Naiara Moura

Nesta sexta-feira, 20 de novembro, é comemorado o Dia da Consciência Negra. Embora muitas vezes ignorada pela sociedade, a discriminação racial ainda está muito presente no nosso dia a dia, como relata a empresária soteropolitana Sauanne Bispo, proprietária de uma agência de intercâmbios em Feira de Santana. Em entrevista ao Acorda Cidade, ela falou com alegria das viagens que já fez pelo mundo, como também das experiências negativas que viveu por conta do preconceito racial, tanto no Brasil como em outros países, a exemplo da Rússia.

“Eu fui trabalhar em uma conferência e passei dois meses em Moscou. As pessoas não sentavam do meu lado no metrô, e elas não riam de mim na rua, elas gargalhavam de mim nas ruas. Homens saíam do carro já com dinheiro na mão, achando que eu era prostituta e não importava a hora ou o tipo de roupa (o que não justificaria de qualquer forma)”, relata.

Segundo a empresária do ramo de intercâmbios, no tempo livre que tinha em Moscou, ela ia para a biblioteca e as pessoas ficavam surpresas, “com o fato de uma mulher negra estar frequentando a biblioteca”, diz. Ela conta que trabalhou com pessoas de mais de 20 nacionalidades para receber 800 pessoas vindas de 117 países.

“Uma vez, caminhando com amigos brancos, um russo me falou assim: ‘eu nunca imaginei que uma pessoa negra andasse com pessoas brancas, porque aqui a gente aprende desde pequeno que não se mistura, que nem cachorro’”, narra.

Foto: Reprodução/Facebook 

Para Sauanne, na Rússia a situação era até “compreensível”, “porque eles são preconceituosos até com quem é do sul do país que já tem uns traços mais orientais”. O que ela não consegue entender é esse tipo de situação aqui no Brasil.

Ao iniciar a empresa em Feira, ela conta que foi a uma panificadora solicitar um coffee break temático, envolvendo nacionalidades. Ela se dirigiu à atendente no caixa e pediu para falar com o responsável; enquanto a atendente foi chamar um responsável, ela pediu um suco.

“A menina olha pra mim e fala: ‘ela não vai poder te atender, deixa seu currículo comigo que eu entrego a ela’. E eu só estava com a carteira na mão. Eu respondi que não era currículo e ela disse: ‘ah, eu pensei que fosse”, conta.

“Eu respondi: vamos aproveitar que você pensa e não vamos perder o fio da meada. Vamos visualizar a situação: eu entro aqui com a mesma roupa e falo as mesmas coisas pra você, só que eu sou loirinha dos olhos azuis. Você vai imaginar que eu iria entregar um currículo? Ela disse: ‘só um momentinho que eu vou chamar o responsável’. Eu disse: ‘não, não chame não, minha linda. Senão quem vai ter que entregar currículo é você. Isso foi grave, você perde seu emprego’”, descreve.

Sauanne relata todas as histórias de forma risonha e acrescenta que a graça está na sutileza. “Porque quando a gente eleva o tom da voz a gente perde a razão. Ninguém vai mais escutar o que você está falando, a pessoa só está vendo uma pessoa barraqueira, falando um monte de besteira por mais que você esteja falando algo devido”, observa.

“Então eu rio porque eu falo: nossa, o pior que você pode falar de mim é um fator biológico, não é sobre o meu caráter ou a minha índole. Você está falando de uma coisa que eu nasci com ela, não foi uma coisa que eu transformei e não é uma coisa ruim, uma coisa ruim pro seu ponto de vista. Da mesma forma que a sua biologia pode ser ruim pra mim também”, finaliza.

Campanha Novembro pela Igualdade Racial

Reafirmar a necessidade do diálogo acerca do racismo, enraizado na sociedade brasileira, e mostrar a importância das ações e políticas de promoção da igualdade racial. Com esses objetivos, o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos lançou na segunda-feira (16) a campanha “Novembro pela Igualdade Racial” na abertura da Semana Nacional da Consciência Negra.

De acordo com a ministra Nilma Lino Gomes, a iniciativa da campanha envolve toda a sociedade brasileira e o governo federal no sentido de superar o racismo e aprimorar a democracia.

“O 20 de novembro é um dia para ser comemorado, celebrado e também deve ser um dia de reflexão, no qual a sociedade brasileira como um todo poderá discutir sobre os avanços e desafios da superação do racismo no Brasil. E é nesse momento de reflexão que o governo federal lança a campanha “Novembro pela Igualdade Racial”. Esta é a primeira vez que, de forma articulada, todos os ministérios comemoram a data, que é importante não somente para a população negra, mas para todos os brasileiros. A luta pela superação do racismo aprimora a democracia e deve ser um dever público e ético de toda cidadã e cidadão brasileiro”, considera a ministra.

Com informações do repórter Danillo Freitas do Acorda Cidade