Daniela Cardoso e Ney Silva

A relação entre índios e a sociedade brasileira na produção literária, foi tema da palestra proferida nesta quinta-feira (17), pela doutora em teoria literária Rita Olivieri-Godet. O evento, promovido pelo Programa de Pós-graduação em Estudos Literários da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) teve a participação de estudantes e professores de cursos como história e literatura. Rita Olivieri, que trabalhou na Uefs como professora durante 17 anos e atualmente é professora de uma universidade na França, explica o objetivo desse tema.

“É um tema que eu venho trabalhando há 10 anos e o objetivo é divulgar a questão da representação dos índios na literatura brasileira. Eu não sou socióloga, nem historiadora, nem antropóloga. Sou professora de literatura e trato do tema dos índios a partir do que os escritores escrevem. Hoje foi abordado o jornalista e escritor Antônio Calado, então eu trabalho com romances, mas, sobretudo com crônicas inéditas desse escritor, onde ele trata da temática dos índios nos anos 70 a 90. Muitas dessas questões que são levantadas continuam a fazer parte do nosso cotidiano no Brasil”, afirmou.

De acordo com a professora, cada povo indígena tem sua história e sua luta própria, mas ela destaca que o mais urgente neste momento é a tentativa de retirar do executivo a demarcação das terras dos índios e transferir para o poder legislativo, através da Pec 215, que ela considera uma grande ameaça de retrocesso.

Sobre a possibilidade dos índios desaparecerem, Rita Olivieri-Godet diz que isso trata-se de um mito. Ela lembra que os indígenas são descriminados, mas que eles estão para mostrar que podem ser exemplo para nossa sociedade tomar outro rumo.

“Os índios foram massacrados, sobreviveram, eram mais de 8 a 10 milhões e hoje são cerca de 800 mil. Mas se a gente compara a população indígena nos anos 70 com a população indígena hoje, mostra que aquela ideia de que o índio pertence ao passado é uma mentira. O índio é nosso contemporâneo e talvez seja o nosso futuro. A maneira como eles se relacionam com o mundo em si tem muito a nos ensinar”, destacou.