Brasil

Jornalista avalia 31 anos sem Ditadura: poucos avanços, alguns retrocessos e futuro incerto

Em entrevista ao Acorda Cidade nesta terça-feira (15), data que rememora o histórico 15 de março de 1985, Glauco Wanderley declarou que é frustrante não ver as condições de vida da população em geral melhorar.

Orisa Gomes

Há exatos 31 anos o Regime Militar deu lugar à Nova República. A reviravolta política encheu o coração dos brasileiros de esperança em dias melhores e, ainda hoje, continuamos esperando esses dias chegarem. A avaliação é do jornalista Glauco Wanderley, que em plena juventude, com 17 anos, testemunhou o fim da sucessão de militares no poder e agora, mais de três décadas depois, com quase 50 anos, lamenta os poucos avanços e até retrocessos do país.

Em entrevista ao Acorda Cidade nesta terça-feira (15), data que rememora o histórico 15 de março de 1985, o jornalista declarou que é frustrante não ver as condições de vida da população em geral melhorarem, diferente de outros países que em períodos menores tiveram evoluções significativas. “Aqui no Brasil, com tanto potencial, uma das maiores economias do mundo, estamos mais ou menos do mesmo jeito que a gente estava no tempo em que acabou aquela maldita e infeliz Ditadura Militar”, lamenta.

Resistência a mudanças

Entre as razões para os poucos avanços, Glauco aponta para a resistência do brasileiro a mudanças. Ele lembra que José Sarney assumiu o poder após falecimento de Tancredo Neves, o primeiro presidente eleito através do voto. A gestão de Sarney, avalia, foi um desastre total e, ainda assim, após deixar a presidência, ele seguiu no poder, ocupando diferentes cargos políticos até os dias atuais. O mesmo aconteceu com Fernando Collor, sucessor de Sarney, que perdeu a presidência após impeachment, mas voltou a se eleger para outros cargos e hoje é senador. “As pessoas são sempre as mesmas. Quando o PT se elegeu, pensamos: ‘agora vai mudar!’, mas o PT se aliou também a Collor, Sarney, Jader Barbalho (senador)… e a gente continua na mesma há 31 anos”, reforçou.


Educação entre as piores, violência ascendente, Aedes que evolui 

No que diz respeito a educação, o jornalista Glauco Wanderley observa que quando a Ditadura acabou o Brasil já estava entre os piores do mundo na área e manteve-se no ranking. Se por um lado a mortalidade infantil diminuiu, iniciando os índices positivos no governo Fernando Henrique e expandindo no governo Lula, por outro, a violência cresceu assustadoramente e “o garoto que escapou de morrer de doenças banais quando era criança, hoje morre a bala”. Já o mosquito Aedes aegypti, satiriza o jornalista, evoluiu mais que os brasileiros. “Em 1985 já tinha epidemia de dengue no Rio de Janeiro e foi se espalhando Brasil a fora. Não tomaram as devidas providências e hoje, além da dengue, temos a zika, chikungunya e guillain-barré. Vamos torcer para que não venham mais doenças e para que a muriçoca não passe a transmiti-las”, ressaltou.

Operação Lava Jato

Em avaliação aos acontecimentos políticos atuais, que passam pela Operação Lava Jato, Wanderley observou que há muitos aspectos positivos, embora algumas objeções devam ser consideradas, a exemplo de um possível abuso de prisões. Em contraponto, acredita ele, é animador para os brasileiros verem os maiores empresários do país na cadeia, sendo que todos sabem “que o esquema aí sempre foi esse”. “E agora parece que está mudando. Será? Tomara que esteja mesmo!”, exclamou ressaltando que Lava Jato é uma operação que tem o Ministério Público Federal e Polícia Federal atuando intensamente nas investigações e levando os resultados para um juiz que decide. Mas o ideial, afirma, é ter um sistema em que o “cara tenha medo de fazer besteira e ir para a cadeia”.

A saída

“Quem sabe dizer qual a saída para esse ‘caos’ que os brasileiros estão vivendo?” A pergunta foi feita pelo próprio jornalista Glauco Wanderley, que também não tem a milagrosa resposta. Mas de um aspecto ele diz estar certo: “A saída terá que ser coletiva”. “Não podemos acreditar que esses políticos vão, por livre e espontânea vontade, começar a fazer mudanças. Se a população não se organizar, se as manifestações não continuarem nas ruas e se intensificarem, não teremos mudanças”, pontuou.