e a Associação Paulista de Cineastas.

O documento diz ainda que alguns pontos da audiência anterior, em maio, foram cumpridos, e outros ainda estão em andamento. O governo federal tinha 45 dias, até o início de julho, para mostrar ações implementadas pela preservação do patrimônio.

O MPF já alertava a Justiça sobre as condições precárias da Cinemateca e também sobre o risco de incêndio do acervo desde julho de 2020. Segundo o procurador, o governo iniciou o processo de chamamento de uma nova entidade para gerir a Cinemateca e a contratação emergencial de uma empresa para cuidar do local. No entanto, a Procuradoria critica a demora no processo.

Em nota, a Secretaria Especial da Cultura informou que "todo o sistema de climatização do espaço passou por manutenção há cerca de um mês como parte do esforço do governo federal para manter o acervo da instituição. A Secretaria já solicitou apoio à Polícia Federal para investigação das causas do incêndio e só após o seu controle total pelo Corpo de Bombeiros que atua no local poderá determinar o impacto e as ações necessárias para uma eventual recuperação do acervo e, também, do espaço físico. Por fim, o governo federal, por meio da Secretaria, reafirma o seu compromisso com o espaço e com a manutenção de sua história".

Crise

Funcionários e entidades realizaram diversos protestos no ano passado, denunciando que a instituição passava pela maior crise desde a sua fundação, em 1946, sem recursos para o básico, incluindo atrasos em salários, contas de água e energia, fim do contrato com a brigada de incêndio e com a equipe de segurança. 

O governo federal informou que atendeu às medidas determinadas pelo Tribunal Regional Federal da 3a Região (TRF-3), pois realizou os contratos emergenciais com brigadistas, vigilantes e para manutenção predial, acrescentou que outros contratos estão em fase de pregão e que está em vias de contratar uma nova gestora, recontratar 42 funcionários e restabelecer um conselho deliberativo. Por este motivo, propôs ao MPF que encerrasse o processo movido.

O MPF propôs, então, que antes de falar em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e conclusão do processo, o governo comece comprovando a implementação desses serviços emergenciais, e que também apresente um cronograma para a recontratação de antigos funcionários técnicos, para a contratação de uma nova gestora e para a recomposição de um conselho, com representantes da sociedade civil e da categoria audiovisual.

Entenda

O contrato para gestão da Cinemateca firmado entre o governo federal e a Organização Social (OS) Associação Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp) terminou no dia 31 de dezembro de 2019 e, desde então, não houve nova licitação.

A Cinemateca, no entanto, continuou sendo mantida de forma improvisada pela equipe técnica, sob gestão da Acerp, que continuou no local para não abandoná-lo, mesmo sem os recursos e salários.

Em julho, funcionários da OS chegaram a impedir o acesso de uma comitiva oficial do Ministério do Turismo, a quem a Secretaria da Cultura foi incorporada, que registrou um boletim de ocorrência. Mário Frias assumiu como secretário de cultura e enviou um ofício para a Acerp solicitando que entregasse as chaves da Cinemateca.

Desse modo, sete meses após o fim do contrato, o governo federal assumiu a gestão do local, e funcionários foram demitidos pela OS, que não tinha como manter e pagar um corpo técnico altamente especializado.

O Ministério Público Federal entrou com uma ação na Justiça contra a União por abandono da Cinemateca Brasileira. Na ação, o MPF pediu à Justiça Federal que determinasse à União a renovação emergencial do contrato com a Acerp, a permanência do corpo técnico e um plano de gestão para a Cinemateca durante 2020.

Em agosto, a Justiça Federal indeferiu o pedido, pois analisou a documentação enviada pelo governo federal, e considerou que havia elementos que indicavam a tomada de providências emergenciais e que "não é função do Poder Judiciário dizer com quem deve a administração pública celebrar seus contratos".

A decisão dela foi de que as partes do processo buscassem uma solução amigável, conforme o Novo Código de Processo Civil.

O MPF recorreu da decisão ao TRF-3. Em dezembro, a Justiça Federal atendeu parcialmente ao pedido e determinou a contratação de brigadistas e regularização do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros, o pagamento de conta da energia elétrica, da manutenção predial e da vigilância até fevereiro, sob pena de multa de R$ 5 mil por dia de atraso.

Fonte: G1