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Fugindo da guerra civil na Síria, o funcionário público Hazem Alyounes, 42 anos, veio para o Brasil em busca de emprego e, como não encontrou trabalho, planejava ir para a Europa. O sírio foi preso no aeroporto de Salvador antes de embarcar em março deste ano. Hazem estava com outros cinco conterrâneos e, desde então, permanece na capital baiana sem poder retornar para casa.
Hazem e outros dois sírios – o comerciante Mehy Eddin Yousef e o farmacêutico Rami Saltouf – estão há quase seis meses abrigados na sala onde funciona a biblioteca do Centro Islâmico da Bahia, localizado no bairro de Nazaré. Eles ficaram presos por quatro dias, mas foram soltos e, agora, aguardam decisão judicial em liberdade provisória, sem poderem sair do país. Os outros três imigrantes foram para o Rio de Janeiro.
De acordo com a Polícia Federal, após a finalização do inquérito que envolve o flagrante dos sírios, o documento foi encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF), mas retornou para que algumas diligências complementares solicitadas fossem realizadas. Ainda conforme a PF, as diligências estão sendo realizadas e, depois, o inquérito será remetido novamente ao MPF. Segundo o site G1, o Ministério informou que aguarda o retorno do inquérito após as diligências por parte da PF.
Hazem deixou os familiares na Turquia com a promessa de que retornaria para buscá-los após arrumar um emprego, o que não aconteceu. Na Síria, perdeu um irmão de 17 anos, no ano passado, morto após ser atingido por uma bomba durante o conflito. "A situação lá [na Síria] está muito complicada. Vivemos um momento de matança e muita bomba. Todo mundo está querendo fugir de lá”, afirma.
“Até chegamos a pensar em sair do país usando um barco e ir direto para a Europa, mas, como muita gente está morrendo, ficamos com medo", diz. Desde janeiro desse ano, mais de 350 mil imigrantes atravessaram o Mediterrâneo e mais de 2.643 pessoas morreram no mar quando tentavam chegar à Europa.
Segundo o coordenador do Centro Islâmico da Bahia, Sheikh Abdul Hameed Ahmad, que recebeu os imigrantes, o grupo foi convencido de que o Brasil era bom e que eles iriam arrumar emprego. “Falaram que a vida social aqui era boa e que a economia era forte, mas, quando chegaram, perceberam que não é bem assim como diziam", destacou.
A diretora social do Centro, Cristina Mendonça, esclarece que o espaço onde os imigrantes estão alocados não é confortável, o grupo está na sala da biblioteca. "É preciso conseguir um espaço maior. A comunidade islâmica contribui com alimentos, mas é preciso mais doações. Os familiares e amigos deles mandam dinheiro para ajudar, mas é pouco para sobreviverem”, diz.
Mais de 240 mil pessoas, entre elas 12 mil crianças, morreram na Síria desde 2011, ano em que estourou a guerra civil no país. Em 2015, a guerra completou quatro anos de conflitos entre tropas leais ao regime, grupos rebeldes, forças curdas e organizações jihadistas, entre elas, o Estado Islâmico.
Estimativas da ONU apontam que mais de 7 milhões de sírios abandonaram suas residências dentro do país e quase 60% da população vive na pobreza. Os números refletem na alta taxa de emigração do país – cerca de 4 milhões de refugiados sírios, a maior população de refugiados do mundo. Essa já é considerada a pior crise de refugiados desde 2ª guerra, segundo organizações como a Anistia Internacional e a Comissão Europeia.